No futebol, o uso de artimanhas motivacionais e psicológicas é um artifício consagrado antes das grandes decisões. Vale tudo para atiçar os brios, reforçar a gana, deixar time e torcida “com o sangue nos olhos”. E para isso, nada melhor do que qualquer indício de menosprezo, soberba ou “já ganhou” por parte do adversário.

Na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1985, o Coritiba encontrou seu energético mental em uma foto tirada pelo Atlético-MG, antes da partida de volta, no Mineirão. Após um de seus treinos, a equipe do Galo participou de uma sessão de fotos, com a tradicional pose do time em formação, normalmente usada nos pôsteres de campeão.

O compromisso fotográfico do time mineiro chegou ao conhecimento do técnico coritibano. E Ênio Andrade não hesitou ao usar o episódio, junto com declarações otimistas dos jogadores adversários, como incentivo para seus comandados.

Na véspera do jogo que definiu um dos finalistas, o assunto foi destaque na Tribuna do Paraná. “Vai lá, Cori. Eles já têm foto pronta”, manchetou o jornal.

Era mesmo uma bomba motivacional. Afinal, o Coritiba havia vencido a primeira partida por 1 a 0, no Couto Pereira, com uma ótima atuação, consagrada pelo gol do zagueiro Heraldo. Mas o Galo seguia mostrando confiança total de que seu time recheado de craques, como Nelinho, Paulo Isidoro e Reinaldo, viraria o confronto no Mineirão.

Ênio Andrade Coritiba
Ênio Andrade em treino do Coritiba. Foto: Rubens Vandressen/Arquivo Gazeta do Povo

“O técnico Ênio Andrade achou excelente mais esse detalhe para a preparação psicológica do elenco, pois esse entusiasmo do adversário certamente provocará uma reação de retorno por parte dos coxas, que vão querer provar que não será tão fácil assim conquistar a vaga para a final”, escreveu a Tribuna.

E realmente não foi nada fácil para os mineiros. Pelo contrário. No Mineirão, o Coxa foi heróico e segurou o empate em 0 a 0. Em grande parte, graças ao goleiro Rafael, que salvou até um desvio contra o patrimônio de Heraldo, segurando a bola em cima da linha. O Coxa estava na final do Brasileirão. E com uma vaga garantida na Libertadores de 1986.

“O Coritiba merecia ir para a final. No banco, eu torci mais do que nunca por isso. Seria o maior prêmio por tudo o que esses jogadores fizeram desde que eu cheguei aqui. Houve empenho, aplicação e muito trabalho por parte de todos eles. Montei um esquema que foi aceito por todos e hoje o Coritiba conquista um importante lugar não só no cenário nacional, mas em especial no internacional. Estou realizado. Claro que também sou vaidoso, mas esta classificação é fruto da aplicação do elenco”, disse Ênio Andrade após a partida.

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