Paraná Clube
Especial

A “Era Luxemburgo”: mitos, fatos, tudo o que você sempre quis saber sobre um Paraná ostentação

Por
Luana Kaseker
19/04/2021 17:06 - Atualizado: 29/09/2023 19:55
Luxa é o símbolo de um Paraná extravagante
Luxa é o símbolo de um Paraná extravagante | Foto: Osvalter Urbinati/Gazeta do Povo

Um clube com a situação financeira em dia, patrimônios milionários, atropelando rivais, com títulos todo ano, referência no Brasil e em paz com a torcida. Essa era a realidade do Paraná em 1995, ano que ficou marcado como o auge da “era de ouro” do Tricolor.

Aquela época afortunada, que perdurou até o início dos anos 2000, é completamente diferente da atual: o Paraná virou um clube atolado em dívidas, na desanimadora Série C e com poucas perspectivas para o futuro. Presente que guarda contraste radical com o passado.

A temporada de 95 se tornou tão emblemática que o clube saiu dos limites paranaenses para ser assunto nacional. O técnico campeoníssimo da década, Vanderlei Luxemburgo, desembarcava em Curitiba para comandar o time tricampeão estadual.

Pelas mãos diretas do então presidente Ocimar Bolicenho, que em 2021 voltou aos bastidores do Paraná para liderar uma comissão do cambaleante futebol profissional, Luxemburgo chegou com o peso de um dos maiores salários do futebol brasileiro.

A contratação, que marcou a história do Tricolor e do futebol paranaense, parecia comprovar o potencial do clube paranista de tornar-se potência nacional. Mas o desfecho da aventura do Paraná como “time rico” acabou em controvérsia. 

Até hoje a contratação de Luxa é questionada por torcedores, dirigentes e conselheiros, não só pelo desempenho irregular do time e passagem relâmpago, mas também por ter sido ali o suposto início de uma derrocada financeira que nunca mais teve fim. Voltemos a 1995 para explicar todo o imbróglio.

A chegada de Luxemburgo ao Paraná

Luxemburgo chega ao Paraná. Foto: Reprodução/TV
Luxemburgo chega ao Paraná. Foto: Reprodução/TV

Depois da conquista do tricampeonato paranaense, o então técnico Otacílio Gonçalves foi para o Japão treinar o Yokohama Flügels. A vaga de treinador ficaria vaga, mas não por muito tempo.

No começo de agosto, o presidente da época, Ocimar Bolicenho, viajou para São Paulo para uma reunião com o técnico Candinho (que comandava a Portuguesa), mas ele acabou não aceitando o convite.

No almoço também estava Valdir Joaquim de Moraes, auxiliar-técnico do Palmeiras, que sugeriu a Bolicenho que convidasse Luxemburgo para comandar o ascendente Paraná. Luxa era um treinador que vinha de grandes feitos em times paulistas, como a Série B de 1989 e o Paulista de 1990, com o Bragantino, e os bicampeonatos Paulista e Brasileiro com o Palestra em 1993 e 1994 - estes que, realmente, o credenciaram a figurão do futebol nacional.

Antes do interesse do Paraná, Luxemburgo havia rescindido com o Flamengo, depois de perder o título do Carioca após aquele famoso gol de barriga do Renato Gaúcho no Fla-Flu. No ataque rubro-negro, o treinador tinha Romário, Edmundo e Sávio.

Uma desavença com o Baixinho também teria sido um motivo a mais para a saída do treinador. De São Paulo, então, o presidente paranista foi direto para o Rio de Janeiro para negociar com Vanderlei.

A reunião aconteceu em um restaurante do aeroporto Santos Dumont.

“Após duas horas de conversa, ele fez a proposta de trabalho e eu retornei a Curitiba com os números para submeter a proposta à aprovação dos Conselhos. Nesta época, tudo o que saía da alçada do presidente do então Conselho Diretor precisava, por força de estatuto, ser aprovado pelos presidentes dos outros Conselhos (Deliberativo e Normativo)", conta Bolicenho.

E assim foi feito. Proposta aceita por todos e contratação do Vanderlei Luxemburgo efetivada”.

Ocimar Bolicenho

Ao lado do treinador campeão, chegara também o preparador físico Carlinhos Neves, que também trazia na bagagem currículo repleto de títulos.

“Eu estava em um clube como o Palmeiras, bicampeão paulista e brasileiro, e tinha contrato com ele. E o Paraná foi lá em São Paulo para conversar comigo para me trazer de volta e me convenceram. Acreditando no projeto e não me arrependo, porque eu fui muito feliz”, rememora Neves.

Luxemburgo chegou ao Paraná prometendo quebrar estigmas

Luxemburgo, Luiz Eduardo Dib (diretor de futebol) e Carlinhos Neves no Paraná.
Luxemburgo, Luiz Eduardo Dib (diretor de futebol) e Carlinhos Neves no Paraná.

Luxemburgo chegou a Curitiba em 14 de agosto de 1995 e, já no dia seguinte, foi apresentado à imprensa na Vila Olímpica do Boqueirão. Na época, Luxa explicou sua vinda ao Paraná dizendo que o clube tinha oferecido uma ótima proposta e que queria quebrar o “estigma” de que grandes treinadores só têm sucesso no eixo Rio-São Paulo.

“O estigma no futebol é que grandes treinadores têm que estar em grandes clubes, no eixo Rio-São Paulo, eu penso muito pelo contrário. Onde te derem condições de trabalhar, que o clube tenha proposta de crescimento, você tem que estar próximo, isso faz bem ao futebol. Abre espaço, caminho, novos horizontes para outros treinadores”, disse Luxemburgo à TV Globo em sua primeira entrevista como treinador paranista.

Foi para a repórter Ana Zimmerman, da RPC, afiliada da Globo no Paraná, que Luxa deu essa declaração. A repórter acompanhou toda a trajetória do técnico na curta passagem pelo Tricolor.

“Foi uma grande notícia na época. A gente chegou a colocar a chegada dele em rede nacional, porque chamava atenção um time de Curitiba trazer um técnico que tinha passado por Palmeiras e Flamengo. Como uma jogada administrativa e de marketing foi muito eficiente”, conta.

Carneiro Neto, icônico jornalista paranaense, colunista do UmDois Esportes e radialista na época, tem a mesma impressão de Ana em relação à vinda midiática de Luxa.

“No meu modo de entender, foi uma jogada de marketing do presidente Ocimar Bolicenho, que quis virar os holofotes para o Paraná. Contratou o Carlinhos Neves, que era um preparador físico muito respeitado. E o Vanderlei Luxemburgo havia deixado o Flamengo.

"Ele era um cara de grande visão, um treinador indiscutível”.

Carneiro Neto

O goleiro pentacampeão paranaense, Régis, relembra ainda que o clube tinha poderio financeiro para fazer essas “ousadias” e que a chegada dele foi importante para o elenco.

“Ele chegou com participação direta do Ocimar Bolicenho. O Paraná vivia uma época muito boa financeiramente, com quadro social muito forte. E o Bolicenho teve essa ousadia de contratar o treinador mais vitorioso do momento, um dos mais caros também da época", afirma Régis.

"Ele chegou com a mentalidade de vencedor e a gente tinha um time bom”.

Régis, ex-goleiro do Paraná

Contrato informal com o Paraná abriu brecha para saída precoce

Carlinhos Neves e Luxemburgo no Paraná. Foto: Reprodução/"O Voo certo"
Carlinhos Neves e Luxemburgo no Paraná. Foto: Reprodução/"O Voo certo"

Luxemburgo não tinha vínculo formal assinado com o Paraná, porque ainda recebia valores do Flamengo pelo seu contrato rescindido antecipadamente. Ou seja, não havia multa para rescisão.

A “liberdade contratual” deu brechas para que o Palmeiras monitorasse e, pouco tempo depois dele assumir o Tricolor, tentasse a repatriação do treinador. O time paulista fez contato diretamente com Luxa, passando por cima da diretoria do Paraná.

“O Luxemburgo, porém, teve uma atitude honrosa e informou ao Palmeiras que só sairia se o Paraná Clube o liberasse”, garante Bolicenho, que revela os detalhes do contrato do técnico com o Tricolor.

Segundo Bolicenho, o contrato de Luxa valia por cinco meses e totalizava R$ 400 mil a serem pagos da seguinte forma:

Luvas por R$ 50 mil - valor pago pelo programa Paraná Campeão, na época capitaneado por Lourival Ribeiro; salário de R$ 40 mil, a serem pagos nos meses de agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro (totalizando R$ 200 mil); cheque “balão” no valor de R$ 150 mil, a ser pago em dezembro de 1995.

“Luxemburgo ficou no Paraná de 10 de agosto a 2 de novembro, quando então o Palmeiras veio a Curitiba para levar o treinador”, relembra Bolicenho.

O poderoso Palmeiras da Parmalat veio à capital paranaense buscar Luxa em um Feriado de Finados. No dia anterior, inclusive, a diretoria do Porco deu entrevista a uma TV revelando a intenção.

Acompanhado do então diretor de futebol Luiz Eduardo Dib, Bolicenho abriu a sede para atender aos dirigentes palestrinos, mas, na primeira conversa, não houve a liberação por parte do Tricolor.

Os palmeirenses pediram para reunir-se à sós com o treinador e fizeram nova proposta. Para ir embora, Vanderlei precisaria abrir mão do pagamento de R$ 150 mil a ser pago em dezembro pelo Paraná.

“Não houve a liberação, porque julgamos que quem estava fazendo alguma concessão era o treinador e não o Palmeiras”, assegura Bolicenho. O Tricolor tinha tanto poder financeiro que se deu ao luxo de disputar Luxa com o gigante Palmeiras.

Gil Baiano era o capitão do Paraná. Foto: Arquivo/Gazeta do Povo
Gil Baiano era o capitão do Paraná. Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Além disso, o clube tinha em mãos uma barganha. No elenco, estava o lateral-direito Gil Baiano, capitão do time. Gil Baiano era atleta do Palmeiras emprestado ao Paraná, com passe fixado em US$ 1 milhão a serem pagos ao final da temporada.

Com o interesse do clube paulista em Luxa, o Tricolor propôs que o Palmeiras estendesse o empréstimo de Gil Baiano até junho de 1996 e que o valor fixado do passe passasse a ser apenas US$ 100 mil ao final do novo empréstimo.

Os mandatários do Palestra, então, fizeram nova reunião, aceitaram a proposta pelo novo empréstimo de Gil Baiano e Luxexmburgo deixou o comando Paraná após apenas 15 jogos.

“Ao final do novo empréstimo do Gil Baiano, já na gestão de Ernani Buchmann, o Paraná Clube adquiriu o passe pelo valor fixado e, neste mesmo ano, vendeu o atleta para o Sporting Portugal pelo valor de US$ 400 mil”, exalta Bolicenho.

Plano Real impactou contas do Paraná 

Luxa se diverte em treino. Foto: Arquivo/GRPCOM
Luxa se diverte em treino. Foto: Arquivo/GRPCOM

O Paraná, até este momento da história, tinha suas finanças em ordem. Na Série A, ostentava patrimônios milionários, grande números de sócios e bilheterias sempre lotadas, tanto que o Tricolor utilizava o Couto Pereira para mandar seus jogos.

Bolicenho afirma que, em suas gestões, o clube faturava, ao ano, cerca de R$ 12 milhões. Mas a implantação do Plano Real, em 1994, no governo de Fernando Henrique Cardoso, acabou atrapalhando os planos do clube.

“Em 1994, mais precisamente em abril, com apenas quatro meses da minha gestão, o Paraná perdeu uma das suas principais receitas financeiras (ao menos 20% do orçamento total) em virtude da implantação do Plano Real, que praticamente zerou os rendimentos advindos do mercado financeiro”, lembra Bolicenho.

“Ainda no mesmo ano, a Serlopar (Serviços de Loteria do Paraná) não renovou a licença do Paraná para explorar uma modalidade de jogo (permitida por lei) denominada Sport Bingo que representava outra fatia representativa das receitas. Em função destes dois fatores, minha gestão acabou o ano de 1995 com um resultado deficitário de R$ 1 milhão de reais”, complementa.

Sucessor de Bolicenho assumiu Paraná com pendências financeiras

O presidente da gestão posterior, Ernani Buchmann, confirma a versão de Bolicenho. E revela que sua gestão herdou outras dívidas do período em que Bolicenho esteve no comando. O prêmio do tricampeonato e o 13° do ano anterior estavam pendentes quando o novo mandatário assumiu em janeiro de 1996.

“Ficaram sim [dívidas]. Mas, na verdade, o Ocimar já pegou uma situação complicada. A chegada do Plano Real acabou com muitas empresas e muitos bancos. Com o Plano Real, acabou-se a ciranda financeira. O Paraná também estava incluído entre as instituições que jogavam muito com o mercado financeiro”, conta.

Antes do Plano Real, segundo Buchmann, o Paraná recebia as mensalidades dos sócios em um mês e aplicava o dinheiro. Ao final do outro mês, o rendimento dava um outro valor igual. A inflação fazia a rentabilidade do dinheiro aplicado praticamente dobrar.

“Com esse sistema, se pagava salários. E, como a folha dos jogadores e funcionários não aumentava nesses 30 dias, você tinha sempre dinheiro para ir pagando os funcionários e guardando o restante”, relembra Buchmann.

“Quando veio o Plano Real, isso acabou. O dinheiro que você tinha em um mês, se você aplicasse no banco, ia gerar no final, 1%, 1,5%. Não era nada. O que aconteceu foi que todas essas empresas, bancos e instituições, como o Paraná, precisaram ir comendo e utilizando o próprio capital. E o Ocimar pegou isso no meio da gestão dele e foi muito difícil”, ressalta.

Buchmann vê erro em contratação de Luxemburgo

No entendimento de Buchmann, a vinda de Luxa foi um erro de gestão de Bolicenho. Por outro lado, o ex-presidente no biênio 1996/98 entende que a negociação com o Palmeiras para a recontratação do técnico, que envolveu o novo empréstimo de Gil Baiano com faturamento posterior, foi um grande acerto.

“Ele trouxe o Luxa para o Campeonato Brasileiro, que começava em seguida. Mas o técnico começou a colocar os pés pelas mãos. O próprio Ocimar se irritou muito com ele. Mas aconteceu o fato que o Palmeiras se interessou em repatriar o Luxemburgo. O Ocimar fez o que um bom negociador faria, disse que não estava disposto a ceder, mas ele já estava com o Luxa pelo limite, não queria mais”, revela.

“O Palmeiras relutou, mas o Ocimar conseguiu trazer o Gil Baiano. Aí foi ótimo, porque o Luxa foi embora, o Ocimar deixou o Paquito, que era o assistente, no lugar e me entregou o clube com um time, mas com muitas dívidas ainda para resolver”, afirma.

Em 26 anos, Paraná trocou ostentação por penúria financeira

Régis treina no Paraná em 95. Foto: Edson Silva/Gazeta do Povo
Régis treina no Paraná em 95. Foto: Edson Silva/Gazeta do Povo

Se o Paraná trouxe Vanderlei Luxemburgo, técnico em alta da época, e o disputou com o Palmeiras, dá para entender qual era o peso do clube paranaense no cenário nacional em 1995.

O zagueiro Edinho Baiano, destaque no clube na época de “vacas gordas”, entre 1993 e 1998, conta que tudo era pago em dia e o Tricolor era generoso nas premiações.

“Naquela época, o Paraná estava em um momento muito bom. Pagava muito bem e até as premiações eram altas. Tanto que eu saí do Palmeiras para ir para o Paraná por causa da boa condição salarial que o clube me ofereceu”, relembra o tetracampeão paranaense pelo Tricolor.

Edinho Baiano treina na Vila Capanema. Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo
Edinho Baiano treina na Vila Capanema. Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

“O clube era uma potência. Era muito forte dentro e fora de campo. Muitos jogadores queriam jogar no Paraná. Até a minha saída, em 98, o Paraná pagava tudo certinho, não tinha problema de atraso, até pagava adiantado uma parte durante o mês. Tinha uma condição financeira muito boa”, completa Edinho Baiano.

O preparador físico Carlinhos Neves, que fez o mesmo trajeto Palmeiras-Paraná, comprova a versão do zagueiro. “Na minha época, eu nunca tive problema. Nem com salários, nem quando eu saí com as rescisões. Muito pelo contrário. Sempre fui tratado com muito respeito por todos os presidentes”, comenta.

Mas o Paraná pagava em dólar?

Outra curiosidade da época, que ronda até hoje nos bastidores, é se realmente o clube fazia os pagamentos em dólar na década de 90. Porém, é pura "fake news", como dizemos agora. A verdade é que a cotação do dólar comercial na época não passava de R$ 1. Ou seja, US$ 1 valia R$ 1.

Carlinhos Neves recorda como funcionava os valores e acredita ser apenas uma confusão de expressão, que gerou esse boato. “Não é verdade, porque o dólar se equivalia ao real. Eu nunca recebi em dólar do Paraná. É uma expressão mal colocada. Alguém usou essa expressão e ficou. Era só uma comparação”, afirma.

“No meu caso, meu contrato era em real. Na época, foi o Ocimar mesmo que me contratou. Terminou sendo um casamento muito bom, comigo e o Paraná”, acrescenta Edinho Baiano.

O caos financeiro começou realmente na chegada do Luxemburgo?

Paulo Miranda em clássico em 95. Foto: João Bruschz/Gazeta do Povo
Paulo Miranda em clássico em 95. Foto: João Bruschz/Gazeta do Povo

O Plano Real, como já citado, foi um dos fatores que podem ter iniciado a derrocada financeira do Paraná. No entanto, outros motivos se alinharam para que o clube chegasse ao, praticamente, fundo do poço atual.

Ernani Buchmann, Carneiro Neto e Ana Zimmerman acreditam que foram as administrações posteriores, principalmente a partir dos anos 2000, que fizeram com que o afortunado Paraná caísse em uma crise sem fim.

“Claro que o Luxemburgo foi uma extravagância em um momento de dificuldade. Mas não se pode esquecer que o Paraná era tricampeão paranaense e precisava se consolidar na Série A. O Paraná teve muito azar em suas gestões. Tivemos muitas gestões ruins, tivemos questões de muito relaxamento, vou usar termo 'desídia', que é comportamento relaxado”, declara Buchmann.

“A questão do Thiago Neves é claramente isso. Houve um relaxamento em relação à postura que deveria ter sido tomada. O clube não tinha mais crédito. É uma sucessão de problemas que acabaram gerando e trazendo até esse último presidente, que não era um presidente, mas um preposto”, completa o ex-presidente paranista.

Thiago Neves e Maicosuel em treino. Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo
Thiago Neves e Maicosuel em treino. Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo

O caso Thiago Neves também é lembrado pela repórter Ana Zimmerman, que recorda ainda sobre o grande poder financeiro que o Paraná tinha como clube social.

“Não acredito que a contratação do Luxemburgo tenha a ver com a crise financeira do Paraná de hoje. Um dos fatores é que o clube social tinha muito mais poder de fogo e agora não tem mais. Os salários subiram muito. As cotas de TV desiguais, subiram muito para alguns clubes e o Paraná fora disso", argumenta.

"Outro fator foram as administrações posteriores que cometeram erros administrativos ao deixarem de recolher verbas trabalhistas, fizeram péssimos negócios, como o próprio rolo do Thiago Neves, que deixaram grandes passivos”, complementa a jornalista.

Para Carneiro Neto, o grande problema do Tricolor foi ter se desfeito das propriedades originárias de suas fusões.

“O problema do Paraná não foi ali, foi mais à frente. O Paraná ainda foi pentacampeão estadual, teve administração vitoriosa depois do Ernani Buchmann, que foi campeão estadual e manteve o time na Série A", analisa.

"O problema do Paraná foi mais próximo da virada do ano 2000, quando o clube se desfez de patrimônios para começar a pagar dívidas. Do estádio do Britânia, no Guabirotuba, o do Palestra Itália, no Tarumã, aí sim que começaram os problemas. A degringolada do Paraná não tem nada a ver com a vinda do Luxemburgo, foi tudo para frente”, reforça o ex-narrador esportivo.

Desempenho do Paraná em 1995; Luxemburgo ficou apenas 15 jogos

Paraná encara o Palmeiras em 1995. Foto: Arquivo/GRPCOM
Paraná encara o Palmeiras em 1995. Foto: Arquivo/GRPCOM

A expectativa era grande em cima do Paraná de 1995, mesmo a equipe tendo sido fundada há apenas cinco anos. Além do técnico Luxemburgo, destaque nacional, o elenco paranista tinha nomes importantes como Régis, Edinho Baiano, Gil Baiano, Saulo, Maurílio e Daniel Frasson - principal contratação de Bolicenho na época.

O Tricolor começou bem o Campeonato Brasileiro. A estreia de Luxa no comando foi apenas seis dias depois da chegada a Curitiba, no dia 20 de agosto, no Couto Pereira. O adversário: o Grêmio, de Luiz Felipe Scolari, o "Felipão". O Tricolor largou a competição com uma grande apresentação e um 2 a 0 no placar, com gols de Guilherme e Claudinho.

Depois, fora de casa, vitória sobre o Juventude por 2 a 1. Os gols do Paraná foram de Daniel Frasson e Denílson, Cuca descontou de pênalti para o time gaúcho. Luxemburgo teve o grande teste do início da temporada contra a sua ex-equipe: o Palmeiras.

Com um Couto Pereira lotado, o zagueiro Edinho Baiano marcou o gol da vitória paranista, que colocou o clube na liderança com 100% de aproveitamento.

“A expectativa era muito grande de fazermos um bom Brasileiro. Ganhamos de times grandes, como do próprio Palmeiras. Mas, na sequência, o time foi caindo de produção. Não sei se era a questão do elenco, que não era tão grande. Era forte, mas não grande. E usava muito os meninos da base. Os meninos eram preparados, mas o campeonato era muito puxado, muito forte”, declarou o defensor.

Maurílio e Saulo no Brasileirão de 95. Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo
Maurílio e Saulo no Brasileirão de 95. Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

O regulamento da competição tinha duas fases com dois grupos de 12 times. Ao final da primeira fase, o Paraná ficou na quarta colocação, com cinco vitórias, quatro empates e apenas duas derrotas. Na segunda fase, o Tricolor foi apenas o nono colocado, com 14 pontos, e sem chances de classificação para as semifinais.

Após a 15ª partida no comando, uma derrota por 3 a 2 para Atlético Mineiro, na Vila Capanema, Luxemburgo aceitou a proposta do Palmeiras e voltou para São Paulo.

À beira do gramado pelo Paraná foram cinco vitórias, cinco empates e cinco derrotas, aproveitamento de 44,4%. Depois da saída de Luxa, o comando da equipe ficou com o assistente Paquito.

“Largamos muito bem, mas nosso elenco era um pouco jovem. E essa cobrança para ganhar o título, para chegar na frente, pesou um pouco para alguns atletas. A gente não tinha um elenco tão grande para ter reposições, mas eu acho que valeu a vinda do Vanderlei. Foi uma ousadia do Paraná e do presidente”, declarou o goleiro Régis.

“Acho que apenas o desfecho não foi muito bom. O Vanderlei teve que voltar para o Palmeiras, deixou o Paraná um pouco depois do meio da tabela, mas eu acho que acrescentou bastante para alguns jogadores, principalmente os mais jovens na carreira”, completou o ex-goleiro. O Tricolor terminou o Campeonato Brasileiro de 1995 na 13ª colocação geral.

“Não há como fazer um time jogar mais do que pode. E, na época, havia times muito competitivos. O Palmeiras era quase imbatível com a Parmalat. Era um time muito rico. O próprio Flamengo também. O Corinthians, Grêmio, Internacional e outros. Não era fácil. O Paraná fez o que estava de acordo com sua capacidade”, resume Carneiro Neto sobre a campanha paranista.

Valeu a pena a vinda de Luxemburgo?

Couto lotado em jogo do Paraná. Foto: Arquivo/GRPCOM
Couto lotado em jogo do Paraná. Foto: Arquivo/GRPCOM

A conclusão de todo imbróglio que envolveu a vinda de Vanderlei Luxemburgo é que a tentativa foi válida se pensarmos no crescimento e visibilidade nacional do Paraná. A aposta técnica, no entanto, acabou não rendendo o esperado.

Já a questão financeira fica a critério da avaliação individual, baseando-se nos valores divulgados nesta reportagem pelo próprio Bolicenho. Entre conselheiros e ex-diretores do clube, há controvérsias e diferentes opiniões quanto ao assunto.

De concreto, é possível avaliar que o Tricolor não foi vítima de apenas um erro pontual em sua trajetória descendente: a queda e o atual estado de calamidade é consequência de várias gestões inconsequentes, que fizeram muitas escolhas erradas.

Todas as decisões equivocadas feitas desde o nascimento do clube, em dezembro de 1989, até o momento culminaram na penúria atual da instituição que, um dia, foi referência nacional.

“Pelo resultado técnico, avaliamos o resultado como apenas razoável. Já pelo resultado de divulgação da marca Paraná para o Brasil avaliamos o resultado como excelente”, defende Bolicenho.

“Foi um momento especial do Paraná, com as condições que tinha, a torcida apoiando, eu acho que foi uma tentativa válida, muito válida. Não funcionou como se esperava, mas o Paraná mostrou na época grandeza e, realmente, era um clube muito forte dentro e fora de campo. Eu acho que foi uma passagem marcante para o Paraná”, avalia o goleiro Régis.

“A passagem de Luxemburgo deixou algumas lições, sim. Acho que foi positiva a vinda ao Paraná”, conclui Carneiro Neto.

*Vanderlei Luxemburgo foi procurado pela reportagem para contar sobre a passagem pelo Paraná, mas optou por não dar entrevista neste momento.

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