Augusto Mafuz

As razões verdadeiras e definitivas para a queda do Paraná - Parte II

Por
Augusto Mafuz
14/02/2025 12:51 - Atualizado: 14/02/2025 12:51
Paraná Clube caiu novamente: Mafuz explica razões de novo fracasso
Paraná Clube caiu novamente: Mafuz explica razões de novo fracasso | Foto: Albari Rosa/Arquivo/UmDois

Ao contrário do que contam alguns historiadores, o Paraná tinha tudo para dar errado: com um grande patrimônio imobiliário, que mal administrado por seus fundadores, tornou-se ocioso e sugador do dinheiro dos sócios e do futebol; com dirigentes vaidosos que só investiam em jogadores para conquistar títulos e humilhar Atletico e Coritiba, que estavam em baixa; com os mesmos dirigentes sem nenhum empresarial para criarem mecanismos que tornassem o patrimônio real uma fonte de renda sustentável.     

E se não fosse pouco, há mais. Nasceu com a marca da desconfiança.

Veja também
+ Apostas no Campeonato Paranaense: Palpites e dicas em 2025
+ As razões verdadeiras e definitivas para a queda do Paraná - Parte I

É que os vermelhos (Colorado) não confiavam nos azuis (Pinheiros) e vice-versa. O resultado foi o inusitado critério de revezamento na presidência, uma vez, um azul, outra vez, um vermelho.

Explica-se, aí, então a sequência de presidentes: Aramis Tissot (azul), Darci Piana (vermelho) Ocimar Bolicenho (azul) e Ernani Buchmann (vermelho).

A prova dessa desconfiança está no estatuto do clube. Foram criados vários conselhos com poder de veto: Conselho Administrativo, Conselho Consultivo e Conselho Administrativo. É uma via dolorosa, desprezando que o futebol exige decisões urgentes.

Paraná mudou do critério de alternância para o da "última opção"

Esse critério de alternância foi apagado quando o dinheiro acabou e os fundadores sumiram.

Daí o critério foi o da “única opção”. Aquele que, não inexistindo ninguém, vai qualquer um.  No caso do Paraná, “qualquer um”,  tornaram-se José Carlos Miranda, Aurival Correia, Aquilino Romani, Rubens Bohlen, Casinha e Leonardo Oliveira.

José Carlos de Miranda, ex-presidente do Paraná Clube. Foto: Arquivo/UmDois
José Carlos de Miranda, ex-presidente do Paraná Clube. Foto: Arquivo/UmDois

O resultado é que, além de não pagar contas, esses dirigentes causaram uma perda irreparável: os direitos sobre o vínculo de atletas que o clube revelava como Rodolfo, Vinícius e Elvis.

O mais simbólico foi o caso de Thiago Neves, que Miranda “entregou” para o empresário Léo Rabello e, ainda, deixou uma dívida que para pagar, Bohlen entregou o Ninho da Gralha.

Até carta de adjudicação foi expedida a favor de Rabello, só não registrada por ordem do Juiz Irineu Stein Junior, atleticano dos grandes.

Paraná era para ter fechado em 2014, mas surgiu uma esperança

O Paraná já era para fechar em 2014, mas, daí surgiu uma esperança que só o amor por clube pode provocá-la. Em 2014, o amor pelo tricolor empurrou o empresário Carlos Werner para dentro da Vila Capanema.

vila-capanema-parana
Imagem de setor abandonado da Vila Capanema. Foto: Arquivo/UmDois

Seu objetivo era investir na base, mas o que encontrou foi um Paraná abaixo da linha de pobreza: em todos os lugares, Vila Capanema, Ninho da Gralha, Kennedy e Olímpica, não havia água, porque não se pagava a Sanepar, não havia luz, porque não se pagava a Copel,  milhões de reais em dívidas das mais diversas rubricas bloqueavam crédito de contas bancárias.

Jogadores e funcionários,  há meses não recebiam salários.

Garantido por contrato de mútuo, Carlos foi emprestando dinheiro, sem cobrar juros ou correção monetária. E foi pagando coisas do passado, e foi pagando coisas do presente.

E, então, sentindo que o Paraná era viável em razão da sua resposta popular, resolveu que o seu clube de coração deveria voltar ao Brasileirão. Depois de 10 anos, em 2017, o Paraná voltou ao Brasileirão.

Mas, daí, aconteceu a hipótese da criatura engolir o criador. Leonardo Oliveira, que fora indicado por Carlos para assumir o clube, acertou-se com o supervisor Rodrigo Pastana,  homem de negócios externos.

rodrigo-pastana-leonardo-oliveira
Rodrigo Pastana e Leonardo Oliveira no Paraná Clube. Foto: Arquivo/UmDois

Quando Carlos determinou a saída de Pastana, Leonardo fez movimentos nos conselhos e afastou Carlos. Resultado: o Paraná, com um tiro só, foi rebaixado para a Série B, depois para a C, e dai para a Série D. 

Werner deixou Paraná Clube com crédito milionário

Quando saiu do Paraná, Carlos tinha um crédito de R$ 29 milhões. Um Juiz Federal do Trabalho, no processo de intervenção judicial do Paraná propôs que Carlos Werner ficasse com o Ninho da Gralha, na época avaliado pela 3ª. Vara Cível, em R$ 16 milhões. 

Empresário Carlos Werner. Foto: Arquivo/UmDois
Empresário Carlos Werner. Foto: Arquivo/UmDois

Para isso, teria que dar um desconto de R$13 milhões. Não só deu como cedeu gratuitamente, em comodato, o Ninho para o clube continuar treinando.   

Mas nenhum defeito é tão grave quanto a arrogância daqueles que foram “nobres”.

Em 1995, quando assumiu o Athletico, com Enio Fornea Junior e Ademir Adur, Mario Celso Petraglia quis encurtar o caminho para a constituição de um grande clube: propôs ao Paraná a fusão dos dois clubes.  

A reunião na sede da Revepar, de Erondi Silvério (Pinheiros), foi curta. Quando Petraglia terminou as suas razões, um dirigente tricolor respondeu:

“Não interessa a fusão. Queremos continuar vendo, da Concha Acústica, da Vila, os gols de Saulo”.

Petraglia olhou para o jornalista Carneiro Neto, que estava presente, e disse: “Vamos ter que fazer nós mesmos”. O resto é história.

Athletico hoje é majestoso; Paraná não é nem sombra do que já foi

O Athletico hoje é majestoso. Os deslizes são exceções. A regra é a de grandeza. Quanto ao Paraná, não existe mais a Concha Acústica, não existe nem sombra de um craque como foi Saulo, e não existe o time tricolor durante 8 meses por ano.   

Em resumo, só querendo ganhar títulos, não teve projeto de infra-estrutura. Com um patrimônio invejável, não teve administradores, perdendo os imóveis.

Podendo fazer fusão com o Furacão, os “vermelhos” não aceitaram, por arrogância. Abandonado pelos fundadores, permitiu o critério de “qualquer um”, sendo, então, destruído e tungado.  

O Paraná tinha tudo para dar errado. E deu. Estrago feito, feito está. Solução?

Darci Piana deve estar com dor de consciência. Ele foi um dos nobres que se afastou do clube. Não se é vice-governador de graça. Talvez Piana tenha a solução. A torcida deve clamar por ela. 

Onde apostar no Paranaense 2025

As melhores bets legalizadas do Brasil oferecem apostas no Campeonato Paranaense 2025. É possível dar palpites no vencedor de cada jogo, total de gols da partida, campeão da competição, entre outros mercados.

Siga o UmDois Esportes

Veja também:
Maringá reclama de pênalti não marcado e empata com o Atlético-MG na Copa do Brasil
Maringá reclama de pênalti não marcado e empata com o Atlético-MG na Copa do Brasil
Jorge Jesus faz substituição polêmica e irrita brasileiro ex-Coritiba no Al-Hilal
Jorge Jesus faz substituição polêmica e irrita brasileiro ex-Coritiba no Al-Hilal
Jornal crava decisão de Ancelotti sobre seleção brasileira
Jornal crava decisão de Ancelotti sobre seleção brasileira
Thiaguinho explica idolatria por Paulo Miranda
Thiaguinho explica idolatria por Paulo Miranda

Augusto Mafuz é um dos comentaristas esportivos mais tradicionais de Curitiba, conhecido por sua cobertura do Athletico e outros times da capital. Nascido em Guarapuava em 11 de maio de 1949, Mafuz tem sido uma figura central no j...

twitter
+ Notícias sobre Augusto Mafuz
Thiago Zraik, um "Pescador de Amigos". Andou, andou, andou, e foi embora
Augusto Mafuz

Thiago Zraik, um "Pescador de Amigos". Andou, andou, andou, e foi embora

No balanço do Athletico, Petraglia manipula números com fatos
opinião

No balanço do Athletico, Petraglia manipula números com fatos

O Athletico de Barbieri e a derrota como verdade no futebol
Augusto Mafuz

O Athletico de Barbieri e a derrota como verdade no futebol

Tudo Sobre

As razões verdadeiras e definitivas para a queda ...