Crônica

Morreu o narrador que me fez amar o Campeonato Carioca. Cruel, muito cruel

A SUDERJ infelizmente informa: Januário de Oliveira morreu. Aos 81 anos, doente, estava afastado da narração havia décadas. Se você tem menos de 40 anos, é bem provável que não conheça Januário ou, se conhece, nunca teve o privilégio de assistir a uma de suas transmissões na Bandeirantes durante os anos 1990.

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Como disse um amigo, ele só não foi maior em talento que Galvão Bueno e Luciano do Valle. Mas superou os dois em algo: quando os estaduais já perdiam relevância no cenário nacional, ele dava um charme ao Campeonato Carioca que nenhum outro estadual do país, nem mesmo o Paulista, tinha. Moça Bonita e General Severiano eram palcos mais importantes que Old Trafford e Santiago Bernabeu.

Com Januário de Oliveira, assistir a um Olaria x Vasco, realizado em algum alçapão com mil espectadores, iluminação mambembe, gramado enlameado, em plena segunda-feira, era um programa imperdível. “TÁ LÁ UM CORPO ESTENDIDO NO CHÃO”, era um de seus bordões que marcaram meu cérebro adolescente.

E com ele nenhum jogador era um simples jogador. O atacante Valdeir, do Botafogo, era VALDEIR, THE FLASH, evidentemente graças à sua velocidade. Sávio, atleta do Flamengo que chegou a jogar no Real Madrid, era o “ANJO LOIRO”. E o maior personagem do Universo de Januário era o atacante do Fluminense Ézio, o SUPER ÉZIO, artilheiro e única estrela do Tricolor em uma época de vagas magras.

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Da mesma forma que Nelson Rodrigues transformava jogos comuns em épicos dignos de um Homero, Januário de Oliveira dava ares de tragédia grega a um Americano de Campos x Volta Redonda. Valdeir, Sávio e Ézio eram os personagens principais dessa mitologia transmitida toda semana a nós, pobres mortais.

De forma cruel, muito cruel, chegou a hora de nos despedirmos do grande e Januário de Oliveira, que sempre soube que é disso que o povo gosta.

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