A Copa do Mundo em Curitiba não se destaca pela transparência, termo da moda entre os políticos e dirigentes envolvidos diretamente com o evento da Fifa.
Após o estado do Paraná consultar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) com a intenção de contrair um empréstimo de R$ 123 milhões, surgiram várias perguntas. Todas sem resposta (ainda).
O secretário especial de Copa, Mário Celso Cunha, ao ser procurado pela reportagem da Gazeta do Povo não tinha certeza absoluta de como seria a engenharia financeira para concluir a Arena – no caso, o motivo do endividamento do poder público.
Apesar de muito solícito (atendeu a todos os telefonemas entre 16h e 21h e passou alguns contatos para sanar as dúvidas), Cunha se posicionou mais como um agente político do que propriamente um fiscal do processo.
Mário Celso Petraglia, dirigente escolhido pelo Atlético para tocar a obra de conclusão da praça esportiva, não suportou falar com esta Gazeta do Povo. Preferiu ser inconcluso. Reforçou, por exemplo, que o repórter estava “mal informado” – mas não fez o mínimo esforço para ajudá-lo. Não seria favor, mas uma obrigação.
A Agência de Fomento do estado, uma das possíveis fontes, também não deu retorno algum ao jornal. Para completar, a Prefeitura de Curitiba não quis comentar um empréstimo feito pelo estado.
Conclusão tirada: ainda não caiu a ficha do estafe local da Copa sobre quem é o verdadeiro financiador dessa empreitada.
Neste apanhado de desinformação, sobraram cifras e interrogações. Por que teria aumentado o preço do estádio? O Ippuc (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) estimava inicialmente em R$ 175 milhões, agora – conforme os envolvidos – seriam R$ 180 mi.
Como será repassado o dinheiro do BNDES para o Atlético? Se o BNDES rejeitar o potencial construtivo como garantia de pagamento, o governo (contribuinte) assumirá a dívida? Quais outras garantias o clube pode dar?
Os atleticanos teriam que colocar R$ 57 mi para fechar a conta. Porém, garantem ter abatido desse dinheiro empenhado em torno R$ 20 mi. O valor diz respeito à compra de um imóvel e gastos no planejamento da edificação. Com isso, assumiria o compromisso de botar mais R$ 37 mi na obra. O Atlético tem R$ 37 milhões? Caso não tenha, tomaria outro empréstimo? Essa quantia será suficiente?
O potencial construtivo é a principal moeda de garantia para contrair o empréstimo junto ao BNDES. O Atlético tem R$ 90 mi desses títulos para negociar. Ocorre que o Custo Unitário Básico (CUB), ainda segundo os envolvidos, pode ter valorizado, pulando exatamente para R$ 123 mi. Não se sabe se o BNDES aceitaria essa valorização. E ninguém quis explicar.
Caso o banco não aceite esse salto do potencial construtivo, como o Atlético bancaria o excedente dessa dívida?
A confusão, como se vê, é grande. Vamos torcer para que achem uma forma didática para explicar a todos – até os leigos em números, como eu – como será feita a transposição monetária para terminar o estádio.