Coritiba
Entrevista

Ricardo Oliveira sem filtro: seca de gols, rebaixamento, idade e futuro no Coritiba

Por
Fernando Rudnick
12/02/2021 11:25 - Atualizado: 29/09/2023 20:08
Ricardo Oliveira sem filtro: seca de gols, rebaixamento, idade e futuro no Coritiba
| Foto: Albari Rosa/Foto Digital/UmDois Esportes

Ricardo Oliveira tirou um peso das costas ao marcar pela primeira vez com a camisa do Coritiba, na semana passada, contra o Fortaleza, no Castelão. Mas o sentimento é incompleto.

O veterano de 40 anos – contratado em outubro de 2020 como esperança de gols para salvar o Coxa do rebaixamento – sabe que sua passagem no Alto da Glória está muito aquém da expectativa.

Neste sábado (13), com a queda à Série B batendo à porta, o camisa 9 retorna à Vila Belmiro para enfrentar o Santos. Justamente o estádio onde mais balançou a rede desde que voltou a atuar no Brasil, em 2015. Foram 44 gols em 67 partidas divididas por quatro temporadas.

Fase bem diferente da atual, mas o camisa 9 não foge da responsabilidade. Em entrevista ao UmDois Esportes, ele abriu o jogo e falou como se sente sobre a iminente queda do Coxa, a escassez de gols, a idade e o futuro no Coritiba, já que seu contrato vale até o fim do Paranaense, em maio.

"Vou enfrentar com a cabeça levantada, vou suportar as críticas, os comentários, mas sei quem sou. Sou um cara vencedor que sempre dou meu melhor", afirmou.

Leia a entrevista completa abaixo:

O que a Vila Belmiro e o Santos representam na sua carreira? Como é voltar ao estádio justamente em um jogo que pode marcar a queda do Coritiba?

É sempre bom poder voltar num lugar onde deixei muitos amigos. O Santos foi o time em que joguei mais tempo no Brasil, criei uma identificação muito grande com o clube, com a torcida. E é sempre bom voltar a um lugar onde tive muito sucesso, levantei troféus, não só coletivos, como individuais. Obviamente que nossa situação hoje, o time que defendo tem uma situação muito complicada, muito diferente do que me acostumei a viver durante toda minha carreira profissional. Praticamente nunca vivi uma situação assim. Mas vamos defender com toda força, toda dedicação e honra. Vamos para o jogo com a obrigação de jogar bem, de buscar um bom resultado e acima de tudo não perder esse jogo, sabendo da dificuldade que é jogar na Vila. Nosso dever é ir para lá, fazer frente ao Santos e procurar vencer esse jogo.

Sua expectativa quando chegou ao Coritiba era marcar gols e manter o clube na Série A. O que aconteceu de errado no percurso?

Cheguei com expectativa muito elevada de poder ajudar o Coritiba a sair da zona de rebaixamento, a brigar por posições melhores no Brasileiro, manter o clube na Série A. Agora, a gente sabe que o futebol só funciona coletivamente. Eu vim para cá com toda dificuldade que passei durante a pandemia, a impossibilidade de poder usufruir da estrutura do Atlético-MG. Na época, fui impedido de treinar, fiquei mais de seis meses sem treinar com bola, no campo. Na minha visão, não dá para sair apontando o que aconteceu [de errado]. Sabemos que cometemos erros, não só dentro de campo. Quando as coisas dão errado, acredito que todos têm sua parcela de contribuição. E nós somos os atletas que vestimos a camisa, que vamos para dentro do campo e procuramos dar o melhor. Eu procurei entrar em forma, me dedicar nos treinos, ficar à disposição para ficar no banco, para entrar durante os jogos. E sempre que entrei, dentro das dificuldades que tinha, procurei dar meu melhor. Infelizmente, não consegui fazer muitos gols, mas sempre procurei apoiar os companheiros que estavam jogando, dando uma boa palavra para que pudessem estar tranquilos e jogarem bem. Comemorei gols dos meus companheiros, vitórias, e obviamente dividimos esse momento tão ruim e triste nessa temporada.

Você quebrou, contra o Fortaleza, uma série de 13 jogos sem marcar pelo Coritiba. Mesmo com tanta experiência, você sentiu essa seca tão longa?

Sempre bom poder voltar a fazer gol, sentir novamente esse gosto de realização. Devido à toda expectativa e também a tudo que fiz na minha carreira – tenho a meta de alcançar os 400 gols e não faltam muitos –, obviamente que as coisas não ocorreram como gostaríamos. Foi um jejum muito longo, de 13 jogos sem marcar. Foram sete partidas como titular, buscando sempre minha melhor condição física, aperfeiçoando nos treinamentos, usufruindo a estrutura do clube, dos profissionais, para que pudesse entrar em forma logo e ajudar o time o quanto antes, com gols. Mas são coisas que aparecem e temos que ser fortes. Sou um cara que não vai colocar desculpa em nada, procuro trabalhar para que possa dar o resultado que as pessoas esperam de mim. Foi uma alegria contida, porém extremamente triste e decepcionado por não conseguir ajudar o time a conquistar uma vitória que seria de fundamental importância. Mas são coisas que acontecem e já passei por situações parecidas e consegui sair de todas elas. Espero poder fazer mais gols e ajudar o Coritiba nessa reta final.

Seu contrato com o Coritiba encerra em maio. Você se vê no clube por mais tempo? Há possibilidade de sair após o fim do Brasileirão?

Tenho contrato até maio com o Coritiba, até depois do Estadual. E obviamente que quando assinamos um contrato, estamos pensando em cumprir. A não ser que a direção do clube pense diferente. Na minha cabeça está poder terminar o Campeonato Brasileiro com o Coritiba. Depois, não sei o pensamento da diretoria, mas o meu é cumprir meu contrato conforme foi firmado quando vim.

Brigar contra o rebaixamento no Coritiba, conviver com essa pressão, é algo inédito pra você?

É para os vencedores que aparecem situações como essas. Para ser um vencedor, passei por muitos momentos de fracasso, decepção e tristeza. O meu diferencial é que sempre fui um cara muito positivo, nunca fugi dessas situações. Procurei enfrentar, suportar e acreditar em mim. Graças a Deus, venci na minha carreira, suportando todos os fracassos. Digo que as pessoas só nos olham quando estamos brilhando, mas prefiro ficar com as marcas que me fizeram chegar onde cheguei: lágrimas, fracassos, derrotas que tive de enfrentar, e ser um vencedor como sou. Então, infelizmente, passo por mais uma situação como essa, mas não fujo disso. Vou enfrentar com a cabeça levantada, vou suportar as críticas, os comentários, mas sei quem sou. Sou um cara vencedor que sempre dou meu melhor. Espero que de alguma forma consiga fazer mais gols, ajudar o Coritiba, meus companheiros e ser grato por tudo que tenho vivido aqui.

Aos 40 anos de idade, como você se sente fisicamente para jogar futebol?

Eu estou performando fisicamente. Sou dos que mais treina, mais se dedica e que dentro do campo procura ser produtivo e dar o melhor de mim. O que me pedem para fazer, procuro fazer – sem fugir das minhas características, obviamente. Entendendo que sou um cara de 40 anos de idade, não mais aquele jovem de 25 anos, mas que com essa idade continuo tendo a mesma ambição, o mesmo desejo de gols e de poder ajudar. Não é uma coisa que me incomoda. Há muito anos temos visto situações parecidas. E poder estar aqui jogando futebol profissional no alto rendimento por algo é. Minha carreira me respalda, meu DNA me respalda, meu histórico me respalda como atleta e por isso que estou performando aqui, procurando ajudar o Coritiba.

Você sempre investiu no seu corpo, na sua alimentação, descanso…

Isso é um fato. Meu maior investimento foi no meu corpo. Esse é meu instrumento de trabalho. Sempre falo para os mais jovens que o melhor investimento a ser feito nunca é o melhor carro, roupa, sapato, relógio. O melhor investimento é no seu corpo. Se fizer certo, você vai conseguir ter longevidade na carreira e poder ajudar muitas pessoas. Depois você vai poder usufruir de uma boa casa, carro, ajudar seus familiares. Estou indo para 21 anos de carreira profissional e com 40 anos sou elogiado pela minha performance e dedicação. O melhor investimento que fiz foi cuidar do meu corpo, da alimentação, abri mão de muitas coisas para chegar, o descanso é essencial. Sempre procurei me cuidar muito porque exigência é muito alta. E obviamente que acredito que é possível repetir e melhorar. Enquanto minha cabeça estiver pensando dessa forma, minha dedicação vai ser muito forte todos os dias para que consiga repetir isso daí e ajudar o Coritiba a pelo menos deixar o clube em uma situação em que possa ser grato com gols e com minha performance em todos os sentidos.

Em que aspecto você sente mais diferença por causa da idade?

O futebol hoje é muito intenso, muita correria. O nível físico aumentou muito. Hoje se controla muito o seu GPS, o que você corre dentro do campo. Tudo isso se respeita porque a tecnologia está inserida em todos os lugares. Porém continuo entendendo que o futebol brasileiro, principalmente, não pode perder sua essência, que é o improviso, o jogador diferenciado. O cara que você dá a bola e no um contra um ele vai fazer diferença. Algumas coisas estão muito robotizadas. Não é uma crítica, mas hoje dificilmente vemos atletas despontando com essas características. O que mais sinto é o peso da idade, normal, tenho 40 anos, mas meus treinamentos são todos em alta intensidade, meus números mostram o quanto me dedico, corro, me esforço. Saberei o momento de parar. Enquanto minha cabeça estiver bem, enquanto estiver motivado para sair de casa, para viajar, para correr, para sofrer, para desfrutar, vou fazer isso daí com certeza. O momento certo vai chegar, está mais próximo do que longe. Enquanto ele não chega, vou continuar amando a profissão e dando o melhor de mim.

Existe preconceito no mundo do futebol com atletas veteranos?

Sinceramente, não usaria essa palavra preconceito, mas acho que é tudo muito natural. Vejo que pouquíssimos atletas que conseguiram chegar até os 35 anos. Os que chegaram jogaram até 37, 38. E hoje tem jogadores jogando até 40, 42, 43. Nunca sofri nenhum tipo de de preconceito. As pessoas vão entendendo que você tem uma idade, e que, de repente, nessa idade você não consegue produzir mais. Respeito a opinião de todos. Mas minha cabeça é o que me guia. Enquanto tiver com essa motivação, com força e as lesões me respeitando, apaixonado por essa profissão e conseguindo treinar no máximo, vou desfrutar ao máximo até chegar o momento em que vou dizer muito obrigado ao futebol e buscar coisas diferentes na minha vida.

Qual seu sonho na profissão atualmente? O que você almeja para depois da aposentadoria?

Atualmente é poder voltar a fazer gols, voltar a me sentir importante dentro de um contexto coletivo. Poder ajudar meus companheiros com minha experiência, com o que posso fazer dentro de campo e obviamente ajudar o Coritiba em todos os momentos. Tenho projetos futuros e ser técnico não passa pela minha cabeça. Pode ser que venha a mudar, mas nunca disse que tinha vontade de ser treinador.

Por que o Brasil tem mostrado dificuldade em produzir centroavantes?

Acredito que isso passa muito pelos treinadores, formadores. O Brasil é um celeiro de craques. Onde procurar atletas, vamos encontrar. Hoje em dia muitos jovens são inseridos no time profissional e tão cedo são vendidos para a Europa, ainda imaturos. Ainda não perfomaram no time principal, ainda precisam de experiência. Às vezes sobem para o time com deficiências técnicas grandes, aquilo que a base precisa fazer. Sou da época em que se jogava até os 21 anos na base, esperavam estourar a idade para subir. Hoje em dia um garotos de 16 anos já está no profissional. Não que não tenha qualidade, mas às vezes não está preparado. Acho que o olho clínico de um bom treinador seria o necessário para produzir grandes centroavantes, camisas 9, que são essenciais em qualquer time. Não culpando a base…Eu peguei um treinador na época que disse que eu ia jogar, que tinha potencial. Me deu chance, me deixou performar, criar corpo dentro desse time ainda na base e depois fui inserido no profissional. Se trabalhava muito os fundamentos quando era juvenil, júnior. Acredito que o Brasil continua tendo [talento], mas falta esse profissional com olhar clínico para identificar os próximos grandes centroavantes do futebol brasileiro.

Veja também:
Cuca valoriza retrospecto no Athletico com 10 vitórias em 11 jogos: "Nem City e Real"
Cuca valoriza retrospecto no Athletico com 10 vitórias em 11 jogos: "Nem City e Real"
Athletico vence o Danubio e mantém 100% na Sul-Americana
Athletico vence o Danubio e mantém 100% na Sul-Americana
Acusações de Textor: CPI convida primeiro árbitro para depôr
Acusações de Textor: CPI convida primeiro árbitro para depôr
No aguardo do STJD, Manga completa seis meses sem jogar e terá desafios na volta
No aguardo do STJD, Manga completa seis meses sem jogar e terá desafios na volta
participe da conversa
compartilhe
Encontrou algo errado na matéria?
Avise-nos
+ Notícias sobre Coritiba
No aguardo do STJD, Manga completa seis meses sem jogar e terá desafios na volta
Preparação

No aguardo do STJD, Manga completa seis meses sem jogar e terá desafios na volta

Paraná confirma primeiros jogos da Divisão de Acesso na Arena e no Couto
Série Prata

Paraná confirma primeiros jogos da Divisão de Acesso na Arena e no Couto

Coritiba inicia Série B com desafio na defesa e Guto cita desatenção no setor
Bolas paradas

Coritiba inicia Série B com desafio na defesa e Guto cita desatenção no setor