Reações a rodízio de jogadores mostra que atraso atinge mídia e torcida
Pela Premier League, em 1º de março de 2011 o Manchester United derrotou o Chelsea por 2 a 1. Foi a partida número 606 do galês Ryan Giggs, então com 37 anos, pelos Red Devils na liga inglesa. Mas não seria aquela a única marca relevante da peleja. No duelo realizado em Londres, Alex Ferguson repetiu a mesma escalação pela primeira vez em incríveis 165 jogos.
Van der Sar, O'Shea, Smalling, Vidic e Evra; Carrick, Scholes e Fletcher; Rooney, Chicharito Hernandez e Nani. Três dias antes, essa mesma formação esteve em campo no pontapé inicial da partida contra o Wigan, também fora de casa, vencida por 4 a 0. Ferguson seguiria no comando do time que transformou em maior campeão da Inglaterra até se aposentar, em 2013.
Naquele cotejo de 2011, o escocês já havia superado pouco antes o também lendário e também Sir Matt Busby como o treinador que por mais tempo esteve à frente do Manchester United. Para ele, jogador algum era maior que o clube, o que não deixava dúvidas quanto à sua segurança quando decidia colocar um medalhão no banco, fosse por opção técnica ou devido a aspectos físicos.
No banco de reservas sem queixas
Sair do time era rotineiro e os atletas obviamente não estranhavam. Um exemplo: pouco mais de um mês depois, os dois times voltaram a se enfrentar pela Champions League. Paul Scholes, sétimo homem com mais jogos pelo clube (718) e 12º no ranking de artilheiros (155 gols) sem ser atacante, ficou na reserva e nem foi a campo. E o Manchester United voltou a vencer o Chelsea, 2 a 1.
Alex Ferguson não era um sujeito estranho no futebol inglês e da Europa com suas constantes trocas a cada partida. Ele apenas foi mais um grande técnico a seguir tal padrão. Essa espécie de revezamento é utilizado há muito tempo pelos maiores treinadores do planeta, ainda mais depois que a ciência passou a lhes fornecer maiores informações sobre a situação física dos atletas.
Quem conhece o mínimo de futebol internacional sabe que casos como o do treinador que por 27 anos comandou o Manchester United são comuns. Mesmo assim, no Brasil são inúmeras as reações de indignação diante do rodízio de jogadores em meio a um calendário pesadíssimo e mais do que sobrecarregado por causa da pandemia do novo coronavírus.
Trio de estrangeiros reveza jogadores a cada rodada
O trio de treinadores estrangeiros da Série A amanheceu o domingo ocupando três das quatro primeiras colocações do Campeonato Brasileiro. Eduardo Coudet, no líder Internacional, Domènec Torrent, com o então segundo colocado Flamengo; e Jorge Sampaoli, do Atlético Mineiro, no quarto posto, vêm revezando jogadores a cada rodada. O que para eles é normal soa absurdo para parte da mídia e da torcida.
Curiosamente, em 2018 Luiz Felipe Scolari foi elogiadíssimo por "formar dois times" no Palmeiras, um para os pontos corridos da Série A e outro que disputava mata-mata de Copa do Brasil e Libertadores. Na verdade o brasileiro nascido no Rio Grande do Sul revezava seus jogadores, a maioria deles atuava em todos os certames, havia duas bases que eram reforçadas de acordo com o momento e a necessidade.
Assim, Felipão ganhou o campeonato nacional há menos de dois anos. Parece que sua longa passagem pela Europa como treinador da seleção portuguesa e do Chelsea o influenciou de alguma forma nesse sentido. Ele promoveu a utilização de quase todos os componentes do grupo palmeirense com naturalidade e obteve êxito em uma das competições que disputava. Justamente a que mais exige elenco, resistência, condição física.
A maneira como tanta gente se espanta com esse comportamento dos estrangeiros que hoje dirigem equipes no Brasil evidencia que o atraso em nosso futebol não se restrige aos treinadores mais conservadores, obsoletos. Parte da torcida e da mídia também parou no tempo.