Entrevista

Dez anos depois, Geraldo, ex-Coritiba, veste a carapuça de carrasco do Athletico

Por
Rafaela Rasera
07/05/2025 13:06 - Atualizado: 07/05/2025 13:06
Geraldo, carrasco do Athletico, em imagem gerada por IA.
Geraldo, carrasco do Athletico, em imagem gerada por IA. | Foto: Imagem gerada por IA.

Há pouco mais de dez anos, Geraldo se despedia do Coritiba, carregando momentos marcantes, títulos e a fama de carrasco do rival Athletico. Papel que ele mesmo concorda e relembra com saudade.

"A bola sempre me procurava em Atletiba", recorda o atacante batizado Hermenegildo da Costa Paulo Bartolomeu, mas que será sempre o Geraldo do Coxa.

Em entrevista exclusiva ao UmDois Esportes, o angolano de 33 anos, que atualmente defende o Çorum FK, da Segunda Divisão da Turquia, passou a limpo sua passagem pelo futebol paranaense, incluindo a discreta ida ao Paraná Clube.

Geraldo falou sobre o clima de Atletiba – o clássico mais legal que já jogou – e também deu dicas para o Coxa conquistar a Série B, assim como ele mesmo fez na campanha de 2010.

"Essa identidade com o Couto Pereira e o torcedor, para quem vai jogar no Coritiba, tem que existir, tem que ter essa conexão. Torna muito mais fácil porque o torcedor do Coritiba é exigente. Para todas aquelas pessoas que jogam no Coritiba, eu gostaria que elas tivessem essa mesma identidade", afirmou.

Assista à entrevista completa com Geraldo

Leia a entrevista com Geraldo, ex-Coritiba

Atualmente você está jogando na Turquia. Como está sendo esse período no Çorum FK?

É minha segunda temporada aqui. Jogamos semana passada, infelizmente não conseguimos classificar para os play-offs, mas permanecemos na Liga, que é a segunda divisão da Turquia. Vamos ver se conseguimos subir para a primeira na próxima temporada. Matematicamente ainda tem chance, mas através das combinações fica muito difícil a gente classificar agora.

E você consegue acompanhar o Coritiba daí da Turquia?

Sempre que posso, eu procuro acompanhar. Os horários são meio difíceis para ver os jogos. Aqui são 2 horas da manhã, 3 da manhã. Mas eu estou sempre acompanhando, sempre seguindo o clube. Ano passado acompanhei muito mais do que esse ano. Quando estou no Brasil, eu vou para o estádio, vou lá assistir aos jogos.

Ano passado, as coisas foram um pouco complicadas. Os últimos dois anos tem sido difíceis. Como você tem visto esse momento do Coxa?

Acredito que os últimos quatro a cinco anos foram meio complicados para o clube. Para a gente que é torcedor, é meio difícil ver o clube passando por tudo o que tem passado. Não tem conseguido classificar para subir para a Primeira Divisão e é um clube que sempre disputou a Primeira Divisão.

E olhando de fora, é muito difícil também opinar ou dizer alguma coisa, porque a gente não sabe o que acontece lá no dia a dia com o pessoal. Mas para a gente é bem difícil e é triste ver o clube passar uma situação dessa.

Esse ano até está dando uma animada em relação ao ano passado, né? O pouco que você está conseguindo acompanhar, pelo menos esse início de Série B, o time já está brigando.

É, pelo menos, pelo que a gente pode ver, há uma esperança maior em relação aos anos anteriores. O time começou bem no campeonato, ganhou algumas partidas importantes com adversários difíceis. Eu pude acompanhar um jogo com o Novorizontino. Estamos na expectativa de que o time consiga subir e que se organize de uma vez por todas.

E você jogou a Série B pelo Coritiba e foi campeão em 2010 no teu primeiro ano, pelo Coxa como profissional. Qual é o segredo de uma temporada campeã, de uma temporada protagonista?

Para mim foi maravilhoso porque foi praticamente o meu primeiro ano no clube, ali eu me tornei profissional, fomos campeões do Paranaense, depois joguei a Série B. Então, cara, é um campeonato bem difícil, com muitas equipes boas.

E o time que a gente tinha na época, não tem muito o que falar, era muito bom. Eu revezava, em vez de jogar titular, começava no banco, porque o time era muito bom, tinha Rafinha, tinha muita qualidade. Foi espetacular poder voltar com o clube para a Primeira Divisão.

Atacante Geraldo é estrangeiro com mais jogos pelo Coritiba
Atacante Geraldo é estrangeiro com mais jogos pelo Coritiba

E você dá alguma dica para quem está hoje e quer levar o Coxa para a Série A?

Eu morei no Couto, no meu primeiro ano, em 2009, eu não pude jogar, só pude treinar com o time profissional, porque não estava inscrito. Eu morava no Couto, acompanhava todos os jogos e sempre idealizava e sonhava que queria estar ali.

Então essa identidade com o Couto Pereira e o torcedor, para quem vai jogar no Coritiba, tem que existir, tem que ter essa conexão.

Torna muito mais fácil porque o torcedor do Coritiba é exigente, e no bom sentido. E a gente, como jogador de futebol, quando se identifica com o clube, quer dar tudo por ele. Então, para todas aquelas pessoas que jogam no Coritiba, eu gostaria que elas tivessem essa mesma identidade, que as coisas se tornam muito mais fáceis.

Você falou de 2009, quando você não podia jogar ainda, não tinha completado 18 anos, teve toda aquela questão. Como foi olhar e não poder ajudar, ver o rebaixamento e tudo aquilo acontecendo?

Para mim, foi muito difícil acompanhar todos os atletas lutando para poder salvar o clube do rebaixamento e não poder ajudar. E, graças a Deus, em 2010, eu já fiz parte da reconstrução. Fomos jogar aqueles vinte e três jogos fora de casa em Joinville. Então, eu já fiz parte disso tudo ali.

Então, para mim, foi muito bom ter feito parte disso. No ano seguinte, em 2010, recebemos várias pessoas que tiveram problemas com aquilo que aconteceu em 2009 e foi o engajamento maior que fez com que nós também atletas passássemos aquela situação dos vinte e três jogos fora de casa.

E você já estreia no auge, com gol contra o Athletico e título do Campeonato Paranaense em 2010.

Foi incrível. As coisas aconteceram de uma forma muito rápida no Coritiba para mim. Então, os meus primeiros jogos eu já ganhei um protagonismo muito grande e quase todos os jogos que eu joguei contra o Athletico, eu acabei fazendo gol.

E a maioria dos jogos que eu joguei, que eu fiz gol, eram jogos de título ou muito importantes. Pude fazer uma história, ter um sentimento muito legal com os torcedores, que até hoje eles, quando lembram da Atletiba, conseguem relembrar alguns lances meus e alguns gols.

Você era o carrasco do Athletico. Quatro gols só em Atletiba, dos treze que você fez. Você olhava o Athletico e isso te dava uma inspiração a mais?

Uma vez, um dos últimos Atletibas que eu joguei foi no Brasileirão e eu fiz um gol sem ângulo. O treinador era o Marquinhos Santos. Na semana do jogo, ele já chegou para mim e falou: "É tua semana, hein? Se prepara". Aí eu falei: "Eu estou focado, estou preparado, pode deixar".

E no jogo, tinha tudo para aquela bola dar errado, mas ela caiu exatamente no meu pé. O Alex estava com ela, passou para o Robinho, ele foi chutar no gol, chutou errado e a bola veio para mim meio sem ângulo. Eu consegui chutar e foi gol. A bola geralmente no Atletiba sempre me procurava.

[Veja o gol abaixo]

E falando um pouco da sua chegada, tanto no Coxa, mas também no Brasil, você chega muito jovem. Como foi esse processo?

Cheguei com 14 para 15 anos no Brasil. Eu estava num time de Campo Lago, o Andraus. Estava treinando lá, joguei a Taça BH, campeonato de juniores, depois joguei uma Taça São Paulo. E então eu voltei para o Andraus novamente.

Aí eu fui fazer um teste na Udinese, da Itália. Fiquei lá cinco meses, não fui aprovado e voltei com 16 anos para o Brasil. Eu fui fazer um amistoso contra o Coritiba pelo Andraus e o treinador era o René Simões, gostou muito de mim, disse que era para eu treinar com o profissional, e descer sempre para jogar nos juniores.

E aí eu fui para o Coritiba, só que eu não descia para os juniores porque o time na época era muito bom. Tinha o Luccas Claro, o Lucas Mendes, todos eles eram muito bons na época. Então não tinha necessidade de eu descer. Então eu permaneci no profissional até que estreei em 2010.

E eu li uma história que antes de você chegar no Coritiba, o Nadim Andraus tentou te levar para o Athletico. Como é que foi isso?

Sim, porque o Nadim era um dos conselheiros do Athletico. Então ele quis muito que eu fosse para lá e não para o Coritiba. A oportunidade surgiu primeiro para o Coritiba, eu abracei e fiquei feliz por ter ido para o Coritiba. E aí a cada gol, ele ficava "chorando", pedia para eu parar (risos).

E por que você deixa a Angola e vem para o Brasil? Eu queria entender um pouco dessa história. Por que o Brasil?

Eu jogava em uma escola de futebol, a Escola Roberto de Castro. E jogava na seleção sub-15. E tinha um treinador brasileiro, o Djalma Campos, era treinador de um time lá em Angola. E ele conhecia a escola do Nadim.

Então ele entrou em contato, disse que tinha um jogador da seleção sub-15 que jogava muito bem. Se eles tinham interesse de me chamar, eu fui fazer um teste e me chamaram para jogar lá.

Quando eu desembarquei da Angola no aeroporto do Galeão, me encontrei com o Dunga. Daí o meu pai foi falar com ele, disse que a gente estava vindo aqui para o Brasil, fazer um teste no Andraus.

E aí ele desejou boa sorte, para que tudo corresse bem. E fiquei muito feliz, isso ficou marcado para mim para a vida toda. A primeira pessoa que eu me encontrei foi o Dunga, uma pessoa conhecida no mundo do futebol. Foi uma coincidência muito boa. Tenho uma foto com ele até hoje, desse encontro, eu era muito pequeno.

E no Coxa você tem algum gol mais marcante?

O gol que ficou mais marcante foi o meu primeiro gol como atleta profissional. E o que ficou mais marcante foi esse gol que eu fiz contra o Atlético na final, que o Manoel acaba caindo. E por coincidência, foi o meu primeiro gol como atleta profissional. Foi algo incrível.

E você morava no Couto nessa época. Como era também ficar longe da família?

Para mim foi um pouco difícil estar longe da família, porque eu era muito novo. E estar em outro país, sem ninguém familiar, mas a facilidade que eu tive de poder estar num lugar onde fala a mesma a língua e que tem comida parecida. Então, não tive muitos problemas.

E também eu sempre fui uma pessoa muito de fácil acesso e o Brasil é muito receptivo. Então, foi bem tranquilo quanto a isso.

O Rafinha foi a pessoa que mais me ajudou no Coritiba. Eu ia pra casa dele e comia todo dia lá. Eu estava lá quase sempre na casa dele.

Então, foi a pessoa que mais me ajudou no Curitiba. E o Hugo também, antes do Rafinha chegar, ele me ajudou muito.

Eu e Rafinha somos amigos há bastante tempo. Quando estou de férias, eu vou para aí e fico um mês. Mas eu continuo vivendo em Curitiba. Só estou aqui jogando fora e continuo vendo aí meus filhos, meus pais, todos vivem em Curitiba.

Apenas eu que estou aqui na Turquia, mas sempre estou indo e voltando. Inclusive, semana que vem, eu vou estar de férias. Daí vai acabar e eu vou pra aí. Certeza que eu vou lá no Couto assistir.

Você jogou no Coritiba numa época, igual você falou, com um time muito bom, muito protagonista. O que você acha que fez aquele time se destacar tanto dentro de campo?

Eu acho que a qualidade do time era muito boa. Pra você ter noção, o Everton Ribeiro muitas das vezes foi banco naquele time. Ele era reserva. E as coisas aconteceram como tinham que acontecer, porque o time tinha uma qualidade muito boa. Até o banco era incrível.

Tinha o Rafinha de um lado, tinha o Everton Costa, tinha o Everton Ribeiro, tinha eu, tinha um monte de gente que dava uma qualidade no time muito boa, incrível. E 99% daquele time, quase todo mundo teve sucesso.

Uns maiores do que os outros, mas a maioria sempre jogou em lugares com referência e jogaram muito bem.

E um momento também que teve muita conexão ali. Time, torcida, o Couto Pereira era uma fortaleza.

A gente dificilmente perdia no Couto. Era uma marca daquele time. E por isso que teve aquela sequência de 24 vitórias em seguida ali.

Eu abria o começo marcando um gol contra o Irati marquei no final contra o Palmeiras, no 6 a 0. Marquei o quinto gol. É uma história incrível a minha no clube. Fico feliz por ter essa história.

E também não foi só no Coritiba que você jogou aqui na cidade. Teve uma passagem ali no Paraná, que foi rápida e mais discreta, né? Como é que foi esse momento?

Foi um momento meu complicado no Coritiba porque foi a primeira vez que eu tive uma lesão mais grave. Eu fiquei 3 a 4 meses parado e quando voltei o time já estava encaixado e acabei sendo emprestado para o Paraná.

Então foi um momento muito complicado porque eu cheguei me recuperando da lesão. Infelizmente não pude dar para o Paraná aquilo que eu poderia. Aquilo que eu apresentei durante muitos anos no Coritiba. E depois pude voltar pro Coritiba e dar a volta por cima lá na seguida e acabei fazendo dois gols na final do Paranense.

Tem uma parte muito legal que eu acho da tua carreira que você consegue jogar no teu país profissionalmente. Como foi esse momento?

Eu nunca tinha jogado na Angola profissionalmente. Então sempre que eu ia para a seleção, todo mundo cobrava que eu deveria jogar lá, não quando estivesse assim terminando a carreira mas num momento que eu poderia entregar bastante coisa assim pelo time.

Foi a oportunidade de o pessoal poder me ver jogar um pouquinho. Eu cheguei lá o time estava há 5 ou 6 anos que não ganhava nada, cheguei e a gente ganhou bastante campeonato lá.

E lá na Angola qual que era o rival do time que você jogava? Como eram os clássicos?

Eu fui para o Primeiro de Agosto e o rival era o Petro de Luanda. Era bem pegado, era bem difícil. E como costume também fiz gol lá nos clássicos. Eram bem difíceis ali os clássicos. Era bem pegado, a cidade toda parava pra assistir o jogo, ficava lotada. Era bem legal.

Mais legal que Atletiba?

Não tem como. Atletiba ficou marcada na minha vida para sempre. A história toda construída em cima do Atletiba, ela é fantástica. O pré-jogo do Atletiba, ele já é muito bom. Já é incrível o pré-jogo. Daí quando você vai no jogo é aquela alegria, tá? Aquela euforia. Principalmente quando é no Couto Pereira.

A semana já é uma semana diferente das outras. Você chega, todo mundo fala: é Atletiba. Temos que ganhar, não pode perder.

Pode perder qualquer jogo do campeonato, mas esse aqui não pode perder. Você vai pra rua, os torcedores já começam a falar. O vizinho, o porteiro, todo mundo já começa a colocar aquela pressão. Porque se você perde, as pessoas são zoadas na escola. Então é bom sempre ganhar e dar aquela alegria para o torcedor.

Você tem vontade de voltar para o Coritiba?

Bastante. Eu sempre tive esse desejo. Se tivesse que voltar, parar de jogar no Brasil, seria no Coritiba. Por enquanto, não tive esse contato de poder voltar, então eu devo continuar aqui mais uns dois anos. Eu já tive o interesse de poder voltar lá atrás, entrei em contato com o clube, mas na época o clube optou por não ter essa volta. E depois, de lá pra cá, não teve mais interesse do clube.

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Formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), gosto de contar as boas histórias que o esporte proporciona....

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