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Papo Olímpico
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Jogos Olímpicos de Inverno

Olimpices aleatórias de encerramento, versão Pequim

Por
Marcio Antonio Campos
20/02/2022 18:56 - Atualizado: 04/10/2023 16:57
Encerramento de Pequim-2022: mal dá para ver o fogo olímpico na “pira” criada pelos chineses.
Encerramento de Pequim-2022: mal dá para ver o fogo olímpico na “pira” criada pelos chineses. | Foto: Salvatore Di Nolfi/EFE/EPA

Está apagada a pira olímpica mais deprimente de todos os tempos. Convenhamos, a moldura com os flocos de neve usados no desfile das delegações era muito bonita, mas estragaram tudo quando resolveram que a pira seria, na verdade, a própria tocha olímpica, com aquele foguinho imperceptível quando visto de mais longe. Uma versão bem piorada da belíssima pira olímpica do Rio. E é difícil acreditar numa conversa de “pira ecológica” quando se está no país líder absoluto de emissões de gases poluentes...

E o Brasil?

Alguns amigos estrangeiros ainda hoje me perguntam “mas o Brasil manda atleta pra Jogos Olímpicos de Inverno?” Pois é, manda. E, se até pouco tempo atrás basicamente só conseguíamos vagas por convites ou universalidades, hoje estamos qualificando atletas em várias modalidades. E, se antigamente ficávamos apenas na rabeira em praticamente toda competição, hoje estamos botando atletas ali no miolo. Pequim é a segunda edição seguida com um marco para nossos esportes de gelo: em PyeongChang tivemos Isadora Williams se classificando para o programa livre da patinação artística; agora, tivemos Nicole Silveira e seu 13.º lugar no skeleton, o melhor resultado da história do Brasil no gelo, e o nosso bobsled de quatro atletas passou para a corrida final pela primeira vez. Na neve, participamos de provas inéditas para brasileiros, com Manex Silva conseguindo o índice A da FIS, qualificando-se para todas as competições possíveis; Michel Macedo por pouco não conseguiu um top 30 no slalom do esqui alpino, perdendo um portão na segunda descida depois de ficar em 37.º na primeira parte da prova.

Bobsled 4-man brasileiro se classificou para a descida final pela primeira vez em Pequim. Foto: Alexandre Castello Branco/COB.
Bobsled 4-man brasileiro se classificou para a descida final pela primeira vez em Pequim. Foto: Alexandre Castello Branco/COB.

Os cornetas logo vão querer comparar o Brasil com Austrália
e Nova Zelândia, dois países meio que na mesma latitude do Brasil e que
conquistam medalhas – a Nova Zelândia saiu de Pequim com dois ouros, os
primeiros de sua história em jogos de inverno. Só falta explicar pro corneta
que esses dois países, além de ricos, estão há décadas desenvolvendo seus
esportes de neve e gelo. A Austrália participa dos Jogos desde 1936 e a primeira
medalha só veio em 1994; a Nova Zelândia estreou em 1952 e conseguiu o primeiro
pódio em 1992 – ano em que o Brasil mandou uma delegação aos Jogos Olímpicos de
Inverno pela primeira vez. Então, um pouco mais de paciência.

Fair play

Da vitória dividida em Tóquio à derrota consentida em
Pequim. Se o grande momento de espírito esportivo ano passado foi o ouro
compartilhado do salto em altura, o prêmio de fair play deste ano é do
holandês Kai Verbij, campeão mundial dos 1.000 metros na patinação de
velocidade em pista longa. Na última volta da bateria final da prova, ele
chegou à “reta oposta” do oval emparelhado com o canadense Laurent Dubreuil.
Ali os patinadores mudam de pista, e as regras dizem que o patinador da pista
de fora tem preferência para mudar para a pista de dentro. Verbij, que estava
na pista interna, até podia ter dado uma forçada para conseguir fazer o
cruzamento à frente, mas preferiu desacelerar para respeitar a preferência sem
risco de atrapalhar a corrida do canadense. Dubreuil acabou com a prata; Verbij
terminou em último. Confiram no vídeo, a partir de 1h12min

Coisas do Zeitgeist

É agora que vamos ver se todo o entorno de Kamila Valieva
sofrerá algum tipo de responsabilização pelo caos que engoliu a adolescente de
15 anos, que testou positivo para uma substância proibida em dezembro do ano
passado, foi liberada para competir nos Jogos Olímpicos mesmo assim, e não
aguentou a pressão, colapsando no programa livre diante dos olhos do mundo
todo.

Até Thomas Bach veio a público criticar a postura da
treinadora Eteri Tutberidze, que recebeu uma Valieva em choque ao sair do gelo
não com um abraço e palavras de encorajamento, mas com cobrança pura. Só quando
as notas saíram, com Valieva caindo para o quarto lugar, é que a técnica
pareceu oferecer algum consolo. O presidente do COI, que disse ter visto a
prova pela televisão, afirmou ter ficado “muito perturbado” com a “atmosfera
arrepiante” de “tremenda frieza” com que Valieva foi recebida pelos
treinadores.

Pois sabem qual é a sorte de Eteri Tutberidze? É Valieva ser uma jovem de 15 anos pertencente à espécie humana, não um cavalo. Se Valieva fosse um cavalo e tivesse sido tratada daquele jeito, a treinadora já teria sido banida permanentemente do esporte no minuto seguinte e estaria sofrendo um cancelamento cruel nas mídias sociais. Mas, como é só uma adolescente...

Tarefa para 2024

Queridos narradores, até 2024 dá tempo de vocês aprenderem a
pronunciar certo o nome das pessoas? Sério, um panda morria a cada competição
de snowboard e esqui alpino em que vocês chamavam a Ester Ledecká de “Ester Ledeka
em vez de “Ester Ledetska”, como deve ser (na maioria dos idiomas
do leste europeu, o “c” sem acento nenhum tem som de “ts”). E ela não foi a
única, porque eu ouvi muito bem a Valentina Margaglio, do skeleton, ser chamada
de “Margag-lio”, com o som forte do “g de gato”, quando a
pronúncia italiana é “Margalho”.

Dizem os colegas que 1. todos os gringos falam assim
no caso da Ledecká. Sim, eu passei anos ouvindo narradores americanos de hóquei
pelo rádio e sei que eles pronunciam absolutamente tudo como se fossem palavras
inglesas, mas não é por isso que temos que avacalhar também, certo? E 2.
A Ledecká leva na boa. Não duvido, mas vai saber se é porque ela realmente não
está nem aí ou se é porque ela simplesmente cansou de ficar corrigindo as
pessoas.

O narrador é um profissional; o mínimo que eu espero dele é
preparação. Claro que ele não vai ter como decorar todos os nomes, tem línguas
mais ou menos complicadas, mas puxa vida, a Ledecká chegou a Pequim como campeã
olímpica e favorita, não tem como não procurar saber como falar corretamente os
nomes dos atletas de ponta. E olha que ela nem tem o tal do “ř”, que é
o fonema mais miserável do tcheco. Então, vamos lá, espero mais cuidado em
Paris porque, no fim das contas, ninguém realmente gosta de ouvir seu
nome sendo pronunciado errado.

Coluna em férias

O Papo Olímpico terá um descanso e volta no fim de março, quem sabe festejando uma medalha inédita do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Inverno, com Cristian Ribera ou Aline Rocha.

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