Athletico
Crime nas redes sociais

Torcedoras do Athletico são ameaçadas por críticas à contratação de Cuca

Por
Luana Kaseker
06/03/2024 21:10 - Atualizado: 07/03/2024 09:23
Torcida do Athletico com mulheres e crianças
Torcida do Athletico com mulheres e crianças | Foto: Átila Alberti/UmDois Esportes

Torcedoras do Athletico estão recebendo xingamentos e ameaças nas redes sociais após se posicionarem contrárias à contratação do técnico Cuca para comandar o time.

As agressões, feitas majoritariamente por contas fakes, estão ultrapassando o virtual. Algumas postagens, por exemplo, têm intimado as atleticanas a tomarem cuidado nos jogos na Ligga Arena.

"Desde que o nome do Cuca foi ventilado, eu e outras mulheres estamos nos posicionando contra. E, após a confirmação da contratação, esses ataques vêm se intensificando nas redes sociais. De alguma forma, alguns foram velados, no sentido de 'quero ver falar isso na Arena', 'quero ver você ter coragem de vaiar na frente de todo mundo'", conta uma torcedora que pediu para não ser identificada.

"Mas algumas meninas receberam ameaças mais contundentes. Um fake ameaçou uma atleticana de estupro. Ela está sendo assessorada pelos nossos advogados. Esse fake disse que iria encontrá-la e estrupá-la no setor que ela assiste aos jogos, fazendo igual ao que o Cuca fez com a vítima de 13 anos", relata.

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A mesma torcedora, sócia do clube há muitos anos, afirma que as atleticanas estão se sentindo inseguras para frequentarem o estádio a partir de agora.

"Nós todas estamos nos sentindo ameaçadas de ir ao estádio, porque nos sentimos ceifadas do direito de nos manifestarmos. Meu sentimento é de muito medo, angústia, decepção. Realmente, não sei como será meu futuro como torcedora do Athletico. Eu não pretendo deixar de ser sócia, mas, no momento, não me sinto segura de frequentar o estádio, mesmo com toda segurança que o clube fornece, no sentido de câmeras, staff, porque eu tenho medo que me reconheçam", diz a atleticana.

As mulheres têm ganhado cada vez mais espaço neste ambiente majoritariamente masculino. E o Athletico é um clube com alto público feminino nos jogos. Em 2023 e em 2024, por exemplo, o clube promoveu jogos exclusivos para mulheres e crianças, após punições por conta de brigas nas arquibancadas, e bateu recordes.

Mas a chegada do treinador dividiu a torcida, tendo torcedoras, inclusive, que também foram favoráveis à chegada de Cuca. A liberdade de expressão é um direito constitucional, mas não é o que estamos vendo no espaço virtual desde domingo (3). A misoginia, com alto grau de deboche e violência se intensificaram. (veja abaixo algumas mensagens que as torcedoras do Athletico receberam).

Torcedora já foi acuada por homem dentro da Arena após ele não gostar de comentário feito por ela

Outra torcedora do Athletico, a jornalista Rhaissa da Silva, inclusive, já foi acuada e confrontada dentro da Ligga Arena. A atleticana era integrante de um canal de torcedores do Furacão no YouTube e foi perseguida porque um homem não gostou dos comentários dela no programa anos atrás.

"Ele me esperou quando eu fui ao banheiro. Bem nos corredores do estádio, ele me xingou, disse que eu era uma jornalista de merda, que mulher não tinha que falar de futebol, gritava e dizia que mulher tinha que estar na cozinha. Estava cheio de gente e ninguém fez nada, nem os seguranças. Foi uma situação muito difícil. E foi a primeira vez que eu me senti vulnerável na Arena", relembra.

"Na vinda do Cuca, eu fui contra. Mas apaguei as minhas postagens porque eu acabei ficando com medo. Mas recebi muitos xingamentos e gente falando para eu deixar de ser sócia", lamenta.

O que fazer em casos de ameaças na internet?

O delegado José Barreto, responsável pelo Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber), explica o que as vítimas devem fazer em casos de ameaças nas redes sociais. O principal é a realização do Boletim de Ocorrência em uma delegacia. No caso das torcedoras do Furacão, inclusive, o Nuciber e a Demafe podem trabalhar juntas.

"É importante que essas vítimas venham na delegacia para fazerem o boletim de ocorrência. Que elas juntem todas as provas, tirem print de tudo, porque os autores podem deletar as mensagens. Peguem o número telefone, se o crime for no Whatsapp, a foto do perfil, as mensagens, os áudios e aí ela será ouvida. Depois, começaremos as investigações. A ameaça é um crime de ação penal pública, condicionada à representação. Ou seja, só podemos começar uma investigação depois que a vítima se dirigir à delegacia de policia", explica o delegado.

"Se forem perfis fakes que estão ameaçando, elas podem procurar o Nuciber. Caso esses perfis sejam de gente que elas conheçam, o b.o pode ser feito no distrito policial da região. Hoje, o crime de ameaça pode dar seis meses de prisão. O Nuciber tem tido respostas satisfatórias neste tipo de investigação, mesmo em casos de perfis fakes. Os criminosos criam esses perfis, achando que a polícia não vai chegar, mas chegamos. As pessoas ainda acreditam que há uma impunidade na internet e a gente vem provando que isso não é verdade. É preciso respeito nas redes sociais", completa Barreto.

O caso Berna e a situação de Cuca

O processo citado por Cuca é a condenação de 1989, em Berna, na Suíça, na época em que era jogador. Dois anos antes, em uma excursão do Grêmio pelo país, ele e outros três atletas (Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi) foram acusados de ato sexual com menor e coação de uma menina de 13 anos que visitava o hotel da delegação.

Eles ficaram presos por quase 30 dias e voltaram a o Brasil após depoimentos. Em 1989, em julgamento sem a presença dos jogadores, foram condenados a 15 meses de prisão, além de pagamento de US$ 8 mil. Apenas Fernando foi absolvido da acusação, mas foi condenado a três meses de cárcere por ser cúmplice do crime.

O processo estava sob sigilo de 110 anos, protegido pela lei de proteção de dados da Suíça. em reportagem do Uol Esporte, em abril, o advogado da vítima desmentiu afirmações de Cuca de que ele não teria sido reconhecido como um dos agressores.

Em maio, o ge.com revelou um trecho do processo que dizia que havia um laudo provando que o sêmen de Cuca foi identificado no corpo de Sandra, a vítima. A partir disso, a defesa de Cuca pediu a reabertura do caso e um novo julgamento, alegando que o ex-jogador havia sido condenado à revelia. O pedido foi acatado em novembro e o julgamento de 1989 anulado em 28 de dezembro de 2023.

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