A Rússia está disposta entrar nos Jogos Olímpicos de 2024, em Paris, pela “porta dos fundos”, ou seja, sem hino nem bandeira, mas não aceitará a imposição de que os seus atletas assinem declarações políticas contra a guerra na Ucrânia.

“Essa é uma linha vermelha. Eles não assinarão nenhuma declaração. Nestas condições, os nossos atletas não participarão em competições internacionais”, comentou o ministro dos Esportes russo, Oleg Matitsin, à Câmara dos Deputados.

A recente recusa do Comitê Olímpico Internacional (COI) em convidar russos e bielorrussos para participarem nos Jogos Olímpicos de Verão não preocupa Moscou, que sabe que um ano é muito tempo, mesmo com uma guerra no horizonte.

De fato, o Kremlin não tem qualquer intenção de boicotar os Jogos Olímpicos, como fez a URSS em Los Angeles, em 1984, após o boicote ocidental a Moscou, em 1980.

RÚSSIA QUER SE PROVAR NOS ESPORTES

A Rússia pode estar cada vez mais isolada aos olhos da diplomacia ocidental, mas a realidade é que os atletas russos estão participando ativamente nos torneios de classificação.

Com a bênção do COI, que passou a responsabilidade para as federações internacionais, os russos participaram recentemente como neutros nos mundiais de judô (Catar) e taekwondo (Azerbaijão).

O mesmo aconteceu no Campeonato Europeu de Esgrima, na Bulgária, para onde o torneio foi transferido após a Polônia ter se recusado a conceder vistos aos atletas russos e bielorrussos.

Moscou denuncia publicamente a discriminação dos seus atletas, mas não esconde a sua satisfação pela atual resistência do COI às pressões dos governos ocidentais, incluindo a Ucrânia.

Se o tênis e o ciclismo nunca marginalizaram os russos, tal como a luta livre e o tênis de mesa, entre outros, a ginástica também abriu as portas a esses atletas na semana passada, embora só possam voltar a competir no início de 2024.

ATLETISMO NÃO CEDE

O atletismo, que já sancionou a Rússia por doping de Estado, não cede. O presidente da World Athletics, Sebastian Coe, tomou partido e não parece que os russos conseguirão voltar aos Jogos Olímpicos.

O país não têm nenhuma chance no halterofilismo, no qual os russos já foram sancionados várias vezes nos últimos anos pela utilização de substâncias proibidas. Nenhum halterofilista russo competiu em junho no Grande Prêmio de Havana, essencial para disputar por uma medalha em Paris.

As dúvidas persistem no boxe, na natação, no pólo aquático, nos saltos ornamentais e no nado sincronizado, esta última modalidade monopolizada há anos pelas russas.

Entretanto, os russos parecem ter uma oportunidade na canoagem e no remo.

O COI também não está disposto a rever a sua decisão de impedir a participação de russos e bielorrussos nos esportes coletivos, o que constitui um grande revés para a Rússia, especialmente no voleibol e no handebol femininos.

Quanto aos atletas russos que faltaram aos torneios de qualificação por causa da guerra, o COI disse que não pedirá às federações internacionais que adaptem os seus torneios para receber russos e bielorrussos.

ALTERNATIVA ASIÁTICA

A Rússia tem uma alternativa. Os Jogos Asiáticos, que se realizam de 23 de setembro a 8 de outubro na cidade chinesa de Hangzhou. A federação asiática autorizou a participação de 500 atletas russos e bielorrussos, algo que o COI também vê com bons olhos.

Os russos e os bielorrussos não estão elegíveis para medalhas ou para participar nas competições por equipes, mas podem teoricamente atingir um desempenho mínimo que lhes permita ir a Paris dentro de um ano.

A dois meses desses jogos, Moscou ainda não confirmou se aceitou o convite e se enviará uma delegação à China. Entretanto, o presidente russo, Vladimir Putin, conhecido do presidente do COI, Thomas Bach, mantém um silêncio rigoroso, embora seja conhecida a sua posição contra aquilo que chama de “politização do esporte”.