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Rússia e Belarus

Thomas Bach se enfiou num buraco e não sabe como sair dele

Por
Marcio Antonio Campos
20/10/2022 19:54 - Atualizado: 04/10/2023 19:55
O presidente do COI, Thomas Bach (à esquerda), e o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol (ao centro), cumprimentam participantes da Assembleia Geral da Anoc, em Seul.
O presidente do COI, Thomas Bach (à esquerda), e o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol (ao centro), cumprimentam participantes da Assembleia Geral da Anoc, em Seul. | Foto: EFE/EPA/Yonhap South Korea

O presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas
Bach, discursou nesta quarta-feira, dia 19, durante a Assembleia Geral da
Associação dos Comitês Olímpicos Nacionais (Anoc), em Seul, na Coreia do Sul. Boa
parte de sua fala girou em torno da situação dos atletas russos e bielo-russos,
que seguem impedidos de competir em praticamente todas as modalidades. As
palavras de Bach, no entanto, me deixaram com a impressão de que a coisa
escapou completamente do seu controle e que o COI já não tem muita ideia do que
fazer para restaurar alguma normalidade à situação.

Houve uma certa insatisfação entre alguns dos comitês olímpicos
nacionais (CONs) – especialmente o da Dinamarca, que acabou deixando o evento –
a respeito da participação das entidades russa e bielo-russa. A questão é que
nenhum dos dois CONs chegou a ser suspenso pelo COI por causa do ataque à
Ucrânia, e por isso, teoricamente, poderiam participar do evento da Anoc; de início,
suas mesas nem tinham as bandeirinhas nacionais, que foram colocadas
posteriormente. E, por mais que eu considere a invasão russa uma barbaridade, e
por mais que o presidente do Comitê Olímpico Russo seja um fanboy do
Putin a ponto de dizer que os atletas russos deveriam ter orgulho de ir lutar
na Ucrânia caso fossem convocados, acho que não suspender os comitês nacionais neste
caso é a decisão certa. Eles deveriam ser suspensos apenas por questões ligadas
ao esporte ou à gestão esportiva, como ingerência governamental ou...
megaesquemas de doping (então sim, a Rússia deveria estar suspensa, mas não por
causa da guerra
).

O problema é que, enquanto as entidades esportivas continuam gozando integralmente de seus direitos dentro do Movimento Olímpico, os atletas estão ferrados, proibidos de participar de competições por orientação do próprio COI! E a explicação que Bach deu para isso em seu discurso é surreal. Segundo ele, havia grande possibilidade de os governos que estão impondo sanções à Rússia e à Belarus impedirem a participação de atletas desses países em competições, “minando nossa autonomia ao decidir quem teria permissão para participar”; outra ameaça era a de que atletas se recusassem a jogar contra russos e bielo-russos, em um boicote semelhante ao que Israel costuma sofrer. Diante disso, para “proteger os atletas” (!!!), o COI mesmo tomou a iniciativa e pediu às federações internacionais que banissem russos e bielo-russos.

Enquanto os comitês de Rússia e Belarus continuam gozando integralmente de seus direitos dentro do Movimento Olímpico, os atletas estão ferrados, proibidos de participar de competições por orientação do próprio COI

Então, deixa ver se eu entendi bem: diante do risco de um
determinado país ocidental impedir que atletas russos e bielo-russos participassem
de competições realizadas em seu território (o que estaria errado e seria uma
violação da Carta Olímpica), ou de que houvesse competidores dando WO contra
russos e bielo-russos, o COI, em vez de deixar claro que puniria os
boicotadores ou o país que eventualmente barrasse atletas, resolveu barrar os
atletas ele mesmo. Que sentido faz uma coisa dessas? E que sentido faz, depois
disso, vir a público dizer que “essa guerra não foi iniciada pelo povo russo,
pelos atletas russos, pelo Comitê Olímpico Russo ou pelos membros russos do COI”
e que “sanções podem e deveriam ser impostas apenas sobre os que são
responsáveis por algo”? Não são justamente os atletas que estão pagando o pato
por decisão do próprio COI?

E, no fim, depois de dizer que os atletas russos e bielo-russos não têm culpa de nada, que não deveriam sofrer as consequências, Bach exorta o Movimento Olímpico a “seguir as sanções e medidas protetivas”, ou seja, continuar impedindo os atletas de competir. Isso é contraditório. Em vez de garantir que os demais países não impeçam a participação dos russos e bielo-russos (com bandeira neutra, em competições individuais), o COI se torna o principal patrocinador de uma discriminação que prejudica apenas aqueles que Bach diz querer proteger, deixando-os sem ritmo de competição e reduzindo suas chances de ir a Paris. Como eu venho afirmando, o COI não foi duro quando tinha de ser (no caso do megaesquema russo de doping), e pesou demais a mão quando não devia; se o “dilema” agora é “insolúvel”, como afirmou Bach, isso é responsabilidade, em boa parte, do próprio COI.

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