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Futebol olímpico

Daniel Alves, recorde olímpico de contradição

Por
Marcio Antonio Campos
09/08/2021 17:25 - Atualizado: 04/10/2023 17:37
Brasileiros do futebol foram os únicos atletas em toda essa edição dos Jogos Olímpicos a desrespeitar as regras sobre o uso do agasalho de pódio. Daniel Alves defendeu a atitude no Instagram.
Brasileiros do futebol foram os únicos atletas em toda essa edição dos Jogos Olímpicos a desrespeitar as regras sobre o uso do agasalho de pódio. Daniel Alves defendeu a atitude no Instagram. | Foto: EFE/Alberto Estévez

Nessa segunda-feira de ressaca olímpica, podíamos estar comemorando o nosso recorde de medalhas, fazendo uma ou outra projeção pra Paris, mas não, porque o assunto continua sendo a mesquinhez da CBF, que resolveu criar problemas para o movimento olímpico brasileiro ao jogar o protocolo no lixo e boicotar o agasalho de pódio na hora de a seleção masculina de futebol receber o ouro em Tóquio. Magoadinho com as críticas recebidas por atletas como Bruno Fratus e Poliana Okimoto, o capitão Daniel Alves foi ao Instagram pedir aquilo que não demonstrou na manhã de sábado: respeito.

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Se houvesse recorde olímpico de cinismo, contradição e
falácias, Daniel Alves seria o novo detentor da marca.

“Não queremos ser diferentes de ninguém” – mas foram, porque
todos os outros atletas olímpicos, não só os brasileiros, respeitaram o
protocolo sobre a vestimenta no pódio. Inclusive brasileiros que usaram
uniformes da Nike durante a competição, como os do skate. “Mas não aceitamos
algumas imposições” – algumas, não
todas. As da CBF, por exemplo, pra essas se abaixa a cabeça
tranquilamente. E o que ele chama de “imposições” nada mais são que as regras
de quem organiza a competição da qual o lateral e seus companheiros
participaram. “Presamos (sic) para
que haja uma igualdade dentro das modalidades ou pelo menos um equilíbrio”
– quem preza pela igualdade segue as regras que os atletas das demais
modalidades também seguiram e cumpre os contratos com a empresa que se dispôs a
patrocinar o esporte olímpico brasileiro.

Goste ou não Daniel Alves, nos Jogos Olímpicos são todos Time Brasil. Ou deveriam ser, já que o futebol realmente parece se sentir algo à parte. Tanto que no uniforme não estampam nem a bandeira do Brasil (como faz o vôlei), nem a logomarca do Time Brasil. Em vez disso, os uniformes do futebol trazem um arremedo tão tosco do escudo que nem uma confecção pirata seria capaz de fazer se tentasse imitar o original. Parece uma paródia feita intencionalmente.

Isaquias Queiroz com o uniforme da Peak, que exige a logomarca correta do Time Brasil. (Foto: EFE/Fernando Bizerra)
Isaquias Queiroz com o uniforme da Peak, que exige a logomarca correta do Time Brasil. (Foto: EFE/Fernando Bizerra)
Agora, compare com a imitação barata que estampa os uniformes da seleção olímpica de futebol. Foto: EFE/Fernando Bizerra
Agora, compare com a imitação barata que estampa os uniformes da seleção olímpica de futebol. Foto: EFE/Fernando Bizerra

Ao querer responder as críticas, Daniel Alves apenas lhes deu mais razão, pois defende a atitude de desafio às regras que nem são invenção do Time Brasil, mas foram estabelecidas pelo COI. O Comitê Olímpico do Brasil prometeu cumprir o combinado sobre a premiação aos atletas, mas também já avisou que irá processar a CBF. Faz sentido, pois quem responderá pelo showzinho da seleção de futebol é o COB, que pode acabar punido pelo COI e ter de indenizar a Peak, que perdeu a chance de exibir sua marca na hora da premiação, como previsto no contrato. Sem falar em uma eventual dificuldade para negociar novos contratos no futuro, pois o Brasil fica com a fama de delegação que descumpre o acertado. Quem perde com isso é apenas o esporte olímpico brasileiro; a CBF escapa ilesa, bem como os jogadores.

A reação à publicação de Daniel Alves não tardou. Fernando Meligeni foi
certeiro quanto ao desrespeito (se os Jogos Olímpicos precisam ou não do esporte
mais popular do planeta, é outra discussão):

Os jogadores provavelmente são o elo mais fraco da briga, eu sei. Mas então teria sido melhor simplesmente calar sobre o episódio. Daniel Alves e os jogadores que o apoiaram nos comentários, se estão realmente convencidos de terem feito a coisa certa, estão confirmando que se sentem, sim, superiores aos demais atletas do Time Brasil e ao próprio movimento olímpico. Mas, claro, pode ser que eles tenham apenas usado as mídias sociais a mando da CBF – afinal, não são todas as imposições que eles não aceitam, certo? São só algumas...

Os Jogos Olímpicos terminaram, mas o Papo Olímpico continua

“Nós sempre teremos Paris”, diz Rick a Ilsa na célebre frase de Casablanca. Mas não vamos esperar até Paris para voltar a falar de Jogos Olímpicos. A coluna continua, agora com uma periodicidade bem mais reduzida, para não perdermos de vista o esporte olímpico nesse intervalo de três anos.

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