Opinião

Inacreditável, em 2020 Luxemburgo minimiza racismo no futebol: “Bobagem”

Libertadores 2014, o volante Tinga, então no Cruzeiro, teve que ouvir torcedores peruanos do Real Garcilaso imitar sons de macaco quando ele pegava na bola. No mesmo ano, Daniel Alves defendia o Barcelona e um hincha do Villarreal arremessou uma banana em sua direção. O brasileiro a comeu e disse mais tarde. “Estou na Espanha há 11 anos e há 11 anos é dessa maneira”. David Campayo Lleo, de 26 anos, foi preso e enquadrado no código penal da Espanha.

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Três anos antes, a mesma fruta foi atirada em campo na direção de Roberto Carlos quando defendia o Anzhi, que enfrentava o Krylia Sovetov. E ele não vivia tal situação pela primeira vez no Campeonato Russo. De volta a 2014: gestos imitando macacos nas arquibancadas da Arena do Grêmio revoltaram o então goleiro do Santos, Aranha. Flagrados pelas câmeras de TV, tricolores foram identificados e responderam por injúria racial.

Aranha na Arena do Grêmio, em 2014. Folhapress

Esses são apenas alguns dos muito casos de racismo no futebol. O Observatório da Discriminação Racial no Futebol registro 56 episódios de injúria do gênero no ano passado. Na comparação com 2018 foram 12 a mais, um novo recorde e crescimento de 27,2%. O relatório lembra que, na temporada Taison, do Shakhtar Donestk, sofreu ofensas racistas na Ucrânia quando jogava contra o Dínamo Kiev. E acabou expulso, além suspenso por um jogo.

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O Observatório cita, ainda o zagueiro Marcelo, que se deparou com um torcedor de seu próprio clube, o Lyon, que invadiu o campo com um cartaz contendo a imagem de um burro pedindo para que deixasse o clube francês. O holandês Memphis Depay, capitão do time, arrancou o que estava nas mãos do sujeito. Com jogadores de outras nacionalidades não é diferente. Que diga Mario Balotelli, alvo de frequentes insultos em jogos do Brescia.

Pois em entrevista ao Estado de S. Paulo, publicada na Gazeta do Povo, Vanderlei Luxemburgo ouviu a seguinte pergunta: Vários atletas se manifestaram contra o racismo dias atrás. Você acha importante atletas e entidades se posicionarem?

A resposta: “Essa questão aflorou muito nos Estados Unidos. É uma discussão bem doida para se chegar ao consenso. O que houve lá foi brutal, foi uma covardia. Aqui no Brasil existem algumas situações. Mas eu vejo em algumas situações que se tratam como racismo o que é totalmente desnecessário se tratar como racismo. Isso o que aconteceu é racismo. Existiu uma ira, uma raiva. Da mesma forma como morreu, morre muito branco também de formas agressivas, de sacrificar. É complicado, muito complexo. Eu discuto muito no futebol, que é a minha área. Acho que os atos de racismo no futebol são provocados e eu achava que deveriam ser deixado de lado. Dão muito prestígio, muito moral à maneira como se trata o racismo no futebol. Nada mais é do que uma bobagem, ao meu ver. Aquilo, sim, que o cara fez (nos Estados Unidos) é racismo puro. Mas no futebol o cara brincar com o outro, gozar o outro para desestabilizar o camarada, dizer que aquilo ali é ato de racismo, não sei. Mas é uma discussão longa”

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Como assim os atos de racismo no futebol deveriam ser deixado de lado? Uma bobagem? É isso mesmo? Há dúvidas sobre a existência de racismo quando, por meio de termos racistas, alguém resolve “brincar com o outro, gozar o outro para desestabilizar o camarada”? Nessa resposta difícil de definir, se ingênua ou sincera, o treinador do Palmeiras mostra como o racismo entranhado na sociedade e no esporte deve ser igualmente combatido. Se um dia foi tolerado, o mundo mudou e o que era aceito no passado não se permite mais. Entendeu, Luxemburgo?

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