
Em 1991 eu tinha 12 anos e o técnico da seleção era Paulo Roberto Falcão (sim, o comentarista de tevê). A seleção passava por um período de renovação, após a Copa de 90, e diversos jogadores “estrangeiros” haviam sido barrados – Dunga entre eles.
Um capítulo dessa reconstrução foi aqui em Curitiba. O Brasil veio disputar um amistoso contra a Argentina, na preparação para a Copa América.
Na véspera do jogo, papel e caneta debaixo do braço, fui ao Pinheirão (que Deus o tenha) ver o último treino e, principalmente, caçar alguns autógrafos. Empoleirado ao lado da mureta em meio a mais umas duas dúzias de piás, consegui a assinatura do Branco, do Mazinho e do Ricardo Rocha.
Saí meio frustrado, pois queria mesmo a do Neto. Me esgoelei gritando o seu nome, mas nada de o rotundo camisa 10 fazer a alegria da piazada.
No dia seguinte, na escola, foi um tal de um mostrando os autógrafos para o outro que dava gosto. Se só um piá tinha o autógrafo de determinado jogador, outro, despeitado, logo gritava: “É falsifique!”. E estava feito o tumulto. Sem falar nas tentativas desesperadas de completar à força a coleção com as assinaturas conseguidas por colegas mais distraídos.
Não sei o que os demais fizeram com seus autógrafos, mas os meus eu guardei em uma gaveta. E esqueci. Só fui lembrar três anos depois, quando o Brasil conquistou o tetra com Branco, Mazinho e Ricardo Rocha – Neto viu a Copa de casa, prova incontestável de que praga de piá curitibano pega.
Mais 15 anos se passaram, e semana passada lembrei de novo dos autógrafos, que certamente já serviram de matéria-prima para uns dez cadernos reciclados. O responsável por esse remember da minha pré-adolescência foi sir Alex Ferguson.
O Manchester United publicou em seu site um comunicado salpicado de declarações do seu treinador. Nele, informa aos torcedores que os jogadores do Manchester não mais poderão dar autógrafos.
A justificativa oficial é não alimentar o sempre em expansão mercado pirata, onde se comercializa por somas consideráveis de simples pedaços de papel a camisas oficiais autografadas por grandes jogadores.
Por trás disso, porém, certamente há a inesgotável ganância do mundo do futebol. Aposto que em poucos meses o Manchester irá comercializar cartões, bonecos, cuecas ou o que quer que seja com o autógrafo de seus jogadores. Isso não vai acabar com a pirataria, mas garantirá ao clube sua fatia nos lucros. Não vai demorar para os gênios do marketing espalhados por clubes do mundo afora adotarem a medida, sob a justificativa de que o Manchester faz assim.
Como sempre, na luta entre a pirataria e o oficial, quem sairá perdendo é o torcedor, que vê ameaçado o ingênuo e incomparável prazer de voltar para casa com a assinatura do craque do seu time ou da sua seleção em um pedaço de papel.
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