Resenha

Guerra em Omã e sopa de lagartixa: a jornada de um ex-Paraná Clube pelo “submundo” da bola

Tiago Chulapa em ação no futebol tailandês

O curitibano Tiago Chulapa é um “operário da bola”. O atacante de 33 anos, revelado pelo Paraná Clube, faz parte dos 97% dos jogadores de futebol que, segundo a CBF, não ostentam salários astronômicos. Lutam por um contrato a cada ano para sustentar a família.

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É assim que Chulapa encara o futebol desde criança, quando deixou o bairro Tatuquara, zona sul de Curitiba, em busca de seu sonho.  O centroavante grandalhão de 1,91 m está em seu quinto ano na Tailândia, onde conquistou prestígio. Já foi um dos artilheiros do país asiático quando jogava a segunda divisão e recentemente se transferiu para o Police Tero, da elite. Mas além das conquistas, que ele conta com orgulho, Tiago é bom mesmo de resenha.

“Quando eu cheguei na Tailândia, os amigos do time me chamaram para uma janta. E eu fui tranquilo né. Chegando lá, eles estavam cozinhando um negócio estranho. Me falaram que era lagartixa e eu achei que era sacanagem. Mas era sopa de lagartixa mesmo”, conta. “Pior que você não sente o gosto, tudo tem muita pimenta. Mas eu gosto de experimentar essas comidas exóticas. Já comi verme assado, grilo. Aqui é assim mesmo, sem problema”, brinca o curitibano.

Entre as histórias pelo mundo “dark” do futebol, Chulapa lembra quando cruzou com tanques de guerra para chegar ao estádio. A história começa quando surge uma oportunidade, em 2014, de ir jogar nos Emirados Árabes. Mas por um problema com documentação, o jogador ficou retido por lá sem jogar e sem receber salário por três meses.

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Eis que surge a chance de ir para Omã (país na Península Arábica que faz divisa com com o Iêmen, que está em guerra). E foi lá, vestindo a camisa do Sur Club, que Chulapa foi apresentado aos tanques de guerra.

“Teve um jogo que gente estava indo para a capital Mascate. Primeiro vi uns policiais armados na pista. Até aí beleza. Depois, o negócio ficou tenso. Vi tanques de guerra no meio da rodovia. Aí já bateu aquela tensão no ônibus, todo mundo quieto, olhando pra baixo. E não tinha pra onde correr, era rodovia e montanha. Só depois que a gente passou ficamos sabendo que tinha a barreira era porque tinham refugiados do Iêmen indo para Omã”, relembra.

Ídolo na Paraíba

Tiago Chulapa lamenta não ter tido oportunidades no Paraná. Logo que subiu para o profissional, deixou a carreira na mão de empresários, algo do qual se arrepende, e acabou seguindo outro rumo. Na base, ele chegou a ser convocado para a seleção brasileira sub-18 e jogou com Giuliano, Éverton (hoje no Grêmio) e com o goleiro Thiago Rodrigues.

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Ele também passou pela base do São Paulo e lá atuou com David Luiz. Mas a verdade é que ele só descobriu que o David era o mesmo zagueiro ex-seleção após uma reportagem do Tino Marcos na Copa de 2014.

Entre tantos clubes rodados pelo Brasil, da Suburbana curitibana à Série B do Brasileirão, o clube que Chulapa guarda o maior carinho é o Treze, da Paraíba, onde jogou em 2013. E um episódio marcou sua vida no time de Campina Grande.

“Era semana de clássico e na quarta-feira minha mãe faleceu. Enfisema pulmonar. Pra mim foi muito marcante, ela que me fez virar jogador. Eu vim pra Curitiba no velório e voltei pra jogar no domingo. Quando fomos enfrentar o Campinense, a torcida levou várias placar de apoio e escutar o estádio gritando ‘força Chulapa’ me arrepia até hoje. Essa é uma dívida que eu tenho com o Treze e sua torcida”, finaliza o jogador.

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