Os 10 maiores jogos da história do Coritiba em casa; veja eleitos – do 6º ao 4º lugar
São 90 anos do estádio, da cancha, do bunker, da praça esportiva do Coritiba. Casa erguida como Estádio Belfort Duarte, nos anos 30, remodelada e rebatizada para Couto Pereira, na década de 70, o endereço no Alto da Glória é o local, imaginado e realizado em concreto armado, em que a paixão alviverde aflora, vive e explode.
Estádio inaugurado em 20 de novembro de 1932, com um triunfo do Coxa sobre o América-RJ, por 4x2, que desde então, a cada duelo jogado no local, escreve uma nova e única história. Passagens que ao longo dos 90 minutos, e das nove décadas em que a bola rolou no gramado coritibano, encheram de fantasia e emoção, na alegria e na tristeza, o coração de gerações de torcedores.
Para recordar parte da trajetória do outrora Belfort Duarte, então Couto Pereira, o UmDois Esportes convocou torcedores, ex-jogadores, dirigentes e ex-dirigentes, jornalistas, entre outras personalidades, para eleger os 10 jogos mais importantes dos 90 anos do estádio.
Foram 42 votantes (a lista completa você confere mais abaixo) e 70 jogos diferentes lembrados. E abaixo você conhece a SEGUNDA PARTE do top 10 com fotos históricas, ficha técnica e o comentário de personalidades que votaram no jogo para entrar entre os mais importantes da história do Coritiba!
Confira do 6º ao 4º lugar:
6º lugar: Coritiba 3x0 Athletico - Série B do Brasileiro - 13/12/1995 - 10 votos
Coritiba e Athletico duelaram, por caminhos distintos, em busca de uma vaga na Série A em 1996 numa Segunda Divisão que pareceu ter sido disputada por décadas. Foram quatro fases e 28 jogos cruzando o país e desbravando canchas no interior do Mato Grosso, Goiás, Sergipe, Pará etc.
Mas, claro, todos sabiam que, em algum momento, mesmo que por vias tortuosas, o encontro fundamental ocorreria. Atletiba que pôs o Coxa com a faca no pescoço. Era vencer ou ver o time como num dos episódios de Caverna do Dragão e sua versão em desenho animado da teoria do eterno retorno: confrontos com dragões terríveis e, ao fim, todos no mesmo lugar.
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Precisando dos três pontos para voltar à elite, e diante de um rival já garantido no andar de cima, o Alviverde mostrou como se joga pela vida. Contou também, e muito, com uma torcida ensandecida na arquibancada. Na entrada em campo, tantos foram os sinalizadores verdes, as bandeiras, o papel e o grito de "Coooooxa", que os três pontos já pareciam na sacola.
Triunfo construído com naturalidade e gols de sobra. Logo aos 10 minutos, Alex, o Menino de Ouro, mostrou que seu futebol era de Primeira Divisão. O coxa-branca de berço mandou um chute teleguiado, de fora da área, que encontrou o pé da trave de Ricardo Pinto: 1 a 0.
Não há glória, no entanto, sem um tanto de sofrimento. E o placar mínimo permaneceu até o começo da etapa final. Foi quando Auri fez 2 a 0, aos 9, e desafogou a angústia de milhares de alviverdes espalhados pelo concreto do Couto Pereira, por Curitiba, pelo Paraná, pelo Brasil e o mundo.
Restou a Pachequinho, já aos 29, anotar o terceiro e, gigante alviverde de 1,64m, sacramentar como só um ídolo histórico do clube seria capaz: o Coxa voltou.
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Galeria de fotos:
A capa da Tribuna:
"Coxa, 3x0!"
Ficha técnica:
Coritiba
Renato, Marcos Teixeira, Auri, Gralak e Claudiomiro; Paulo Sérgio, M.Ferreira (Daniel), Ademir Alcântara, Alex (Basílio); Vital e Pachequinho (Léo). Técnico: Lori Sandri.
Athletico
Ricardo Pinto, Ricardo, Jean, Luis Eduardo e Ronaldo; Alex Lopes, Leomar (Borçato), Everaldo (Jorginho) e João Antônio; Oséas e Helinho (Washington). Técnico: Pepe.
Local: Couto Pereira (Curitiba).
Árbitro: Dalmo Bozzano.
Amarelos: Ademir Alcântara, Gralak e Léo (C); Jean, Helinho e Ricardo (A).
Renda: R$ 360.940,00.
Público: 34.698.
Gols: Alex (C), aos 10 minutos do 1º tempo; Auri (C), aos 9, e Pachequinho (C), aos 29 minutos do segundo tempo.
5º lugar: Coritiba 5x1 Athletico - Paranaense - 16/4/1995 - 10 votos
Um passeio. Um esculacho. Um atropelo. E, claro, como era um domingo de Páscoa, foi impossível fugir ao clichê: um chocolate. Como se o oponente não fosse o rival ancestral, mas um qualquer, o Coritiba bagunçou, sem dó, o Athletico, por 5 a 1, em abril de 1995.
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E foi um gaúcho de São Borja quem estrelou a tarde: Idebrando Dal Osto, e aí você entende o motivo de o atacante ter adotado o apelido "Brandão". Com três gols, e uma "assistência" para o zagueiro China, do Furacão, fechar a goleada com um patético toque contra, o camisa 9 jamais será esquecido.
Foi a terceira maior humilhação imposta pelo alviverde na secular história do clássico Atletiba. Ou, quem sabe, possa ser considerada até a mais representativa de todas, por ser aquela fartamente registrada em fotos e vídeos. As outras duas, um 6x0 em 1959, e um 5x0 em 67, tanto tempo se passou que ficaram praticamente confinadas ao universo das estatísticas.
O que é impossível dimensionar, no entanto, é o impacto no coração e nas mentes dos pouco mais de 18 mil torcedores que escolheram o concreto do Couto Pereira para digerir a ceia pascal. No apagar das luzes, já com a noite abraçando Curitiba, ninguém saiu do Alto da Glória do mesmo jeito que entrou.
Em meros 10 minutos o destino do combate já estava traçado: Brandão marcou duas vezes. aos 9 e um minuto depois, segundos mais tarde de Gilmar ter voltado do fundo da meta para buscar a primeira bola. E Jetson, guri forjado no alojamento de baixo das arquibancadas da Rua Mauá, ampliou aos 29: 3x0.
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O zagueiro Pádua ainda tentou, em vão, mudar o curso da história, diminuindo para 3x1. Mas as pretensões de Brandão eram bem mais ambiciosas. O artilheiro – que anos mais tarde enfrentaria um piá de bosta chamado Cristiano Ronaldo no futebol português – fez o quarto do Coxa, seu terceiro no jogo, e ninguém aqui vai chamar de "hat trick" porque não somos tontos.
Aos 34, então, com o 4x1 reluzindo no placar, a história de uma goleada acachapante já estava escrita. Mas para que hoje o Atletiba em questão pudesse engrossar a lista dos maiores jogos de todos os tempos do Coxa em seus domínios, faltava algo mais.
Foi quando Brandão partiu pela esquerda e, com o lado de fora do pé direito, tentou servir o companheiro no chamado "ponto futuro", já dentro da área. Mas no futuro, alguns segundos adiante, estava China, defensor atleticano, para desviar para as redes, contra, e promover o Atletiba de vareio de bola para humilhação suprema: 5x1.
Galeria de fotos:
A capa da Tribuna:
"Foi um vareio: 5x1"
Ficha técnica:
Coritiba
Renato; Marcos Teixeira, Zambiasi, Gralak e Jorjão; Dida, Claudiomiro (Alex), Paulo Sérgio e Ademir Alcântara; Jétson (Marquinhos Ferreira) e Brandão. Técnico: Paulo Cézar Carpegiani.
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Athletico
Gilmar; Júlio César, Pádua, China e Biro; Mastrilo, Leomar, Alaércio (Ednílson Pateta) e Luís Américo (Joílson); Paulinho Kobayashi e Carlinhos. Técnico: Sérgio Cosme.
Local: Couto Pereira (Curitiba).
Árbitro: Ivo Tadeu Scátola.
Renda: R$ 147.409.
Público: 18.590.
Vermelho: Mastrillo (A) e Jorjão (C).
Gols: Brandão (C) aos 9/1º tempo e aos 10/1º tempo, Jetson (C), aos 32/1º tempo; Pádua (A), aos 12/2º tempo e Brandão (C), aos 34/2º tempo e China (A, contra), aos 46/2º tempo.
4º lugar: Coritiba (4) 0x0 (1) Athletico - Paranaense - 17/12/1978 - 11 votos
Nem Alfred Hitchcock, nem David Fincher, poderiam imaginar um roteiro de suspense mais apavorante do que o da finalíssima do Paranaense de 1978. Três clássicos Atletibas ao longo de só oito dias, cada um com mais de 50 mil pessoas entupindo o Couto Pereira, todos 0x0, sem um mísero gol marcado, e a decisão do caneco na marca do pênalti.
Foram mais de 300 minutos de agonia. Cinco horas de um Atletiba nos estertores dos anos 70. Clássico à moda antiga como ainda se disputou ao longo dos anos 80, em parte dos 90 e, agora, já em 2023, parece que nunca existiu. Ou, pelo menos, é um universo que habita a memória só de quem já rompeu a barreira das quatro décadas de existência.
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A torcida do Furacão ocupava os três anéis de arquibancadas do Couto Pereira posicionados ao lado da Igreja do Perpétuo Socorro – e, por vezes, o espaço destinado aos visitantes era ainda maior, em duelos com a casa praticamente dividida ao meio. Algo inimaginável em tempos de "torcida única", "torcida humana" e outras esquisitices.
E parecia não haver qualquer restrição para a festa das torcidas. Baterias de fogos acionadas diretamente no gramado, atrás dos gols. Papéis picados, rolos de papel atirados aos céus formando verdadeira cascata higiênica. Fumaça colorida, pó de arroz e outros adereços cênicos. As entradas em campo das equipes eram um espetáculo à parte.
As camisas eram de algodão, não recebiam patrocínios, algo que acentuava o contraste já original do Atletiba, da contraposição do verde e branco ao vermelho e preto. As imagens dos jogos praticamente só se viam ao vivo, ou no dia seguinte, na TV e nos jornais. E o rádio era o suporte de quem não podia ir ao campo e, pelas amplitudes moduladas, imaginava os mais delirantes combates.
Brutal ironia é que, nada disso, ou tudo isso, como queiram, não foi recompensado com um golzinho sequer em três Atletibas que reuniram mais de 150 mil pessoas. Quiseram os Deuses do Futebol que os três clássicos terminassem como apenas uma longa espera para que o destino do futebol paranaense acabasse desvendado na marca da cal.
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E aí, como num bom filme de suspense, um detalhe fez toda a diferença para o desenlace fatal. Ou pelo menos, foi o suficiente para converter-se em lenda e ser contado até os dias atuais. O goleiro coxa-branca Manga, com trajetória notável por Botafogo e Internacional, surgiu com uma faixa enrolada em uma das pernas, como uma espécie de mensagem, não tão subliminar, para que os atleticanos arremessassem a bola no canto da perna "machucada".
De certo, que os rubro-negros foram um desastre nas penalidades. Pedro Rocha marcou para o Coxa. Rotta empatou. Duílio pôs os alviverdes novamente na frente. Paulinho bateu fraco e Manga defendeu. Cláudio ampliou para os coritibanos, não perca a conta: 3x1. Lula mandou para fora. E Liminha encerrou uma semana inteira de agonia. 4x1, Coritiba campeão de 1978.
Ouça abaixo o comentário do torcedor Luiz Bettenheuser!
Galeria de fotos:
A capa da Tribuna:
"Coritiba"
Ficha técnica:
Coritiba
Manga; Norival, Duílio, Eduardo e Cláudio Marques; Almir, Borjão (Tovar) e Pedro Rocha; Mug, Liminha e Luiz Freire. Técnico: Chiquinho.
Athletico
Tobias, Valdir, Gilberto, Eraldo e Dionísio; Gerson Andreotti, Carlos Roberto (Bira Lopes) e Rotta; Paulinho, Lula e Dreyer. Técnico: Diede Lameiro.
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Local: Couto Pereira (Curitiba).
Árbitro: Bráulio Zanoto.
Amarelos: Liminha, Borjão (C); Rotta e Dionísio (A).
Renda: Cr$ 1.827.040,00.
Público: 55.164.
Gols (pênaltis): Pedro Rocha, Duílio, Cláudio Marques e Liminha (C); Rotta (A).
Os 10 maiores jogos da história do Coritiba em casa; veja eleitos – 10º ao 7º lugar
Os 10 maiores jogos da história do Coritiba em casa; veja eleitos – 3º ao 1º lugar
Todos os votantes:
Glenn Stenger (presidente), Rafael Cammarota (ex-jogador), Guilherme de Paula (jornalista), Luiz Espeto (torcedor e ex-dirigente), Vavá (ex-jogador), Marcelo Oliveira (ex-técnico), Édson Mauad (ex-presidente), João Carlos Vialle (ex-dirigente), Leonardo Mendes Júnior (jornalista), Fernando Prass (ex-goleiro), Luiz Bettenheuser (torcedor), Wanderlei Silva (torcedor), Leandro Requena (torcedor), Carneiro Neto (jornalista), Augusto Mafuz (jornalista), Rodrigo Weinhardt (ex-assessor de imprensa), Rodrigo Papov (torcedor), Juarez Moraes e Silva (presidente afastado), Nadja Mauad (jornalista), Luizão Stellfed (torcedor), Tostão (ex-jogador), Joel Malucelli (ex-presidente), Heraldo (ex-jogador), Ademir Alcântara (ex-jogador), Jacob Mehl (ex-presidente), Valmir Gomes (jornalista), Pachequinho (ex-jogador e ex-técnico), Capitão Hidaldo (ex-jogador e jornalista), Keirrison (ex-jogador), Giovani Gionédis (ex-presidente), Alex (ex-jogador), Serginho (ex-jogador e jornalista), Guilherme Straube (historiador), André (ex-jogador), Wilson (ex-jogador), Paulo Mosimann (jornalista e assessor), Rodrigo Fernandes (jornalista), Cristian Toledo (jornalista), Pierpaolo Petruzziello (torcedor), Édson Militão (jornalista), Tcheco (ex-jogador) e Edu Brasil (jornalista).