Os credores do Paraná Clube se reuniram na última sexta-feira (24) para debater o plano modificativo da Recuperação Judicial (RJ), mas saíram sem um desfecho sobre o assunto.
Durante as quatro horas de reunião, os advogados dos credores apresentaram os principais pontos de divergência. Entre eles está a forma de pagamento de todos os credores, a ausência da proposta vinculante assinada nos autos e ainda o questionamento sobre a garantia do investimento de R$ 212 milhões prometido pela Nextplay S.A.
Ainda no início da assembleia, Henrique Caron, que representa parte dos credores, relatou ter sido intimidado por integrantes da torcida organizada Fúria Independente. Segundo relato do advogado, os integrantes da organizada foram até seu escritório de advocacia com a intenção de intimidá-lo e pressioná-lo.
Ele defende um grupo de credores que argumenta temer não receber nada, ou sofrer um deságio muito grande, caso a venda da Sede da Kennedy ocorra por um valor abaixo R$ 70,8 milhões.
“Três integrantes da torcida organizada vieram intimidar no meu escritório na hora do almoço. Enviei os vídeos para o Dr. Maurício [Obladen] solicitando a suspensão da assembleia. Até que ponto nós, credores, temos segurança de nosso direito de fala, escolha e voto? As providências criminais já estão sendo tomadas, agora eu gostaria de uma manifestação do administrador judicial sobre este fato. Eu pedi a suspensão e não recebi a resposta”, relatou Caron.
O administrador judicial da RJ, Maurício Obladen, lamentou o episódio e afirmou ter entrado em contato com João Quitéria, citado por ele como representante da torcida organizada, e Carlos Werner, ex-mecenas do Tricolor e dono do CT Ninho da Gralha, para resolver o problema.

“Nós repudiamos qualquer ataque ao advogado no exercício da advocacia. Os vídeos foram encaminhados para a magistrada que preside essa Recuperação Judicial. A orientação dela foi de entrar em contato com representantes da torcida Fúria Independente”, contou.
“Eu fiz isso imediamente, consegui acesso com João [Quitéria, representante da organizada] e também com o Carlos Werner, que tem bastante ascendência sobre o clube e a torcida organizada. Eles se comprometeram em cessar qualquer tipo de ameaça ou constrangimento, o que eu soube que acabou se confirmando”, acrescentou o administrador da RJ.
Polêmica sobre a empresa interessada na SAF do Paraná Clube
Durante o encontro, Henrique Caron também questionou como a Nextplay S.A., que fez proposta de R$ 212 milhões para adquirir 90% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), teria condições de arcar com todo o valor. Ele ainda revelou que o capital social da empresa é de somente R$ 500.
“Por dados públicos, a Nextplay existe há um ano, com cotas sociais de R$ 500. A sede dela está em um apartamento em Copacabana. Quando a gente diz que os credores não tem garantias que não vão receber, tampouco o Paraná Clube. Falaram que o investimento seria de R$ 212 milhões. Para o Paraná Clube, o pagamento seria de R$ 42 milhões para fazer uma transação tributária, com deságios que em outro clube do Rio de Janeiro [Flamengo], eles conseguiram 82%. O que o investidor realmente vai colocar? São investimentos no negócio que ele mesmo adquiriu, não vai reverter para o Paraná Clube”, afirmou um dos advogados dos credores.
O advogado do Paraná Clube, Gioser Cavet, explicou a situação. “O CNPJ é recente, não porque a empresa é recente, mas porque foi constituída justamente para a finalidade de investimento dentro da RJ, através da aquisição da UPI Futebol”, argumentou.

“Inclusive, se questionou antes se seria através de fundo de investimento ou S.A., e se chegou a um consenso que seria um Sociedade Anônima porque o custo seria mais barato para eles. O clube está confortável quanto à indoniedade da proposta. É claro que o investidor passa a ser um player aqui desse jogo a partir da aprovação do plano que ele esteja aderindo”, reforçou.
Cavet ainda destacou a seriedade de Pedro Weber, que representa os investidores e já trabalhou nas SAFs de Azuriz e América-RN.
Proposta do Clube Curitibano e comparação com mercado
O assunto da venda da Sede da Kennedy foi um dos pontos mais polêmicos na reunião entre os credores.
O advogado Henrique Caron lembrou que o Clube Curitibano fez uma proposta de R$ 30 milhões para adquirir o terreno. Com esse valor, e caso fosse aprovado o plano que estava em pauta na assembleia, boa parte dos credores não receberia nada.
“O plano que o Dr. Dyego [Tavares, outro advogado dos credores] protocolou é uma aberração jurídica, uma vez que anula os créditos dos demais credores acima de 150 salários mínimos na Classe I, anula em um cenário realista da venda da Kennedy o crédito dos credores das Classes III e IV. O Paraná recebeu uma proposta do Clube Curitibano no ano passado de R$ 30 milhões. Neste cenário como ficaria o pagamento dos credores?”, questionou Caron.
Já o empresário Naor Malaquias, representante do Comitê de Credores, comparou o possível valor da venda da Kennedy com o que foi pago pelo supermercado Festval em um terreno próximo.
“Fui questionar o Festval quanto pagaram pelo leilão de um imóvel próximo. São 11,2 mil m² e pagaram R$ 30 milhões, com lote e imóvel. Fizeram a reforma e hoje tem o Festval. A Kennedy tem 27,974 mil m². Fazendo uma regra de três simples, cerca de R$ 70 milhões. A Kennedy tem a cláusula da Prefeitura e o Espaço Torres como inquilino”, disse.
As mudanças no plano da RJ do Paraná Clube
Após longo debate, os advogados aprovaram, em ampla maioria, as seguintes mudanças no plano da RJ:
- O valor da arrematação judicial da UPI Kennedy deve atender ao preço de reserva de R$ 70,8 milhões do leilão judicial (substitui a complementação de pagamento);
- Pagamento para os extraconcursais (feitos após a RJ) caem de R$ 12 para R$ 10 milhões, exceto fiscal e multas administrativas do Banco Central (Bacen), e será pago com a venda da Kennedy, simultaneamente com os credores;
- Até a venda definitiva da UPI Kennedy, as cotas da SAF serão a garantia dos credores. A liberação da garantia ocorrerá apenas após a venda;
- O pagamento dos tributos junto ao Banco Central será efetuado com os recursos provenientes da venda da SAF;
- Necessidade de inclusão de previsão para pagamentos dos créditos da CNRD (Câmara Nacional de Resolução de Disputas), sem deságio, uma vez que há jurisprudência de que não cabe desconto para esse tipo de crédito.
Segundo o administrador judicial da RJ, Maurício Obladen, o plano consolidado estará nos autos até a próxima quinta-feira (30). No período, o advogado Gioser Cavet, que representa o Paraná Clube, informou que o investidor se reunirá presencialmente com os credores para esclarecer dúvidas e buscar um consenso.