Em todas as profissões, cada uma com sua particularidade, há duas formas de aprendizado: o teórico e o prático. Algumas áreas, basicamente aquelas que protegem a vida e a liberdade, exigem a capacitação na sala de aula. Com esse raciocínio simplista parece cômodo entender a profissão de treinadores de futebol. Alguns têm vivência, outros são estudiosos. E ponto final.

Mas é por seguir tal lógica que o Brasil encontra uma péssima mão de obra à beira do gramado. A maioria dos ‘professores’ se acha autodidata. “Aprende” vendo os jogos na arquibancada ou pela tevê. Às vezes, tropeça no erro — comum a trabalhadores de segmentos diversos — de achar que “nasceu com o dom”.

Há bons jornalistas que deixam de estudar por cair na mesma esparrela. Há excelentes advogados que também dizem acreditar que o dia a dia é o melhor vade-mecum. Muitos médicos pensam que a habilidade é suficiente. Todos erram. E quem descobre isso a tempo se torna muito melhor. Infelizmente, poucos no futebol fazem essa lição de humildade.

Na linha do que já foi abordado por Leonardo Mendes Júnior na edição impressa da Gazeta do Povo, os técnicos Ricardinho, Marquinhos Santos e Ricardo Drubscky vivem o dilema da teoria e prática — cada um com a sua particularidade.

O paranista leva apenas a experiência como boleiro para o gramado. Muito bom! Ele assimilou o suficiente para se arriscar no cargo. Mas ele pode melhorar com cursos, intercâmbio e — às vezes acho isso até mais crucial para a função — aulas de liderança e gerenciamento de pessoas. Essa dica vale para ele, Luxemburgo, Mano Menezes, Muricy Ramalho e qualquer outro campeoníssimo.

Já o atleticano fez o caminho normal dos jovens fora do futebol. Primeiro aprendeu os fundamentos, agora conhece a prática. Em tese, ele está bem preparado. Porém pode ser também que seja apenas um teórico. Só essa vivência com a prancheta vai dizer. Por enquanto, o resultado é satisfatório. O que deve fazer? Ouvir os jogadores, conversar com os torcedores, aprender com as críticas e — claro — seguir estudando.

No caso do comandante alviverde vê-se uma situação intermediária. Seria ele como uma professora do ensino fundamental em uma turma de universitários. O que ela tem como vantagem: a pedagogia, a liderança e olho calibrado para achar talentos. É algo elogiável. Marquinhos precisa agora conciliar prática e teoria, investir mais na sua carreira, adquirir conhecimentos e fazer tudo que os técnicos medalhões de hoje não fizeram por preguiça ou arrogância.

Estudar é obrigação para quem quer ser exemplo. Para quem comanda 30 atletas e mexe com tantas emoções vira uma questão de sobrevivência no mercado. Além disso, não inventaram nada mais gostoso que uma sala de aula.