De pintor e vendedor de carvão a novo "Sargento" do Athletico: quem é Mateo Gamarra
Vem do Paraguai o primeiro reforço confirmado pelo Athletico para 2024, ano de seu centenário. O zagueiro Mateo Gamarra, 23 anos, assinou contrato de quatro anos com o Furacão. Destaque do Olimpia, ele teria custado US$ 3,2 milhões (R$ 15,84 milhões) ao Rubro-Negro, que adquiriu 75% dos direitos. Aprovado nos exames médicos, o canhoto vai vestir a camisa 15 no novo clube.
“Os torcedores podem ficar tranquilos, porque vou dar 100% de mim sempre. Sou um jogador de muita dedicação, muito trabalho e de muita disciplina. Vou buscar conquistar títulos aqui com o clube. E para isso, temos que trabalhar”, disse ao site oficial.
O UmDois Esportes traz mais sobre o paraguaio.
O menino do interior
Natural de Concepción, a 400km da capital Assunção, no Paraguai, Mateo Gamarra González é conhecido como "El Sargento" pela torcida do Olimpia, onde esteve nas últimas três temporadas. Tido como um dos jogadores mais queridos da torcida olimpista, não tem nenhuma ligação com o lendário zagueiro Carlos Gamarra, apesar do mesmo sobrenome. Menino do interior, seu perfil é discreto e sério, como detalha a mãe, Vidalia González.
“Ele é um menino quieto, responsável e muito maduro. Ele se cuida muito bem e planeja chegar alto", contou em entrevista ao programa Fútbol a lo Grande, da Rádio 1080 AM, no ano passado.
Humilde, cresceu no bairro Primavera e é do tipo que não esquece as origens. Quando foi contratado pelo Olimpia, por exemplo, preferia ir ao clube de ônibus, porque "sentia uma responsabilidade maior".
"Você acorda mais cedo, fica mais ativo. E quando chega para treinar já está bem aquecido", contou em entrevista ao jornalista Christian Pérez e publicado no site Versus, no ano passado.
Só que o jogador precisou mudar seus hábitos e foi "obrigado" a comprar um carro. Em seu contrato com o Olimpia dizia que ele não poderia se deslocar pela cidade de ônibus ou moto.
Antes de entrar para o mundo do futebol, Mateo "fez de tudo". Vendeu carvão a bordo de um motocarro e foi pintor - ganhava um salário semanal de 210 mil guaranis - o equivalente a R$140.
"Desse dinheiro, 10 mil (guaranis) eu gastava com gasolina para a moto. Dos outros 200, eu dava 100 para a minha mãe. Eu ficava com o que sobrava (100) e gastava com janta, mas chegava na segunda-feira e já não tinha mais nada, aí emprestava de alguém".
Um de seus irmãos, Luis Gamarra, jogava no Guaraní e também era pintor. Em 2020, no período da pandemia, ambos voltaram para Concepción e passaram a limpar e pintar barcos que transportavam mercadorias e até gado para ajudar na renda da família enquanto o mundo estava parado.
"Eles se ajudavam, foram pintar em um barco. Aqui vendíamos carvão e foi assim que lutávamos”, detalhou a mãe.
“Durante a pandemia, o clube em que eu jogava encerrou momentaneamente as atividades. Então tive que voltar para o interior, buscar alternativas para sobreviver. Tive que trabalhar com outras atividades, como limpeza de pátio, de máquinas, pintor, qualquer coisa que surgisse”, contou Mateo ao site do Athletico durante sua oficialização.
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Drama pessoal
Hoje com 23 anos, Mateo passou por momentos de incerteza que quase ameaçaram acabar com o sonho de ser jogador de futebol. Um dos momentos mais difíceis de sua vida foi a perda do pai, Lino Rubén, antes da pandemia.
“Foi um momento muito difícil porque tudo que vim a conquistar depois meu pai não pôde estar comigo. E isso é algo que me pesa muito, porque sempre fomos muito unidos”, contou ao site oficial do Athletico.
A mãe, que tem outros 13 filhos (seis meninos e sete meninas), relembra quando Mateo decidir ir sozinho para a capital Assunção em busca de uma vida melhor. Mesmo com as dificuldades, a mudança foi apoiada por toda a família.
“Todos nós o apoiamos, porque ele é um exemplo para os meninos que querem crescer e ir em frente. Sempre digo a ele para não mudar, para continuar assim, para se esforçar para chegar mais alto”, disse Vidalia.
Carreira
Mateo começou nas equipes de formação do Independiente Campo Grande, de Assunção, também jogou futsal e foi revelado pelo Independiente FBC-PAR, onde chegou aos 15 anos. Depois, se transferiu para o 12 de Octubre, em 2020, e estava no Olimpia nas últimas três temporadas. Do último ano para cá, virou peça fundamental no "Decano".
Promissor, o zagueiro também soma convocações para a seleção do Paraguai. A estreia foi durante um amistoso contra o México, em setembro do ano passado, sendo um dos destaques da vitória da Albirroja por 1 a 0. No confronto, ele ganhou a primeira oportunidade pelas mãos do técnico Guillermo Barros Schelotto e atuou como lateral-esquerdo.
"Mateo Gamarra deixou todos com a boca aberta com sua estreia oficial com a camisa da seleção e não passou despercebido", descreveu na época o site D10, que também destacou seu lado polivalente.
Na última edição da Libertadores, o zagueiro foi líder em desarmes, com 55 ao todo. Em 2023, ele disputou 45 jogos e marcou três gols pelo Olimpia - contra Atlético Nacional, na fase de grupos da Libertadores (veja abaixo), e diante de Tacuary e Guaireña FC, ambos peo Torneo Clausura da Liga Paraguaia.
No total, foram 98 partidas com a camisa olimpista, com cinco gols e três títulos conquistados: uma Copa Apertura (2021), Liga Clausura (2022) e uma Supercopa (2022).
Estreia contra o Flamengo e camisa de Gabigol
Mateo estreou com a camisa do Olimpia contra o Flamengo, pelas quartas de final da Libertadores 2021. Apesar da goleada no Mané Garrincha por 5 a 1, ele não deu "sossego" ao atacante Gabigol. Jogando com a camisa 48, travou duelo "pegado" com o brasileiro. A curiosidade é que após a partida eles trocaram camisa - que acabou virando quadro em sua casa, em Concepción (veja a foto abaixo e a entrevista no vídeo).
"Depois de bater muito nele pedi sua camisa. Ele disse, vamos trocar. E eu perguntei, 'você quer realmente mesmo a minha?', ri.
Ficha técnica
Nome completo: Mateo Gamarra González.
Nascimento: 20/10/2000 (Concepción, Paraguai).
Posição: zagueiro.
Altura: 1.83m.
Carreira: Independiente FBC-PAR, 12 de Octubre-PAR e Olimpia-PAR.
