Uma carta para meu pai, Renato Follador: “Você estaria feliz…”
Há exatamente um ano, em 3 de julho de 2021, o presidente do Coritiba, Renato Follador Júnior, faleceu vítima da Covid-19 após permanecer mais de um mês internado lutando contra a doença.
Abaixo, você lê a carta aberta de Amanda Follador, filha mais velha do dirigente, escrita em depoimento ao jornalista Fernando Rudnick.
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Papi,
O último ano foi um dilema pra mim. Olhando pra trás, não é difícil perceber como tive sorte por ser sua filha. Mas ao mesmo tempo em que agradeço a Deus pelo pai mais presente e carinhoso que poderia existir, ainda não consegui entender por que você teve de partir tão cedo. E de um jeito tão inesperado.
Sabe, pai, no dia em que você foi entubado no hospital, eu finalmente me mudei pro apartamento em frente ao seu. Apressei a mudança, a reforma ainda não estava totalmente pronta, mas sabia que precisava estar ali para quando você voltasse, pra cuidar da sua recuperação. Já faz um ano e parece mentira que você não voltou.
Até hoje é difícil chegar em casa e não ver seu carro na garagem. Saber que você não vai me receber quando bater na porta. Toda vez que a Mariah e a Maitê – suas duas netinhas queridas – me pegam chorando num momento qualquer, elas já sabem que é pelo vovô. Elas beijam sua foto no porta-retrato e me abraçam.
A vó Linda contava que você sempre foi, desde criança, o centro das atenções. Tudo naturalmente, sem forçar um milímetro. O “Reinato” da família. E mesmo não estando mais aqui, é incrível como consegue estar tão vivo no nosso dia a dia.
O lugar onde mais sinto sua presença, claro, é na casa de Morretes, sua paixão. Onde você se sentia mais à vontade, era mais autêntico. Mais brincalhão e animado. Voltar lá não foi fácil pra mim. O rio Nhundiaquara que você tanto gostava de observar para se inspirar e falar com o cara lá de cima, agora também tem um pouco de Renato Follador.
A festa de casamento da Renata foi lá. Sua filha fez questão de casar onde você queria – e justamente na data do seu aniversário. Você estaria sorrindo de orelha a orelha.
Assim como você também teria comemorado muito o título do Paranaense desse ano e o acesso do Coritiba à Primeira Divisão no ano passado, algo pelo qual estava trabalhando insistentemente desde que colocou na cabeça que precisava ajudar seu time do coração.
No começo, a gente não levou a sério essa história do Coxa. Achávamos que não ia durar, tínhamos receio porque o futebol provoca reações pouco racionais na torcida. Só que ninguém conseguia tirar essa ideia da sua cabeça.
Lembra o quanto rimos depois daquela comparação entre administrar o clube e uma padaria? Era bem pior, né? É claro que você sabia, mas não adianta… era seu jeito, com suas frases de efeito.
A gente via como você se preocupava com o Coritiba. O estresse afetou até sua saúde. E, infelizmente, você teve pouco tempo para contribuir. Mesmo assim, gerou o impacto necessário, penso eu. Acho muito incrível como, em tão pouco tempo, todos lembram de você, te homenageiam. Você estaria feliz porque, apesar de todas dificuldades, as coisas estão sendo bem feitas.
Sei o quanto está sendo difícil pro tio Juca ficar lá no seu lugar – e que ele segue em nome da amizade e também para cumprir tudo o que foi planejado. Sinto que o Coxa é uma maneira de você ficar eternizado, Papi.
A dor que sinto – e que o Caio e a Renata também sentem – é imensa. Não imaginava passar por algo assim tão cedo. Mas só tenho a agradecer por tudo que me ensinou. Por todo amor que me deu. Por sempre estar comigo.
Nossa família continua sempre contigo. Te amo e tenho muito orgulho de ser sua filha.
Amanda Follador
