O imortal holandês John Cruyff nunca escondeu a mágoa de ser imposta a seu filho Jordi a obrigação de jogar com todas as virtudes revolucionárias do seu futebol.
Na sua época, pelo fato da razão lhe ser quase exclusiva no futebol, a mágoa de Cruyff tinha sentido. Se Jordi não fosse um Cruyff, as suas qualidades o consagrariam como craque.
O que conceituo como sucessão hereditária no futebol, em regra, acaba com sonhos. Por desprezar a influência do tempo e das variações do jogo, as comparações podem se tornar fatais.

No início dos anos 70, Renato Follador Filho, era chamado de Renatinho e era ponta esquerda, como seu pai.
No Coxa de 1952, que o saudoso jornalista Vinicius Coelho, no “Atletiba – a paixão das multidões”, compara ao de 1973, do Capitão Hidalgo, Renatinho, o pai, era o ponta esquerda de um ataque arrasador que tinha Lula, Miltinho, Almir e Ivo. Renatinho, o pai, jogou de 1948 a 1956. Fez 127 partidas e marcou 52 gols. Herança rica, mas, por comparações, cheia de ônus para os seus sucessores.
Além de ter que absorver os números do seu pai, Renatinho, o filho teve dois grandes obstáculos: surgiu numa época que a ponta esquerda era de Rinaldo, que vinha consagrado do Palmeiras, de Dirceu e de Aladim. O outro, e principal, era a supremacia da política de contratar jogadores consagrados. Os únicos que tiveram a capacidade de vencer esse sistema foram Dirceu e Cláudio Marques.
Em razão do berço em que foram embalados, a Renatinho e ao seu irmão Paulinho, ganharam a independência de ideias e de projetos. Foram tratar da vida fora do campo.

Aquele que queria ser Renatinho, ponta esquerda dos coxas, readquiriu o seu nome de batismo Renato Follador Filho. Formado em engenharia e administração, ainda jovem, fez a sua mente privilegiada estudar, criar e expandir a previdência privada como única alternativa para a previdência pública precária do Brasil.
Renato Follador Filho morreu vítima da Covid-19. Uma morte violenta por um vírus covarde que não oferece chance de defesa, como ocorreu com as 520 mil vitimas brasileiras. A morte de Renato mostra o poder do futebol.

Deveria ser anunciada como a de um dos iluministas, que provocaram a ruptura do passado da previdência no Brasil. No entanto, está sendo anunciada como a morte do presidente do Coritiba.
Sempre tratando o Coxa como um valor de vida, é possível que Renato esteja feliz como símbolo que, se tinha que morrer, era como presidente do clube de coração.
À sua família, os meus sentimentos.
