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Rússia e Belarus

Exclusão por antecipação

Por
Marcio Antonio Campos
15/07/2022 12:00 - Atualizado: 04/10/2023 20:12
O russo Alan Khubetsov (de azul) enfrenta o belga Matthias Casse (de branco) durante os Jogos Olímpicos de Tóquio: judô é um dos poucos esportes em que russos ainda podem competir como independentes.
O russo Alan Khubetsov (de azul) enfrenta o belga Matthias Casse (de branco) durante os Jogos Olímpicos de Tóquio: judô é um dos poucos esportes em que russos ainda podem competir como independentes. | Foto: Rungroj Yongrit/EFE/EPA

A corrida para Paris-2024 ainda nem começou para a maioria dos esportes, e já estão falando no que fazer com os russos e bielo-russos. O caso mais recente foi o de Sir Craig Reedie, ex-presidente da Agência Mundial Antidoping e membro honorário do Comitê Olímpico Internacional, que defendeu a proibição completa de participação de atletas dessas duas nacionalidades. Presidentes de federações esportivas russas reagiram soltando os cachorros, como era de se imaginar.

Reedie apenas manifestou uma opinião pessoal. Ele já foi vice-presidente do COI, mas seu mandato terminou em 2016; hoje, ele nem mesmo é membro ativo da entidade. Dá quase para colocar essa posição lado a lado com a de Anne Hidalgo, prefeita de Paris, mas que não tem nenhuma autoridade sobre os Jogos Olímpicos em si; até agora, a voz que tem mais peso a favor do banimento foi a de Tony Estanguet, presidente do comitê organizador de Paris-2024. Mas Estanguet – dono de três ouros olímpicos na canoagem slalom – fez uma ressalva que coloca as coisas em alguma perspectiva: ainda é muito cedo para decidir qualquer coisa a esse respeito.

O argumento de que “ainda temos dois anos até lá”, no entanto, também não é totalmente matador. Várias modalidades têm regras de classificação que consideram resultados de competições que ocorrem já em 2022 – o Mundial de ginástica artística em Liverpool, por exemplo, já classifica três equipes no masculino e três no feminino; o resto das vagas será preenchido em outubro do ano que vem, no Mundial que ocorrerá na Bélgica.

As autoridades esportivas internacionais conseguiram a proeza de fazer a coisa errada com a Rússia duas vezes. Na primeira, foram lenientes demais; na segunda, duras demais

Isso não deveria ser um problema se todas as federações esportivas estivessem fazendo o que seria normal nesses casos: deixar os russos e bielo-russos competindo com bandeira neutra nas modalidades individuais, proibindo apenas a participação de equipes, como é de praxe quando um comitê olímpico nacional está suspenso. Mas não é o que tem ocorrido: a maioria delas proibiu completamente a presença de atletas desses dois países; federações como as de tênis e judô são uma minoria. E, assim, a confusão está feita. Vamos supor que a guerra se resolva no comecinho de 2024, removendo o obstáculo diplomático para termos delegações de Rússia e Belarus em Paris; mesmo assim, em vários esportes os atletas desses países já terão perdido competições que serviriam como qualificatórias, ou que renderiam pontos para rankings, e será tarde demais para recuperar o terreno perdido. No máximo, os russos e bielo-russos poderão ganhar algumas vagas de universalidade, mas serão poucas e não para todos os esportes em que eles teriam representantes em condições normais.

As autoridades esportivas internacionais conseguiram a proeza de fazer a coisa errada com a Rússia duas vezes. A primeira, quando mantiveram aquelas farsas de “Atletas Olímpicos da Rússia” e “Comitê Olímpico Russo” em vez de banir o país por causa do megaesquema de doping e fazer os atletas competirem como independentes apenas nas modalidades individuais, com bandeira e hino olímpico e uniforme neutro (já pensaram? O 20 a 12 não teria ocorrido...). A segunda, quando foram pro outro extremo e resolveram proibir completamente a participação de atletas russos, até mesmo como independentes, por uma razão que não tem a ver com o esporte e que até agora jamais havia sido alegada para uma medida tão severa. Conseguiram criar uma bagunça que agora ninguém sabe ao certo como consertar, ao menos enquanto a invasão russa não terminar.

Wimbledon deu com os burros n’água

Falando nisso, a organização de Wimbledon proibiu os russos e bielo-russos de competirem, mesmo com bandeira neutra, falaram em medo de Vladimir Putin usar como propaganda a foto de um russo recebendo a taça das mãos um membro da família real caso saísse vencedor... só não contaram com Elena Rybakina, do Cazaquistão, que levou o torneio de simples feminino e teve a duquesa de Cambridge participando da cerimônia de premiação. Detalhe: Rybakina é russa, mora em Moscou e só joga pelo Cazaquistão porque a federação daquele país oferece um bom apoio financeiro para que ela possa treinar. Parabéns aos envolvidos.

Mundial de Atletismo em Tóquio

A World Athletics bateu o martelo e o Mundial de Atletismo de 2025 será em Tóquio. Cantei essa bola no encerramento dos Jogos do ano passado, quando defendi que o máximo possível de mundiais fosse levado para lá o quanto antes, como forma de compensar o público japonês pelo sacrifício de deixar as arenas e estádios olímpicos vazios.

Estão deixando a gente sonhar

No fim do mês passado, Marcus D’Almeida venceu de forma
espetacular a etapa parisiense da Copa do Mundo de tiro com arco, derrotando
três campeões olímpicos. Hugo Calderano segue em quarto lugar no ranking
mundial do tênis de mesa (ou seja, o melhor mesatenista não chinês do mundo). Será
que podemos começar a imaginar que em Paris poderemos ter medalhas em
modalidades nas quais nunca subimos ao pódio?

Sem contar com Ana Marcela destruindo na maratona aquática,
Alison dos Santos vencendo prova atrás de prova nos 400 com barreiras, Thiago
Braz faturando medalhas no salto com vara...

O Vaticano emplaca um top 10

Nem só de Jogos Olímpicos, Pan, Jogos Asiáticos e outras
megacompetições vive o mundo dos eventos multidesportivos. Tivemos recentemente,
por exemplo, os primeiros Jogos do Caribe, na dependência francesa de
Guadalupe; e os Jogos do Mediterrâneo, em Oran, na Argélia. Ano que vem meus
amigos cambojanos sediarão pela primeira vez os Jogos do Sudeste Asiático, e as
Ilhas Salomão recebem os Jogos do Pacífico, apenas para as pequenas nações
insulares da Oceania.

E foi em Oran que, pela primeira vez na sua curta história, o Vaticano conseguiu um top 10. Sara Carnicelli terminou a meia maratona em nono lugar, com 1h17min21s, três minutos e meio atrás da medalhista de ouro, a italiana Giovanna Epis. A história da Athletica Vaticana você conheceu aqui no Papo Olímpico um pouco antes do início dos Jogos de Tóquio, e desde então o “comitê olímpico vaticano” já foi reconhecido por outras federações esportivas internacionais, como a World Taekwondo e a União Ciclística Internacional.

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