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Direto de Montevidéu - Uma odisseia oriental
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Crônica

O torcedor: sem foguetes, sem tambores, marionetes do soccer business no Centenário

Por
André Pugliesi, enviado especial a Montevidéu
18/11/2021 18:04 - Atualizado: 04/10/2023 17:13
O torcedor: sem foguetes, sem tambores, marionetes do soccer business no Centenário
| Foto: Albari Rosa/Foto Digital/UmDois Esportes

"Ondulam as bandeiras, soam as matracas, os foguetes, os tambores, chovem serpentinas e papel picado: a cidade desaparece, a rotina se esquece, só existe o templo. Neste espaço sagrado, a única religião que não tem ateus exibe suas divindades. Embora o torcedor possa contemplar o milagre, mais comodamente, na tela de sua televisão, prefere cumprir a peregrinação até o lugar onde possa ver em carne e osso seus anjos lutando contra os demônios da rodada", Eduardo Galeano, em trecho de "O torcedor", texto extraído do livro "Futebol ao sol e à sombra".

Não seria surpresa se o uruguaio Galeano, residente de Montevidéu, por conta própria, como um "mendigo do bom futebol", ou convidado de honra da Conmebol, numa bem sacada ação de marketing idealizada por um publicitário de sandálias que escreve literatura alternativa, aparecesse no Estádio Centenário para Athletico e Bragantino, final da Sul-Americana.

E assim, aos 81 anos, com seis anos já de morto, custaria a enxergar, do alto da tribuna Olímpica, o personagem que o inspirou no excerto que abre a publicação. Não há bandeiras, não soam matracas, não há tambores, não chovem serpentinas e papel picado. No sábado, dia 20 de novembro, vê-se aquilo que se convencionou chamar de "final única", mais do que um jogo, um "evento" de futebol, gestado para alimentar planilhas.

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Sem adereços, barulho e nem mesmo uma bambuzada, resta então o torcedor, último guardião da paixão no futebol, marionete pendurada pelos fios do soccer business. E do arbítrio e da ganância da cartolagem, com a imposição de se jogar uma decisão de campeonato em local incerto e não sabido, desdobram-se, ironia dos Deuses da Bola, rituais de peregrinação, fé, loucura e cartões de créditos estourados, empréstimos e rifas de ocasião.

Aos torcedores de Athletico e Bragantino, que cumpriram milhares de quilômetros por um lugar numa cadeira de plástico nas tribunas Amsterdam e Colombes, respectivamente, há muito mais em disputa do que premiações milionárias, ativações de marcas e engajamento nas redes. Ao soar do apito inicial, a bola sempre rolará para uma luta entre anjos e demônios.

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