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Mauro Cezar Pereira
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Análise

Futebol ignora se dinheiro vem banhado em sangue e mostra cinismo da Premier League

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Mauro Cezar Pereira
07/10/2021 20:00 - Atualizado: 04/10/2023 17:25
Futebol ignora se dinheiro vem banhado em sangue e mostra cinismo da Premier League
| Foto: Divulgação/Newcastle

Jamal Khashoggi era jornalista e foi morto em 2 de outubro de 2018, aos 59 anos. Crítico dos governantes da Arábia Saudita, ele entrou na embaixada do país na Turquia, onde seu corpo foi esquartejado e teria sido dissolvido em ácido, para que não houvesse vestígios, como concluiu o governo turco.

Adiante, relatório da inteligência dos Estados Unidos atribuiu a responsabilidade pela morte, pelo assassinato, ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Muhammad bin Salman, conhecido pelas iniciais MBS.

O jornalista entrou na embaixada em Ancara com o intuito de obter uma certidão para se casar com sua noiva turca e não mais saiu de lá. Correspondente do jornal americano Washington Post, Khashoggi era um crítico feroz do governo saudita.

Sua morte teve repercussão mundial e dispersou a cortina de fumaça formada por MBS na tentativa de criar uma imagem mais arejada de seu governo. Sim, o futebol é ferramenta de propaganda utilizada pela Arábia Saudita sob seu comando.

Dias depois do desaparecimento do jornalista, Brasil e Argentina se enfrentaram em Jeddah. E não foi a primeira vez. Representantes do governo ofereceram pautas a jornalistas ocidentais, brasileiros inclusive, sobre mulheres dirigindo e outras ações que MBS estaria promovendo para mudar a vida do povo, modernizar as relações.

Em meio ao esforço oficial, repórteres que para lá viajaram com o objetivo de cobrir a partida foram retirados de seus hotéis e hospedados em outros, luxuosos, a convite do príncipe.

Mohammmed bin Salman recebeu o posto de ministro da Defesa em 2015, depois da morte do rei Abdullah. Com o rei Salman no poder, ordenou em abril daquele ano uma operação militar no Iêmen que dura até os dias de hoje.

Uma catástrofe humanitária resultou da coalizão liderada pela Arábia Saudita e composta, ainda, por Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Kuwait, Marrocos, Qatar e Sudão. Ataques a alvos civis mataram, feriram e deixaram sem lar milhares de pessoas.

Na prática, a Arábia Saudita é considerada um dos regimes mais repressivos do planeta, mas com seu papel fundamental no xadrez geopolítico-petrolífero, praticamente não sofre oposição do Ocidente. Em junho circulou a notícia da execução de um homem por protestar contra o governo quando tinha 17 anos. Detalhe: antes prometeram abolir a pena de morte para crimes cometidos por menores de idade. Assim, Mustafa Hashem al-Darwish foi decapitado em Dammam.

Agora a venda do Newcastle United está sendo consumada. MBS será dono do tradicional time do norte da Inglaterra por meio de um consórcio financiado pelo governo saudita. É o que costumam chamar de "Sportswash", ações que têm o objetivo de passar imagem positiva com a utilização de eventos e equipes em modalidades esportivas. Nome mais forte da monarquia absolutista saudita, Muhammad bin Salman deverá ser festejado pela sofrida torcida dos Magpies quando seu dinheiro colocar times fortes em campo com a camisa alvinegra.

Não é o primeiro caso, existem outros na Premier League. Mas, sem dúvida, o que mais chama a atenção pelo perfil do comprador de um clube da primeira divisão inglesa. Em meio a isso tudo, a hipocrisia do Reino Unido e da liga mais rica do futebol mundial. Para eles a questão sempre foi apenas dinheiro. As acusações gravíssimas contra Mohammad bin Salman não tinham tanta importância. Bastou superarem o mal estar com a beIN Sports, que despeja milhões de libras na Premier League, e tudo bem.

Milionária rede de TV do Catar, país com o qual a Arábia Saudita rompeu relações diplomáticas em 2017, a beIN passou a ter seu sinal pirateado no território comandado por MBS. Como a liga iria contra seu importante parceiro permitindo que comprasse um time no campeonato quem lhe tirava dinheiro se apoderando das transmissões dos jogos, sem pagar por isso? Mas já em 2021 o imbróglio diplomático foi contornado com a intermediação dos Estados Unidos.

Fronteira reaberta entre Catar e Arábia Saudita, caminho livre para a compra do Newcastle pelo líder de um regime que mata jornalista opositor, não concede direitos iguais às mulheres, tampouco tolera a homossexualidade. Mas nada disso parece incomodar os ingleses. A torcida, que sofre na zona de rebaixamento, deverá ignorar a origem do dinheiro, como as de Manchester City, Chelsea, PSG e outros. Nessa onda devem embarcar governo e Premier League. Não há Brexit que barre ditadores no futebol e na sociedade inglesa.

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