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Mauro Cezar Pereira
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Técnico superestimado? Aguirre no São Paulo e o que os argentinos pensam dele

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Mauro Cezar Pereira
08/10/2018 18:16 - Atualizado: 29/09/2023 16:50
Diego Aguirre, técnico do São Paulo.
Diego Aguirre, técnico do São Paulo.

Quase tudo o que envolve um time gira em torno do treinador. Se a equipe vai bem, ele recebe elogios mil. Se já não caminha da mesma forma, críticas e, quase sempre, demissão. O papel desse profissional no futebol tem importância, como ao mesmo tempo é discutível o tamanho de sua relevância. E há casos nos quais são técnicos superestimados, pois nem sempre têm papel tão preponderante como costuma-se exaltar.

Nesse contexto, entra o trabalho da imprensa, muitas vezes raso. É o “resultadismo”. Se o time está vencendo, mesmo sem jogar bem, as qualidades serão peneiradas e o profissional da prancheta embarcará no elevador do sucesso, que sobe quase pura e simplesmente pelas mudanças no placar. Qualidade do jogo vira detalhe secundário e poucos ligam para o fato de aquele elenco mostrar pouco pelo que é capaz.

Após a Copa do Mundo o São Paulo arrancou para a liderança do Campeonato Brasileiro. No começo de agosto já perguntavam a Diego Aguirre sobre título e no final do mês, o presidente do clube dava entrevista falando em renovação de contrato do uruguaio para 2019. Pressa na avaliação e desconhecimento geral da cartolagem e também de boa parte da mídia brasileira sobre seu trabalho mais recente.

Acompanho muito o futebol argentino, mas para evitar uma visão distante e eventualmente distorcida, a coluna entrou em contato com alguns jornalistas do país vizinho. O objetivo: entender por que e como Aguirre saiu do San Lorenzo, após a eliminação da Copa Libertadores da América, pelo Lanús, em setembro do ano passado, pouco mais de cinco meses antes de desembarcar ao Morumbi.

“Ele não foi capaz de dar à equipe um bom volume de jogo, como fez no Internacional. Mesmo ao eliminar o Flamengo da Libertadores, virando para 2 a 1, a equipe não fez um bom jogo, foi capaz de vencer graças à força mental dos jogadores, que não desistiram. Depois de sua má gestão no San Lorenzo, não deixou uma boa imagem”, resume Cristian Del Carril, setorista do clube de Buenos Aires e que mantém o programa de rádio “A Todo Ciclón”.

Diego Paulich, do Diário Olé e da Rádio Mitre, diz que Aguirre era questionado principalmente por que a equipe tinha “pouco jogo”. Segundo ele, fez um bom primeiro semestre, mas em uma semana estava fora da Copa Libertadores e da Copa Argentina. “Claro, lá ele teve bons jogos. Mas então caiu diante do Lanús”. De fato, o San Lorenzo de Aguirre fez 2 a 0 em casa e ainda assim perdeu a classificação na Libertadores para o time Granate.

Nicolas Montalá, também do “Olé”, define o treinador em seus tempos de Argentina como “muito defensivo e sem ambição”. Diz que em geral não fazia bons jogos: “Atacava pouco e ia mal nas substituições”. Pablo Lejder, do programa de rádio “Código de Barras”, engrossa o coro e diz que o time era contido em demasia. “Na Libertadores, não jogava bem, se classificou por um milagre e foi merecidamente eliminado pelo Lanús”, resume.

As semelhanças são claras. O São Paulo de Aguirre joga defensivamente, finaliza pouco e conseguiu uma boa arrancada com vitórias magras, sofridas em maioria, por um momento do certame, quando a boa fase empurrou até a liderança. Mas era preciso mais e, a exemplo do que constataram os jornalistas argentinos quando dirigia o San Lorenzo, o uruguaio não está conseguindo dar tal passo. A derrota para o Palmeiras, sábado, confirma a tese.

Quando o time paulista ainda disputava a Copa Sul-americana, muitos defendiam uma espécie de eliminação voluntária para que o time pudesse se dedicar apenas ao Brasileiro, que liderava. O Colón de Santa Fé despachou os tricolores da competição e desde então foram quatro semanas livres de treino para Aguirre. E o São Paulo não venceu sequer uma das partidas que disputou aos sábados e domingos após esses períodos livres para treinamentos.

O treinador não conseguiu agregar predicados ao time, não foi, até aqui, capaz de fazer o São Paulo jogar um futebol de maior repertório, pelo contrário. Diante de um Palmeiras que vencia por 2 a 0 em pleno Morumbi, os são-paulinos não sabiam atacar. Exceto dentro da estratégia original do uruguaio, a do time “reativo”, que atua fechado e avança rara e velozmente. Os rivais de verde não sofreram para sustentar o placar.

Esse roteiro não surpreende os jornalistas argentinos acima. Não deveria surpreender a nenhum de nós. Mas antes de estudar o perfil dos treinadores, lembrar seus trabalhos anteriores e entender o que seria mais provável em campo, dedica-se o tempo a projeções otimistas em função de uma boa fase. Tudo isso faz parte do exagero na importância dada aos técnicos de futebol. Que não por acaso vivem entre o céu e o inferno.

***

Claudinei Oliveira era o técnico do Avaí em 2017, quando foi até o final do Brasileiro no comando do time catarinense, que caiu. Um raro caso de treinador que entra no certame com uma clara missão e, mesmo sem conseguir alcançar a meta, no caso a permanência na Série A, não perdeu o emprego. Chegou ao Paranáno meio do campeonato deste ano. A queda é inevitável, o roteiro tem semelhanças também com o Atlético.

Se o treinador paranista substituiu Rogério Micale, que tentava jogar com posse de bola, mesmo com o elenco mais barato da primeira divisão, Tiago Nunesassumiu a vaga de Fernando Diniz, que é até mais radical nesse conceito. A diferença é que o atleticano conseguiu uma reação significativa ao mudar a sintonia do time. O Furacão deixou a zona do rebaixamento, encontrou segurança e avança na Copa Sul-americana.

A transformação rubro-negra reflete inquestionavelmente o trabalho do treinador, a mudança de estilo, adotando o que melhor se adequa ao elenco. Mais vertical, objetivo, veloz, o Atlético recuperou sua força em casa, voltou a ter mando de campo poderoso e só não chega a algo próximo da perfeição no pós-Copa porque longe da Arena da Baixada segue sem conseguir ser tão competitivo como se espera.

Perfeição, por sinal, é a meta a ser alcançada por Argel Fucks. No Coritiba, ele precisará ganhar quase todos os 24 pontos ainda em jogo. O habitualmente agitado técnico, por sinal, voltou ao trabalho após quatro meses viajando, vendo o trabalho de outros profissionais, estudando futebol. Pessoas próximas o veem mais centrado, calmo e equilibrado. E será preciso mesmo muita concentração para devolver o Coxa à Série A.

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