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Grandes eventos

O Brasil deveria se candidatar novamente para receber o Pan?

Por
Marcio Antonio Campos
28/09/2021 18:47 - Atualizado: 04/10/2023 17:27
Pista de atletismo do Pan de 2015, em Toronto: simplicidade em um país bem mais rico que o Brasil.
Pista de atletismo do Pan de 2015, em Toronto: simplicidade em um país bem mais rico que o Brasil. | Foto: TorontoGuy79/Wikimedia Commons

Faz pouco mais de um mês a Pan Am Sports confirmou a cidade
colombiana de Barranquilla como sede dos Jogos Pan-Americanos de 2027. O
anúncio confirma uma das características do Pan, que é o fato de suas sedes
mesclarem capitais nacionais, megalópoles como Rio e Toronto, e centros de
dimensão mais regional: Barranquilla é apenas a quarta cidade colombiana, atrás
de Bogotá, Medellín e Cali. Indianapolis, que sediou o inesquecível Pan de 1987,
nem aparece entre as dez maiores cidades dos Estados Unidos; Winnipeg, sede de
1999, é a oitava maior cidade canadense. Comparando, é como se Brasília, Belo
Horizonte, Manaus, Curitiba, Fortaleza, Salvador, Recife ou Porto Alegre
recebessem o Pan. E aí vem a pergunta: devíamos tentar?

“Algumas capitais têm condição, sim: São Paulo, Brasília,
Curitiba, Porto Alegre, talvez Cuiabá, Recife, Fortaleza seriam boas
candidatas. Poderia, inclusive, ser uma oportunidade para cidades que não são
capitais, como Campinas (SP)”, disse ao Papo Olímpico o professor Leandro
Carlos Mazzei, do curso de Ciências do Esporte da Faculdade de Ciências
Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e que também é presidente
da Associação Brasileira de Gestão do Esporte (Abragesp). “O problema é que não
há ambiente para isso no momento. Com o turbilhão de problemas que temos, o
esporte fica em segundo plano. O próximo Pan sem sede definida é 2031. Até lá,
pode ser que algo mude, mas o horizonte ainda é muito turvo, e a cidade
precisaria iniciar já um plano de candidatura para ter algo convincente em
2025”, acrescenta.

Também acho que, em um momento econômico mais estável, várias capitais brasileiras dariam conta de um evento como o Pan, ou outra competição multidesportiva menor, como Jogos Sul-Americanos ou mesmo Jogos Olímpicos da Juventude, que têm uma operação bem mais simples e um quadro de exigências bem menor para as sedes. Dariam conta, desde que apostassem em simplicidade. O Rio construiu tudo aquilo em 2007 – Engenhão, Arena Multiuso, Maria Lenk – porque queria usar o Pan como trampolim para ser sede olímpica. Não precisamos, nem devemos repetir a megalomania, até porque o COI não vai trazer uma nova edição de Jogos Olímpicos ao Brasil nem no curto, nem no médio prazo. O Pan de Toronto-2015 realizou as provas de atletismo em uma pista de universidade; foi construída para o evento, sim, mas sem firulas, coisa bastante simples. A abertura e o encerramento foram feitos no estádio dos Blue Jays, o time local de beisebol.

Várias capitais brasileiras dariam conta de um evento como o Pan, os Jogos Sul-Americanos ou mesmo Jogos Olímpicos da Juventude, desde que apostassem em simplicidade

Várias cidades brasileiras já têm boa parte das estruturas
necessárias para o evento, precisando, talvez, de uma remodelação ou ampliação
provisória de arquibancadas. Construir do zero, mesmo, talvez uma ou outra
instalação e, provavelmente, a vila dos atletas. A minha maior dúvida está na
parte “não esportiva”, como a infraestrutura de transporte e a rede hoteleira.
Lembro do perrengue que foi a XXI Conferência Nacional dos Advogados, congresso
da OAB realizado em Curitiba em 2011, cujos participantes tiveram sérios
problemas para conseguir hospedagem porque os hotéis da cidade não estavam
dando conta da procura. Claro que eventos como o Pan são definidos com anos de
antecedência, e hoje existem outras formas de hospedagem, mas uma cidade com
poucos quartos de hotel nem será levada em consideração para receber uma
competição dessas.

Como escreveu Gustavo Lopes Pires de Souza em um artigo na Gazeta do Povo, em 2019, organizar eventos esportivos vale a pena. Há o resultado imediato: atletas e torcedores movimentam a cidade, consomem, geram impostos. Há o legado de infraestrutura, pois ao menos uma ou outra obra acaba sendo construída. O interesse pelo esporte olímpico é despertado, ou redespertado em muita gente. Uma cidade brasileira de porte médio que seja pouco conhecida fora do país pode se lançar como destino turístico, e eu descobri isso em primeira mão. Você não pensa em Turim quando planeja uma viagem para a Itália, pensa? Pois foi nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006 que descobri uma cidade com atrações sensacionais, como o maior museu fora do Egito dedicado apenas a antiguidades egípcias, um extraordinário museu do cinema e pontos históricos como a Basílica de Superga.

“Ah, mas o Rio já tem tudo pronto.” Bem, tudo talvez não, porque muita coisa ficou abandonada depois de 2016, embora de fato o Rio tenha vantagem em comparação com outras capitais. “O Rio tem a estrutura para receber um Pan; fazer em outra cidade envolveria mais planejamento e dispêndio de recursos”, afirma Leandro Mazzei, da Unicamp. Mas acho que o Rio já cumpriu seu ciclo. Recebeu tudo o que podia receber – conferência da ONU, Pan, duas megavisitas papais (1997 e 2013), Jogos Olímpicos. Agora é hora de outra cidade pegar o bastão, aproveitando que parte da cartolagem “riocêntrica” do esporte brasileiro, como Carlos Arthur Nuzman, está ostracizada – e isso é fundamental porque as candidaturas sempre são apresentadas pelos comitês olímpicos nacionais.

E o COB toparia entrar nessa? A área de Comunicação do
comitê respondeu ao Papo Olímpico com a seguinte mensagem: “O Brasil sediou grandes eventos
esportivos recentemente, como o Pan Rio 2007 e os Jogos Olímpicos Rio 2016.
Todos ajudaram no desenvolvimento do esporte brasileiro, tanto na revelação de
novos talentos como na utilização de instalações esportivas, caso do Parque
Aquático Maria Lenk, atualmente administrado pelo COB. Os resultados estão aí,
com um desempenho histórico em Tóquio: 21 medalhas e 13 modalidades diferentes
no pódio. Foi dessa forma que alcançamos o 12.° lugar no quadro geral de
medalhas. Estamos focados em seguir melhorando nossos resultados nas grandes
competições, mas sempre atentos a possibilidades que contribuam para o
desenvolvimento esportivo do país.” Em outras palavras, a prioridade é melhorar
os resultados dos brasileiros, não tanto voltar a sediar eventos.

“Acho que, se houver um estado e prefeitura abraçando a causa, e apoio popular, o COB aceita, sim. Mas o incentivo tem de ser de dentro para fora, partir da cidade”, afirma Mazzei. Perguntei ao COB se a entidade já havia recebido alguma consulta de cidade interessada em sediar eventos multidesportivos, mas não tive resposta. Em 2005, surgiu a ideia de uma candidatura olímpica curitibana, mas a assessoria de imprensa do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba disse à coluna que aquela proposta não caminhou desde então; hoje não existe nada no Ippuc a respeito de trazer competições como um Pan para Curitiba. Em 2014, o então prefeito de Porto Alegre se animou com a sondagem de um membro da Odepa (a antecessora da Pan Am Sports) e chegou a pensar em candidatura para 2023, mas a ideia também não foi adiante.

“2007, 2014 e 2016 deixaram muitos traumas, muitas promessas não cumpridas quanto aos legados. Tivemos, ainda, o cancelamento até hoje mal explicado da Universíade (que é outro superevento) de 2019, que seria em Brasília”, lembra Mazzei (a competição de atletas universitários acabou realizada em Nápoles, na Itália). De fato, há muitos obstáculos, limitações econômicas, a dificuldade de empolgar uma população ainda dominada pela monocultura do futebol, o medo de tudo acabar em ladroagem. Mas que eu gostaria de ver um novo evento desses no Brasil, uns Jogos Sul-Americanos que fossem, ah, eu gostaria.

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