Entrevista

Às lágrimas, Rafinha lamenta não poder se despedir da torcida no Couto Pereira

Por
Fernando Rudnick
07/01/2022 13:52 - Atualizado: 04/10/2023 17:04
Rafinha fez coletiva para se despedir.
Rafinha fez coletiva para se despedir. | Foto: Fernando Rudnick/UmDois Esportes

Um dia após ser surpreendido com sua demissão do Coritiba, o meia-atacante Rafinha concedeu coletiva em um hotel de Curitiba nesta sexta-feira (7). Emocionado, o jogador de 38 anos interrompeu várias vezes a entrevista porque não conseguiu segurar o choro.

Ao lado dos filhos e da esposa, ele agradeceu o carinho da torcida e se disse orgulhoso por fazer parte da história de um clube gigante como o Coxa. No entanto, ao contrário de 2013, quando deixou a equipe para jogar na Arábia Saudita, agora a despedida é definitiva.

"Pela primeira vez depois de tanto tempo vestindo essa camisa vou dizer que é um adeus, não vai ser um até logo. Na outra vez foi um até logo, tinha certeza que vestiria essa camisa de novo, dessa vez não", lamentou Rafinha, que não definiu seu futuro: continuar jogando ou se aposentar.

Rafinha demonstrou muita mágoa sobre como sua saída foi conduzida – e rebateu a ideia do head esportivo René Simões de que seria constrangedor encerrar o contrato no bando de reservas nos últimos quatro meses de contrato.

O camisa 7 se reapresentou para a pré-temporada normalmente, fez exames e só foi comunicado pela diretoria três dias depois. Ele ressaltou que sentiu falta de um gesto da diretoria: a possibilidade de se despedir da torcida pessoalmente.

"Não digo [que precisava] nem de um jogo, mas estar presente no Couto algum momento. Pelo menos acenar para o torcedor que a vida inteira me viu como jogador dentro e fora de campo", disse. "Pelo menos uma opção deveria ter sido dada, um dia de jogo no Couto, ir, me despedir do torcedor. O clube demonstrar um pouco de gratidão", completou.

O ídolo coxa-branca também prometeu que a partir de agora vai ser mais um torcedor na arquibancada. "Quero assistir um jogo na Império, saber como é. Saber dos torcedores que deixam de pagar algumas coisas para estar no estádio, para conseguir o ingresso. Quero ter o privilégio de vivenciar o que o torcedor vive nos dias de jogos".

Resposta a René Simões

Se eu ficaria no banco ou não, não se sabe. Em uma pré-temporada não sabemos o que o treinador vai escolher, não se sabe o que pode acontecer no decorrer. Tudo que construí, falar que iria ficar no banco é precipitado da parte dele. Sempre respeitei a opinião, se tivesse que ficar no banco respeitaria. Quando fui pro banco não aceitei, mas sempre respeitei. Nunca tive atrito por não estar jogando. Se tenho contrato, o clube é obrigado a arcar, acharia mais justo poder cumprir meu contrato mesmo não jogando.

Como foi comunicado

Na noite anterior, recebi uma mensagem dizendo que tinha que me apresentar no Couto às 10h. Até questionei que tinha treino, mas disseram que estava liberado. Foi um noite difícil, pensamentos e pensamentos sobre o que seria. Chegando na reunião, as primeiras palavras foram que não fazia mais parte do elenco. Por alguns motivos, não me encaixaria mais no planejamento do clube, por contratações que estavam sendo feitas, jogadores da base que precisavam jogar. Que teria limite de inscrição no Paranaense, alguns jogos seriam para preparar jogadores que estavam chegando e que a decisão estava tomada. A partir daquele momento seria feita a rescisão, que eu tinha que seguir meu caminho minha vida, e o clube a dele. Em nenhum momento teve algum tipo de conversa, situação para ser feita. Eles poderiam ter falado comigo nas férias, pelo menos fazer uma ligação e dizer que não fazia mais parte do planejamento. Passei um bom tempo de férias quebrando a cabeça, conversando, pensando em como seria o ano do clube, se realmente o clube precisava do Rafinha jogador, da pessoa fora de campo. Cortei viagem pra me reapresentar. E recebi essa notícia três dias depois. Eles disseram que antes não tinha uma pessoa no futebol para organizar isso, que o René chegou depois. Eu agradeci e quando estava levantando para ir embora o Osíris [Klamas] perguntou se já tinha alguma coisa planejada para o pós-carreira. Falei que não, que precisava terminar um ciclo para começar outro. Ele disse que tinham cogitado se poderia ter algum cargo para continuar no clube, mas que não acharam nenhuma função para mim. E mesmo se oferecessem, não aceitaria porque não estou preparado. O René falou para eu estudar e quem sabe no futuro. Levantei, mandei algumas mensagens, falei com minha esposa e fui no CT pegar minhas coisas.

Despedida em campo

Não digo [que precisava] nem de um jogo, mas estar presente no Couto em algum momento. Pelo menos acenar para o torcedor que a vida inteira me viu como jogador dentro e fora de campo. Agradecer em uma coletiva de imprensa programada por amigos para agradecer e demonstrar toda gratidão que nossa família tem não era muito o que esperava. É o que conseguimos. Dificilmente o clube vai fazer outra coisa em relação a isso. Disseram que não tem calendário.

Carinho pelo clube

O carinho pelo clube vai ser eterno. A família que tenho dentro de casa... a primeira coisa quando cheguei foi nos juntarmos os quatro e dizer que o carinho que temos, o sentimento, o amor, continua. Vamos continuar indo ao estádio, não vamos deixar nunca de gostar desse clube. Agora vou poder ir no estádio, xingar quem quiser, comemorar como comemoro em casa e ninguém sabe, jogar coisas no chão.

Propostas e futuro

Já recebi algumas, engraçado, você começa a receber um monte de ligação: 'tá livre, assinou a rescisão?' Não, cara, deixa eu resolver primeiro, tenho uma entrevista difícil a fazer. Tenho que encerrar esse ciclo primeiro, depois a gente pensa.

Condição de jogo

Tive uma conversa com o fisiologista do clube e ele disse que só paro se quiser, se a cabeça não aguentar. Pelos dados deles, consigo render em alto nível. Isso me deixou muito feliz se tomar a decisão de continuar. Sei da minha capacidade em campo. Sei que o problema maior dos jogadores é físico e eles me deram o respaldo. Se tomar a decisão de continuar, depende do tipo de projeto, de clube, cidade. Nunca joguei em um rival e nunca vou jogar. Isso é certo. Passei pelo Paraná e vim para o Coxa, mas eram momentos diferentes.

Sentimento

Pela primeira vez depois de tanto tempo vestindo essa camisa vou dizer que é um adeus, não vai ser um até logo. Na outra vez foi um até logo, tinha certeza que vestiria essa camisa de novo, dessa vez não. O sentimento é de dever cumprido. Muito obrigado a todos, desculpa se fiz algo para alguma pessoa, só tenho que agradecer, o sentimento é de gratidão e felicidade. Quero estar no estádio torcendo e vibrando junto com o torcedor.

Veja também:
Jogador do Operário acusa rival de injúria racial e jogo fica paralisado na Série B
Jogador do Operário acusa rival de injúria racial e jogo fica paralisado na Série B
Athletico demite Barbieri após goleada vexatória na Arena
Athletico demite Barbieri após goleada vexatória na Arena
Vexame histórico expõe fragilidades do Athletico na Série B
Vexame histórico expõe fragilidades do Athletico na Série B
Athletico é humilhado em casa pelo Botafogo-SP e passa vergonha histórica
Athletico é humilhado em casa pelo Botafogo-SP e passa vergonha histórica

Fernando Rudnick é formado em jornalismo e pós-graduado em comunicação esportiva. Sempre repórter, começou a cobrir o dia a dia dos times paranaenses em 2009, quando entrou na Gazeta do Povo. Atualmente, é coordenador do UmDois Es...

twitter
+ Notícias sobre Coritiba
De joia a jejum: Revelação vira alvo da torcida do Coritiba
Série B

De joia a jejum: Revelação vira alvo da torcida do Coritiba

Mozart rebate críticas após derrota do Coritiba: "Aqui você perde e está no inferno"
Série B

Mozart rebate críticas após derrota do Coritiba: "Aqui você perde e está no inferno"

Apagão generalizado do Coritiba torna mais difícil de entender o novo futebol brasileiro
Carneiro Neto

Apagão generalizado do Coritiba torna mais difícil de entender o novo futebol brasileiro

Tudo Sobre

Às lágrimas, Rafinha lamenta não poder se despedi...