Na minha infância nos anos 80, convivi com uma mania nacional que fazia parte do cotidiano da tv brasileira. Todos os lances bonitos, polêmicos, engraçados e ou tristes ganhavam um “replay”. “Veja o repeteco!”, dizia meu pai, ao comentar um lance duvidoso de uma partida de futebol.
Afinal, aquele era único recurso disponível para conferir por uma segunda, terceira ou até quarta vez uma jogada. Não havia nenhuma tipo de tira-teima. A Globo só começou a usar esta tecnologia mais no fim da década de 80. Mas, se não me engano, na Copa de 86 o recurso eletrônico já dava os primeiros passos.
Voltando ao repeteco. Naquela época era moda mesmo…Logo depois do lance ao vivo, dá-lhe a repetição. Surgia aquele “R” piscando no canto superior direito da telinha.
Até mesmo na abertura do extinto programa Os Trapalhões, de 1984, a letrinha piscando aparece quando Didi tenta dar um bicleta com uma bola ferro presa ao pé (confira abaixo).
E sabem o motivo pro modismo? O tal replay era uma baita tecnologia. No Brasil, o video-tape ( a gravação) demorou para pintar. Era tudo ao vivo mesmo, na raça, no improviso. Funcionava assim até com as telenovelas.
No futebol, a inovação foi usada a partir da Copa do Mundo do México, em 1970. Antes, os jogos eram transmitidos como a gente vê no estádio: sem segunda chance.
Viciado no repeteco, pois tudo era motivo pra colocarem “R” na tela após uma belo chute do atacante, fui pela primeira vez no estádio quando tinha 8 anos de idade. Era 1987, Coritiba x São Paulo se enfrentaram pela Copa União, no Couto Pereira. O Coxa venceu por 3 a 2. Nem vi os gols direito, pois a torcida se levantava na hora dos gols e eu na esperança de conferir tudo pelo replay. Claro que o “R” piscando não veio e me deu uma certa frustração. O jeito era me adaptar ao ao vivo. Naquele mesmo jogo, teve expulsão do goleiro chileno Rojas, aquele mesmo do fiasco da Fogueteira no jogo Brasil x Chile, no Maracanã, nas eliminatórias para a Copa de 1990.
Não entendi, ou não vi, o motivo para expulsão do goleiro são-paulino. Só lembro que Gilmar Rinaldi, hoje empresário de Adriano Imperador, entrou para tentar evitar um gol de pênalti do Coxa. Será que foi isso mesmo? Não havia o repeteco.
E com base no comentário no internauta Fábio Aurélio, eis o complemento. Para escrever, ler e pensar estamos dependentes das tecnologias. Por exemplo, quantos números de telefones você tem arquivado na sua memória? Não vale a do celular.