colunas e Blogs
Papo Olímpico
Papo Olímpico

Papo Olímpico

Pequim-2022

O quê, mais um doping russo? Quem poderia imaginar?

Por
Marcio Antonio Campos
11/02/2022 19:34 - Atualizado: 04/10/2023 16:58
A patinadora russa Kamila Valieva durante o programa livre da prova de patinação artística por equipes, em 7 de fevereiro, em Pequim.
A patinadora russa Kamila Valieva durante o programa livre da prova de patinação artística por equipes, em 7 de fevereiro, em Pequim. | Foto: Fazry Ismail/EFE/EPA

Parece que em Pequim não se fala de outra coisa: os russos
da patinação artística ganharam a prova por equipes, mas ainda não levaram – a cerimônia
de premiação ainda não ocorreu, e ninguém sabe ao certo quando vai ocorrer
desde que começaram os rumores de que havia algo errado com um exame antidoping
da estrela adolescente Kamila Valieva, que fez história ao ser a primeira
mulher a acertar um salto quádruplo em uma competição olímpica. De início, parecia
que se tratava do exame realizado já durante os Jogos Olímpicos; depois,
apareceu até um rumor sobre “droga recreativa” – seria Valieva uma fã do Planet
Hemp? Só mais tarde os detalhes apareceram, e não são bonitos.

Valieva testou positivo para trimetazidina, uma substância encontrada em medicamentos para tratamento de problemas cardíacos como angina e que está na lista proibida da Agência Mundial Antidoping (Wada) desde 2014 por ajudar a aumentar a resistência dos atletas. A contraprova também deu positivo. O exame não foi feito agora, nos Jogos, mas em dezembro do ano passado, após o campeonato russo de patinação. O problema é que o laboratório sueco responsável pela análise entregou o resultado apenas no último dia 8 de fevereiro – àquela altura, Valieva já havia patinado duas vezes na prova por equipes, em 6 e 7 de fevereiro. Ela recebeu uma suspensão provisória, mas recorreu e, já no dia 9, apesar dos positivos, a agência antidoping russa “suspendeu a suspensão”. A cronologia está no site da International Testing Agengy (ITA), responsável pelo programa antidoping de Pequim-2022.

O Comitê Olímpico Internacional e a Federação Internacional de Patinação (ISU) levaram o caso à Corte Arbitral do Esporte (CAS), pedindo o restabelecimento da suspensão. O tribunal precisa correr – Valieva está inscrita na prova individual feminina, que começa na terça-feira, dia 15. E a corte tem de decidir não só o futuro, mas o passado: os russos perderão as medalhas da competição de que Valieva participou, ainda sem saber do resultado positivo? As regras da ISU sobre o tema dão a entender que a medalha corre risco. Pelo item 10.8, o momento crucial é o da coleta da amostra que contém a substância proibida. Se ela ocorreu durante uma competição, como foi o caso de Valieva, os resultados do atleta naquele evento são anulados; e, além disso, todos os demais resultados do patinador obtidos desde a data de coleta da amostra até o início da suspensão também deverão ser anulados, com tudo o que isso acarreta, incluindo perda de medalhas. A pegadinha está no “unless fairness requires otherwise”: o CAS pode achar que o “senso de justiça” recomenda a manutenção do resultado, sabe-se lá por que motivos, e deixar os russos com o ouro, ainda que Valieva seja impedida de competir daqui em diante.

Aí não tem como eu não dizer “eu avisei”. Sabem aquele desenho clássico do “se o Pica-Pau tivesse comunicado a polícia, isso nunca teria acontecido”? Então, se todas as autoridades que regulam o esporte mundial tivessem feito a coisa certa assim que o mundo soube do megaesquema estatal de doping russo, isso nunca teria acontecido. E a coisa certa era suspender a Rússia e fazer seus atletas competirem como independentes, assim como qualquer outro atleta de país suspenso: apenas em provas individuais (nada de provas por equipe, então), uniforme neutro, bandeira e hino olímpico no pódio, sigla IOA (“Independent Olympic Athletes”). Mas não: deixaram ter delegação própria, uniforme próprio, nome e sigla próprios (“Atletas Olímpicos da Rússia-OAR” em 2018, “Comitê Olímpico Russo-ROC” em 2021 e 2022), bandeira própria, hino próprio, competir em provas coletivas, e tudo isso depois de estar comprovado que os russos continuavam avacalhando com as regras antidoping! Uma piada de mau gosto, como escrevi no meu primeiro texto de opinião aqui no UmDois.

Se você trapaceia em grande escala
(e um esquema de doping como o russo é coisa muito pior que, sei lá, um ditador
querer nomear o presidente do comitê olímpico local) e recebe uma punição de brincadeirinha,
que estímulo você tem para fazer a coisa certa? Então, o resultado está aí.

#VaiNicole

Nicole Silveira no primeiro dia de competição do skeleton em Pequim. Foto: Wander Roberto/ANOC
Nicole Silveira no primeiro dia de competição do skeleton em Pequim. Foto: Wander Roberto/ANOC

Nicole Silveira terminou o primeiro dia de sua prova de skeleton em 14.º lugar. Estava em 12.º depois da primeira descida, mas perdeu duas posições, apesar de ter feito o 13.ª melhor tempo na segunda tentativa. Talvez dê para dizer que o top 15 é o lugar natural dela (o que para qualquer atleta brasileiro de inverno já é um tremendo resultado), embora não custe nada fazer umas continhas básicas.

Chegar ao top 10 seria um feito incrível, e terminar em oitavo lugar seria histórico, já que a melhor posição de um atleta brasileiro em Jogos Olímpicos de Inverno foi o nono lugar de Isabel Clark em Turim-2006. Pois bem, Nicole está 0,27 segundo atrás da chinesa Li Yuxi, atualmente na décima posição, e 0,66 segundo atrás da norte-americana Katie Uhlaender, a oitava colocada.

Dá pra tirar essa diferença? Olha, pelo que vimos ontem à
noite, completamente impossível não é. A alemã Hannah Neise pulou do oitavo
para o segundo lugar graças a uma segunda corrida espetacular, enquanto a
canadense Mirela Rahneva, que liderava a disputa depois da primeira descida,
fez uma segunda tentativa absolutamente miserável (o 18.º tempo da segunda
bateria) e caiu para nono. Nicole terá de fazer tudo direitinho e contar com
erros das adversárias; uma combinação difícil, mas os erros estão acontecendo.
Se, no entanto, a sorte não sorrir tanto assim para ela, que fique claro que o
top 15 já me deixará bastante satisfeito.

A prova continua na manhã deste sábado, às 9h20, horário de
Brasília. Nicole precisa terminar a terceira descida entre as 20 melhores para
participar da quarta e última bateria. Vai, Nicole!

Veja também:
Guardiola revela planos de se tornar presidente do Barcelona
Guardiola revela planos de se tornar presidente do Barcelona
Brasileirão: Top-5 goleiros mais valiosos da competição
Brasileirão: Top-5 goleiros mais valiosos da competição
Paraná confirma primeiros jogos da Divisão de Acesso na Arena e no Couto
Paraná confirma primeiros jogos da Divisão de Acesso na Arena e no Couto
É tudo mentira o que John Textor acusa?
É tudo mentira o que John Textor acusa?
participe da conversa
compartilhe
Encontrou algo errado na matéria?
Avise-nos
+ Notícias sobre Papo Olímpico
Como a Copa pode ajudar ou atrapalhar as pretensões olímpicas do Catar
Jogos Olímpicos de 2036

Como a Copa pode ajudar ou atrapalhar as pretensões olímpicas do Catar

Como proporcionar uma grande experiência olímpica aos voluntários
Entrevista

Como proporcionar uma grande experiência olímpica aos voluntários

Russos fazem o mundo esportivo de otário mais uma vez
Kamila Valieva

Russos fazem o mundo esportivo de otário mais uma vez