Análise

Os negacionistas das finanças do futebol não têm medo de “cruzeirar”

Muitos brasileiros sonham ganhar na loteria. Até quem não aposta acredita. E não precisa ser a esportiva, pode ser qualquer outra, seja ela Quina, Sena, Mega-Sena, Loto Fácil, Lotomania, o que for. O objetivo é mudar de vida (para melhor, obviamente), sem esforço, sem trabalho, sem sacrifício, de uma hora para outra. Como em contos de fadas.

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Se o sujeito fizer uma fezinha na Mega-Sena, por exemplo, uma aposta simples, de seis dezenas, significará que ele terá uma chance em mais de 50 milhões de acertar aquela meia dúzia de números. Uma probabilidade risível. Na verdade as pessoas apostam para manter viva a fé. A esperança de que seu dia chegará. Mas muito, muito provavelmente, isso não jamais irá acontecer.

No futebol o equivalente a ganhar na loteria é o surgimento de um mecenas. Sim, alguém endinheirado que despeje milhões no clube, possibilitando a formação de um grande time, com chances de se tornar vencedor. Em geral, mesmo com eventuais títulos, o final é triste, como o do ganhador da loteria que investe errado e volta a ficar duro, liso, sem grana e endividado.

Entre os diferentes atos generosos vistos no futebol brasileiro, um foi minimamente lógico: a ajuda de Paulo Nobre ao Palmeiras. O ex-presidente emprestou dinheiro a juros baixíssimos, oxigenou as finanças do clube, que o devolveu o dinheiro. A partir daí, equilibrado entre receita e despesa, cresceu e, então, ganhou outro apoio fora do padrão, com seus atuais patrocinadores

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Mas em geral os mecenas não se preocupam em estruturar o clube economicamente. Eles vão direto ao futebol, esperando rápido retorno, que se ocorrer os transformará em figuras adoradas pela torcida. O preço a ser pago adiante costuma ser impagável. Da mesma forma, há agremiações que nem precisam disso para gastar mais do que arrecadam e afundar.

É o caso do Cruzeiro, que vai para a segunda temporada seguida na Série B, convive com problemas de toda ordem e já virou caso de polícia, inclusive com intervenção do Ministério Público. Mas não é preciso “cruzeirar” tanto, a crise financeira derivada por gastos sem controle basta para levar ao buraco de onde é difícil sair. Até o Corinthians, com todo seu gigantismo, sente isso.

Apesar dos exemplos seguidos, boa parte dos torcedores de futebol segue a se iludir, a acreditar no dinheiro que vem fácil e de maneira supostamente desinteressada. Essa fé não diminui nem mesmo diante das experiências recentes de clubes que meteram os pés pelas mãos nas finanças. Algo que ultrapassa o limite entre a paixão e noção da realidade. Gostam de viver perigosamente.

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