Enquanto a Rússia promete intensificar a guerra na Ucrânia, respondendo à contraofensiva ucraniana com o anúncio da mobilização de mais 300 mil combatentes e ameaçando usar armas nucleares (queira Deus que seja apenas um blefe), o caldo está engrossando também no campo esportivo.
Nesta quinta-feira, a Federação Internacional de Judô, uma das poucas que ainda permitiam a participação de russos em suas competições, desde que com bandeira neutra, fechou as portas aos atletas da Rússia e da Belarus até janeiro de 2023, “considerando as atuais circunstâncias internacionais, e com o objetivo de garantir a proteção de todos os judocas”, segundo o comunicado da entidade.
A política anterior tinha sido definida para dar “chances iguais a todos os atletas para se colocar acima de discriminações, política, conflito ou qualquer outro assunto não relacionado ao esporte”, além de garantir que os judocas “não fossem punidos por situações que eles não controlam”. O problema é que os ucranianos não gostaram, e começaram a boicotar os campeonatos da IJF: ficaram de fora de um Grand Slam na Mongólia e ameaçaram não mandar seus atletas ao campeonato mundial previsto para outubro, no Uzbequistão. Não que a decisão da IJF vá ter algum efeito prático: dois dias antes, na terça-feira, os próprios russos já tinham anunciado que não iriam ao Mundial, alegando solidariedade com os demais atletas russos de outras modalidades que seguem totalmente impedidos de competir.
A coisa certa a fazer ainda é deixar os atletas russos e bielo-russos competindo como independentes, sem bandeira nem hino, em modalidades individuais
Mas, se o judô endurece sua posição em relação aos russos e bielo-russos, outras modalidades começam a rever suas posturas iniciais. A Federação Internacional de Ginástica (FIG) vai permitir que seu congresso conte com a participação de delegados da Rússia e da Belarus – em protesto, a federação norueguesa desistiu de sediar o evento, que foi realocado para Istambul, e também avisou que não mandará ninguém à Turquia. A Federação Internacional de Esqui e Snowboard (FIS) discutirá em outubro se permite a volta dos russos e bielo-russos às competições sob bandeira neutra. E a Uefa permitiu que a Belarus (mas não a Rússia) dispute as eliminatórias da Euro 2024 – vamos ver se a medida será revista agora que baixou o Tarso Genro no ditador Alexander Lukashenko, que botou a polícia atrás dos russos que estão tentando escapar de uma eventual convocação para lutar na Ucrânia; vocês devem lembrar que, em 2007, o governo brasileiro perseguiu, capturou e devolveu a Fidel Castro dois boxeadores cubanos que desertaram durante o Pan do Rio.
Continuo achando que a coisa certa a fazer é deixar os atletas russos e bielo-russos competindo como independentes, sem bandeira nem hino, em modalidades individuais (nada de equipes nacionais em esportes coletivos, portanto). Mas, convenhamos, os russos também não se ajudam muito: após o anúncio da mobilização adicional, o presidente do Comitê Olímpico Russo, Stanislav Pozdniakov, disse que os atletas de seu país deveriam se sentir “honrados” caso fossem chamados a pegar em armas “a serviço da pátria”. O cartola certamente ganha pontos com Vladimir Putin, mas não contribui para que a comunidade esportiva internacional comece a ver com bons olhos a possibilidade de retorno dos russos em Paris-2024 e Milão-Cortina-2026, os objetivos declarados do comitê russo.
O presidente do COI, Thomas Bach, escreveu artigo, publicado na quarta-feira no site oficial da entidade, por ocasião do Dia Internacional da Paz. “Os Jogos Olímpicos não podem evitar guerras e conflitos. Não podem resolver todos os desafios políticos e sociais do mundo. Mas podem dar exemplo em um mundo onde todos respeitem as mesmas regras e uns aos outros”, afirmou. “Milhões de pessoas em todo o mundo anseiam pela paz. Ao lado de todas essas pessoas de boa vontade, queremos dar nossa pequena contribuição à paz ao unificar o mundo todo em competição pacífica”, acrescentou. Aí é que está: do jeito que o COI vem lidando com o caso da Rússia, certamente demonstra solidariedade à Ucrânia, o que é importante, mas não “unifica o mundo todo” nem faz do esporte uma ocasião em que rivalidades possam ser colocadas de lado, ainda que pelos poucos minutos de uma disputa.
Adeus a duas lendas

Serena Williams e Roger Federer: quem viu viu, quem não viu não verá mais. Dois gigantes do tênis e que podemos tranquilamente chamar de maiores de todos os tempos se despediram, ela no US Open, ele nesta sexta-feira, na Laver Cup. Serena é a recordista em Grand Slams na era aberta, com 23 (Margaret Court tem 24 títulos, mas 13 deles conquistados antes da era aberta); Federer já não tem o recorde, que manteve por 13 anos, mas isso não importa tanto. Ambos ainda têm a honra de ouros olímpicos no pescoço: Federer venceu o torneio de duplas em Pequim; Serena subiu ao topo do pódio em Londres no torneio de simples, e foi tricampeã nas duplas (Sydney, Pequim e Londres), sempre com a irmã Venus.
Eu pude ver Serena ao vivo, numa sessão noturna na quadra central no Rio (esperava também ver um dos top 4 do masculino, mas Federer desistiu e o cabeça-de-chave 4 foi Kei Nishikori, que fez a partida daquela noite). Ela começou passando o trator em cima da Alizé Cornet, a francesa equilibrou o jogo, Serena perdeu a paciência, quebrou raquete, mas Cornet não aproveitou a chance e perdeu o primeiro set no tie-break. E, contra Serena Williams, se você não aproveita as poucas chances que tem, já era. No segundo set, Cornet já não aguentou o tranco. Fiquei feliz de ter tido essa chance no Rio, como tive de ver outros gênios em suas modalidades como Phelps e Bolt.
Da série “estão deixando a gente sonhar”
Quinta posição na prova geral (60,700 pontos, contra 63,200 das espanholas, medalhistas de bronze) e quarto lugar nos cinco arcos (33,350, contra 33,800 da Espanha, novamente com o bronze): esse foi o Brasil no Campeonato Mundial de Ginástica Rítmica encerrado dias atrás na Bulgária. No tênis, depois de um ano lesionada, Luisa Stefani voltou a competir e já faturou título de um WTA 250 ao lado da canadense Gabriela Dabrowski. E neste sábado a ginástica artística brasileira estreia com força total na World Challenge Cup de Paris, preparatório para o Mundial de Liverpool, com muitas chances de medalhas.