A legislação brasileira divide, a grosso modo, homicídios em dois tipos: doloso e culposo. Na primeira modalidade, há a intenção de cometer o delito e, logicamente, a pena é mais severa. Para o segundo exemplo, termos como imperícia e negligência servem para amenizar o crime. Há a punição, claro, mas ela é mais branda. O prejuízo maior fica, invariavelmente, para quem é vítima do ato ilícito.

Faço essa rasa introdução jurídica para falar de Alex Mineiro. O atacante do Atlético deve ser um dos hits do mercado de verão do futebol brasileiro. Porque joga muita bola, bem mais que a média nacional. Mas também porque a partir de 1.° de janeiro – seu contrato com o Furacão vence no dia 31 de dezembro – qualquer clube pode tê-lo de graça. Certamente a melhor promoção pós-Natal do Brasil.

Dois fatos foram determinantes para essa pechincha. Pelo primeiro o Atlético é diretamente responsável. Atendeu os apelos da torcida e da imprensa e segurou o atacante. Petraglia falou em entrevista à Tribuna do Paraná, no fim de julho, que abriu mão de 5 milhões de dólares para ficar com o atacante.

O outro, foge ao controle de todos e o internauta já deve ter notado qual é. A malfada bicicleta de Tcheco que esfacelou o rosto do atleticano.

Tcheco foi imprudente, não foi maldoso. Quem joga bola sabe disso. Quem acompanha futebol sabe disso. Alex Mineiro sabe disso. Tanto que em momento algum – seja no hospital, seja depois de voltar à ativa – acusou o gremista de agir com dolo no lance.

Mas o fato concreto é que Alex ficou três meses fora dos gramados por causa daquela jogada. Se não fosse aquele episódio, Alex seria artilheiro do Brasileiro com o pé nas costas, simplesmente porque tecnicamente só Edmundo é capaz de superá-lo entre os atacantes em atividade no país. E o Atlético, com os mineiros Alex e Ney Franco, certamente não teria passado o apuro que passou no Nacional. Talvez pudesse até sonhar mais alto na competição.

E provavelmente não chegaria ao fim do campeonato condenado a perder de graça seu melhor jogador. No meio do caminho, ou teria arrumado uma proposta irrecusável por Alex, maior que os 5 milhões do primeiro semestre. Ou faria o que faz desde 2002: renovaria o contrato do jogador por mais um ano e o emprestaria a algum clube.

Enquanto isso, Tcheco ficou longe dos gramados um punhado de jogos que dá para contar nos dedos de uma das mãos. Não foi maldoso, não agiu com dolo, só foi imprudente. Uma imperícia de 5 milhões de dólares. Realmente, no delito culposo o prejuízo da vítima é infinitamente maior.