A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) revelou nesta sexta-feira (24) que foi alvo de “violentos” ataques racistas nesta semana pelas redes sociais, com mensagens que comparavam jogadores e torcedores brasileiros a macacos. O presidente Ednaldo Rodrigues também foi alvo dos ataques. A entidade divulgou que já encaminhou o caso às autoridades policiais e que denunciou os perfis autores do ataque ao Instagram. Também enviou ofício à Fifa e à Conmebol.

“Esse tipo de crime não será tolerado. Ao contrário de um passado não tão distante, de uma CBF indiferente, iremos enfrentar a questão do racismo e continuar empunhando a nossa bandeira de combate a esse crime, como fizemos com a realização, em 2022, do I Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, que teve sua extensão com a criação de um Grupo de Trabalho que vem desenvolvendo diagnósticos, propostas e ações concretas no sentido de banir essa doença da sociedade, dentro e fora dos campos”, informou a entidade.

A CBF frisou que desenvolveu ações emblemáticas no combate ao racismo, sendo a primeira confederação no mundo a implementar penas desportivas em casos de racismo, decisão que teve repercussão mundial.

“Nossa luta seguirá e não será interrompida por atos como estes. Todas as medidas junto às esferas pública e privada serão tomadas cada vez que houver algo semelhante aos ataques que sofremos. Não haverá trégua”, enfatizou a CBF. “A luta contra o preconceito é uma das bandeiras mais importantes da atual gestão. Venha de onde vier, de racistas como estes, de xenófobos como estes, de homofóbicos, de criminosos e de pessoas que fazem parte de um passado sombrio e corrupto da entidade e daqueles que ainda tentam, de todas as formas, retomar suas benesses pessoais.”

Episódios de racismo não são raros no futebol mundial. Um dos casos mais emblemáticos é o do atacante brasileiro Vinícius Júnior, do Real Madrid, que já sofreu vários insultos nos campos da Espanha.

Esses acontecimentos estimularam Brasil e Espanha a marcar um amistoso em março de 2024, com o lema “Uma só pele”. “É um ato para chamar a atenção de todos a refletir sobre o fim da discriminação”, afirmou a CBF após divulgar os ataques pelo Instagram.

“Tenho orgulho de ser o primeiro negro, nordestino, descendente de indígenas a ocupar a presidência da CBF”, afirmou o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues. “Não serei intimidado por criminosos, racistas, xenófobos e corruptos que transitam pelas sombras.”

Neste ano, jogos da Conmebol também viraram notícias com torcedores presos depois de terem sido flagrados imitando macaco. O preparador físico do time peruano Universitário, Sebastian Avellino Vargas, também ficou detido preventivamente em São Paulo. Ele foi acusado de ter feito gestos em direção aos torcedores e de ter chamado corintianos de macacos durante jogo da Sul-Americana.

Em maio deste ano, outro caso foi registrado na Série C do Campeonato Brasileiro. Na partida entre Altos e Ypiranga, em Teresina, o goleiro Caíque, do Ypiranga, acionou o árbitro para relatar gritos racistas atrás de seu gol. De acordo com o goleiro, um homem o chamou de “uva preta”. O torcedor foi preso em flagrante.

CBF apoia Rodrygo e promete que amistoso na Espanha será marco do combate ao racismo

Alvo de insultos racistas nas redes sociais após discutir com Messi durante a derrota por 1 a 0 do Brasil para a Argentina, no Maracanã, o atacante Rodrygo recebeu apoio da CBF, que publicou uma nota para condenar o comportamento dessa parcela de torcedores argentinos. No texto, a entidade também pontua a expectativa que tem colocado sobre o próximo amistoso da seleção, marcado para março de 2024, contra a Espanha, no Santiago Bernabéu, em Madri, onde serão realizadas ações contra o racismo.

Depois do jogo de terça-feira, no Rio, torcedores da atual campeã do mundo invadiram as redes sociais do brasileiro do Real Madrid para ofendê-lo com mensagens racistas, e o próprio jogador denunciou o caso, dizendo que não abaixaria a cabeça frente aos ataques. Na nota publicado no final da noite de quinta-feira, a CBF diz que “seguirá trabalhando de forma incansável para banir do futebol esta doença chamada racismo”.

“O racismo não vencerá. Me solidarizo com Rodrygo, que sofreu ataques violentos e injustificáveis”, disse Ednaldo Rodrigues, presidente da entidade esportiva. “Atitudes como essa, que infelizmente já vimos acontecer outras vezes com jogadores brasileiros negros, merecem punição. O papel da sociedade, o papel da CBF, é o de criar mecanismos para conter e estancar esse crime, dentro e fora dos campos. Como primeiro presidente negro da CBF, sigo lutando pelo dia em que nenhuma pessoa será discriminada pela cor da sua pele.”

Ednaldo tem falado bastante sobre racismo durante sua gestão e se pronunciou quando Vinícius Júnior entrou nos holofotes da imprensa mundial combatendo duramente o racismo do qual é vítima na Espanha, com a camisa do Real Madrid. Foi nesse contexto que se deu a organização da partida entre Brasil e Espanha no Santiago Bernabéu, duelo que o presidente da CBF acredita que será um marco no combate ao racismo.

“Em março do ano que vem, na próxima data FIFA na Espanha, contra a Seleção Espanhola, você Rodrygo, Vinícius Jr., além de todos os brasileiros que são vítimas do racismo, iremos realizar mais que um jogo, mas uma ação, chamada “Uma só pele”, que é um chamamento à reflexão sobre esse tipo de violência que você sofreu, que Vinícius sofre e que todos aqueles que como vocês, brasileiros ou não, jogadores ou não, sofrem diariamente neste planeta”, afirmou.

Antes do pronunciamento da CBF, Rodrygo já havia recebido o apoio do Santos, clube que o formou. “Mais do que repudiar, o Santos FC deseja que todos os responsáveis pelos atos de racismo cometidos contra o nosso Menino da Vila sejam condenados como determina a lei. Racismo é crime e assim deve ser tratado”, escreveu. Vini Júnior e o zagueiro Rudiger responderam à publicação do companheiro de Real Madrid com emoji do símbolo contra o racismo.

Rodrygo.