Programa olímpico

O automobilismo vai ganhar uma chance nos Jogos Olímpicos?

Demonstração do kart elétrico em Buenos Aires, dias antes da abertura dos Jogos Olímpicos da Juventude de 2018.

A segunda quinzena de agosto será uma oportunidade única para nove modalidades esportivas: elas terão a chance de “se exibir” diante do comitê organizador de Los Angeles-2028 e convencer os responsáveis pelos Jogos que elas podem integrar o programa olímpico. As federações internacionais de críquete, caratê, beisebol/softbol, automobilismo, lacrosse, breakdancing, kickboxing, squash e flag football (um tipo de futebol americano sem contato) já são todas reconhecidas pelo Comitê Olímpico Internacional; agora, elas precisam demonstrar que seus esportes cumprem requisitos como sustentabilidade ambiental e apelo local e global. A World Lacrosse até já lançou uma campanha, em que exalta a origem do esporte entre os nativos da América do Norte:

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O programa de LA-28 já tem 28 esportes (até onde sei, é mera coincidência), ainda com espaço para incluir o boxe, o levantamento de peso e o pentatlo moderno, desde que cada um resolva seus problemas – respectivamente, escândalos de corrupção, governança e roubalheira na arbitragem; problemas com doping generalizado; e a controvérsia da prova de hipismo. Novas modalidades podem ser acrescentadas desde que não se ultrapasse o limite de 10,5 mil atletas para o evento todo, o que de antemão já complica um pouco a chance dos esportes coletivos.

Já disse aqui na coluna que acho breakdancing nos Jogos Olímpicos uma piada, e sugeri 15 esportes que deveriam tê-lo precedido no programa olímpico – dez a sério e cinco de zoeira, caso algum leitor mais desatento não tenha entendido a publicação que fiz em junho. Dos dez que sugeri a sério, três ganharão a chance real de estar em Los Angeles (críquete, lacrosse e squash). Eu, particularmente, prefiro ver coisa nova em vez de variações de modalidades que já estão nos Jogos. Muita gente fala em futsal, futebol de areia, handebol de areia, beach tennis, mas isso tudo é variante do futebol, do handebol e do tênis; da mesma forma, não gostei muito da inclusão do basquete 3×3. E, mesmo não achando escalada grande coisa, reconheço que era algo diferente, assim como o surfe e o skate, que fizeram um sucesso enorme em Tóquio.

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É indiscutível que há apelo tanto local quanto global em colocar uma corrida de carros nos Jogos Olímpicos

Dessa lista de nove esportes que farão apresentações, o meu favorito para entrar no programa olímpico é o críquete. Teria um apelo global enorme, especialmente na Ásia e na Oceania. Embora os Estados Unidos estejam longe de ser uma potência no esporte, as numerosas comunidades indiana e paquistanesa nos EUA garantem uma boa audiência televisiva. E acabamos de ver um exemplo de como a modalidade poderia ser inserida nos Jogos, pois o críquete voltou aos Commonwealth Games que acabaram de terminar em Birmingham, na Inglaterra. Lá, houve o torneio feminino do Twenty20, formato que tem partidas mais curtas (na forma tradicional, os jogos levam vários dias). Oito equipes dos cinco continentes disputaram o ouro, que ficou com a Austrália – a prata foi da Índia e o bronze, da Nova Zelândia.

Está havendo um bom frenesi com a possibilidade de o automobilismo virar esporte olímpico. Antigamente, a Carta Olímpica proibia qualquer competição dependente de “propulsão mecânica”, mas esse artigo foi removido e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) foi reconhecida pelo COI em 2012. É indiscutível que há apelo tanto local quanto global em colocar uma corrida de carros nos Jogos Olímpicos, mas uma eventual aprovação será só o começo de uma enorme briga interna. Primeiro, para definir qual tipo de veículo será usado – o kart elétrico, que apareceu nos Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires, em 2018, tem o apelo da sustentabilidade. Depois, seria preciso fechar critérios únicos de classificação para um esporte que tem categorias muito diferentes entre si, e aí mora o perigo.

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Boa parte do sucesso do surfe e do skate em Tóquio teve a ver com o fato de as grandes estrelas mundiais dos dois esportes terem participado. Se a prova olímpica de automobilismo ocorresse hoje, você conseguiria imaginá-la sem Lewis Hamilton, Max Verstappen ou Sebastian Vettel? Quem sabe um Charles Leclerc para conquistar a primeira medalha da longa história olímpica de Mônaco? Mas as estrelas não se resumem à Fórmula 1, estão também no rali, na Nascar… haveria espaço para todos? A não ser, claro, que o COI e os organizadores de LA-28 gostem tanto da ideia que resolvam botar não uma, mas várias categorias de automobilismo nos Jogos Olímpicos, o que resolve o problema ao menos em parte.

Eu me considero um “tradicionalista” em termos de programa olímpico. Mesmo não sendo fã de luta (agora virou moda chamar de “wrestling”), por exemplo, eu ficaria muito decepcionado se o esporte fosse removido sem uma razão muito, mas muito boa; afinal, ele faz parte da história dos Jogos desde a Antiguidade. Mas essas inclusões que estão sendo estudadas não chegam a incomodar o meu tradicionalismo – tirando breakdancing; breakdancing não dá mesmo…

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