Não se pode levar a sério tudo que Paulo César Silva, vice-presidente de futebol do Paraná, disse após a humilhante derrota para o Salgueiro. Mas seria estupido ignorar alguns trechos do desabafo.

Há um excesso de bobagens, claro, assim como um diagnóstico do momento drástico do clube. Paulão foi torcedor, verdadeiro, exagerado, populista e indiscreto – não necessariamente nesta ordem.

As afirmações contra o time e a escolha de Guilherme Macuglia, por exemplo, são sinceras e – como toda sinceridade – merecem ser exaltadas em meio às encenações rotineiras de vestiário.

Ao dizer que o novo técnico era a 12ª opção da diretoria, ele não chegou a chocar – a não ser os puristas do lugar-comum. Duro seria ouvir: “O treinador contratado foi a primeira opção.”

Já o ataque a um torcedor – do perigoso modelo ‘comunicador social’ – foi completamente fora de hora e exagerada.

Paulão também se colocou na condição de abnegado. Elevou o papel de cartola deixando em segundo plano os sócios tricolores e os fiéis de todo jogo.

Na ponta do lápis, os dirigentes não fazem falta. São figuras secundárias. Quem faz todo time andar são as pequenas colaborações dos fãs – compra de ingresso, produtos licenciados, marketing indireto com amigos…

Entre equívocos e desabafos, Paulo César Silva também deu nos dedos dos jogadores. Lamentável? Muito pelo contrário. Fez o papel de alguém que ocupa o cargo máximo do departamento de futebol.

Ouvi alguns comentaristas dizendo que roupa suja se lava em casa. Discordo neste caso. Foi uma atuação pública do time, com transmissão na tevê. Qualquer outra declaração de Silva sobre o grupo teria de ser em tom elevado.

Os torcedores foram preservados pelo time? Não. Por que então preservar o time perante aos torcedores?

Jogadores são bem remunerados e tratados com bajulação. Os boleiros paranistas não merecem tamanha reverência. Arrisco-me a dizer que agora vão pedir bicho para escapar do rebaixamento. Alguém duvida?

Paulão foi populista ao colocar como condição para jogar no Paraná a necessidade de vestir a camisa como segunda pele. Isto foi uma piada. Como exigir de atletas que chegam ao clube em caçamba de caminhão alguma identidade com o clube?

O saldo final das declarações passa necessariamente por dispensas de atletas, transparência administrativa e apresentação de um projeto para 2012.

Esperam-se providências na Vila Capanema.

PS: Passou batido, mas o repórter Robson Martins lembrou-me há pouco: quem é o dirigente que leva jogador para a noite? Paulão disse que isso vem ocorrendo. Faltou alguém pedir o nome do sujeito na entrevista coletiva.