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Caso Peng Shuai

O teatro continua

Por
Marcio Antonio Campos
09/02/2022 21:01 - Atualizado: 04/10/2023 16:59
Thomas Bach (de azul) conversa com atletas alemães durante final do big air feminino; na mesma ocasião, ele encontrou a tenista Peng Shuai.
Thomas Bach (de azul) conversa com atletas alemães durante final do big air feminino; na mesma ocasião, ele encontrou a tenista Peng Shuai. | Foto: Salvatore Di Nolfi/EFE/EPA

Estava eu lá vendo a final do big air feminino, torcendo
para a francesa que eu havia colocado no meu time de fantasy, e quem eu vejo?
Thomas Bach, o presidente do COI, e a tenista Peng Shuai, conversando
sorridentes. Podemos, então, concluir que está tudo bem, que Peng está livre,
em segurança, que não corre risco algum depois de ter denunciado o abuso sexual
cometido por um figurão do Partido Comunista Chinês? Ou devemos acreditar que o
teatrinho iniciado com a tal videoconferência meses atrás continua correndo
solto, com ou sem a conivência de Bach?

Para que os ingênuos não tenham mais dúvida alguma, Peng deu entrevista ao jornal francês L’Equipe já durante os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, dizendo, basicamente, que não fez o que fez. Lembra do caso? Em novembro do ano passado, Peng narrou na rede social chinesa Weibo o abuso que sofrera em 2018 nas mãos do ex-vice-primeiro-ministro Zhang Gaoli. A publicação de Peng sumiu minutos depois, e ela passou várias semanas sem dar sinal de vida até reaparecer em um torneio de tênis na capital chinesa. Mas, ao jornal francês, ela negou tudo, acusação e desaparecimento. “Agressão sexual? Eu nunca disse que alguém tinha me assediado sexualmente. Eu apaguei a mensagem porque quis”, disse Peng, acrescentando que jamais deixou de manter contato com amigos próximos e até mesmo com pessoas do COI.

Bem, o que ela escreveu está escrito, como diria Pôncio Pilatos, e o print é eterno (como diriam Clarice Lispector, Verissimo ou Arnaldo Jabor, dependendo de quem faz o meme). Mas estou longe de crucificar Peng. Ela é uma vítima que pisou no calo de um regime completamente cruel e inescrupuloso, e vai pagar por isso a vida toda. A verdade só apareceria se um dia Peng se visse em solo livre, certa de não estar sendo monitorada ou ameaçada, e de poder falar tudo sem colocar em risco outras pessoas que lhe são caras, como família e amigos na China. Mas creio que esse dia jamais chegará. Ela não tem escolha – mas Thomas Bach tem, e esta é a minha grande dúvida. Ele realmente acredita que Peng está bem? Ele “quer acreditar”, como um agente Mulder do esporte? Ou apenas finge acreditar – e, se finge, por que o faz?

De qualquer maneira, o COI tem mais a investigar na China
além da situação de Peng. Atletas e comissões técnicas estão furiosos com as
condições em que são mantidos aqueles que testam positivo para Covid. O técnico
da seleção finlandesa de hóquei afirmou que um de seus atletas, isolado por 18
dias (ou seja, muito mais que qualquer protocolo atual para a doença), não
estava recebendo alimentação decente. Natalia Maliszewska, polonesa do short track, afirmou que
testes com diferentes resultados fizeram com que ela fosse isolada, liberada e
isolada novamente, ficando fora de uma prova. Alemães e russos também
reclamaram. A belga Kim Meylemans, do skeleton, publicou um vídeo no Instagram
contando que ela acreditava estar sendo levada à Vila Olímpica apenas para
descobrir que estava a caminho de outro local de quarentena.

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Já há quem levante a hipótese de os testes estarem sendo
usados para convenientemente tirar do páreo alguns atletas – Maliszewska, por
exemplo, já foi medalhista em campeonato mundial em um esporte no qual os
chineses esperavam vitórias. Quem também ficou de fora foi a saltadora de esqui
austríaca Marita Kramer, atual líder da Copa do Mundo (embora neste caso os
chineses não tivessem nada a ganhar com isso, pois não têm tradição na
modalidade). No insidethegames, Michael Pavitt afirmou
que, se por um lado há casos evidentes de infecção e que realmente requerem
isolamento, a
organização tem falhado nas situações limítrofes
, em que, mesmo
contaminado, um atleta oferece pouco ou nenhum risco aos demais. A falta de
critérios claros, neste caso, está destruindo a experiência olímpica para
vários atletas.

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