Na reunião em que cobraram do coordenador Paulo Jamelli o salário do mês e bichos atrasados, os jogadores do Coritiba decidiram que o ideal era ter um porta-voz para falar à imprensa do problema.

Escolheram Keirrison. Por ser o astro do time. Por ser o jogador de maior visibilidade. A indicação assustou o K9, que recusou.

Por isso a história veio à tona sem nenhum jogador colocar o nome na reta. O colega Marcio Reinecken falou com meia dúzia de envolvidos na reunião que contaram a história, confirmaram o problema, mas pediram off.

Resultado do ciclo vicioso do futebol. Jogadores não assumem posições firmes com medo de serem queimados no meio ou de serem chamados de mercenários pelos torcedores. Ou simplesmente porque têm personalidade fraca.

Pois cobrar o que é justo é direito de todo mundo. Do jogador, do técnico, do dirigente remunerado, do blogueiro, do internauta. Ou vai dizer que você que está lendo não ficaria possesso se o seu salário atrasasse ou se a sua empresa demorasse a pagar algum prêmio por produtividade? Claro, boleiros recebem muito mais do que nós, mortais. Mas o direito é o mesmo.

E também tem a justificativa dada pelo Jamelli, no fim das contas o único que colocou o nome na reta na história. Jogou a culpa na crise mundial, que teria travado um dinheiro que entraria para o clube etc.

Me lembra uma história de uns seis anos atrás, quando o dólar bateu nos 4 reais. Eu freqüentava um cachorro quente sempre que voltava da balada e, do nada, o preço subiu. A culpa? Da alta do dólar, respondeu o carrinheiro. Salsicha importada? Mostarda heinz? Pão literalmente francês? Achei melhor não perguntar. Mudei de dog.

Há alguns meses, dirigentes do Coritiba admitiram que o clube trabalha com empréstimos bancários, aliás, prática bem comum no futebol nacional. Se isso continua ocorrendo, até pode se culpar a crise. Afinal, conseguir crédito está difícil para todo mundo.

Mas o problema é precisar recorrer a bancos. Sinal de que em algum momento a conta do clube não fechou. E se não fechou, é porque foi mal feita – seja com gastos acima do possível ou com uma previsão de receita muito otimista.

E aqui, que fique bem claro, não procuro culpados, até porque não tenho prova para acusar ninguém. A coisa pode muito bem ter sido herdada da gestão anterior e o pessoal lá pode estar se virando nos 30 para manter as contas minimamente em dia e um time competitivo em campo.

Agora, só não dá pra gente do clube ficar estufando o peito e arrotando grosso para dizer que outras equipes do futebol nacional atrasam mais e que isso é normal (o São Paulo vai fechar o ano com R$ 12 milhões de déficit).

É normal, mas é errado. E o dever de qualquer dirigente é tirar o seu clube dessa triste regra. O resto, sinto muito, é desculpa esfarrapada.