Memória

Paolo Rossi, o adeus daquele que provocou a maior tristeza de uma geração

Paolo Rossi

Num único movimento, Paolo Rossi marcou de cabeça e saiu para o abraço. Início do sonho dele e da nossa tristeza naquele Brasil 2×3 Itália.

Paolo Rossi faleceu nesta quarta-feira (9), instantes depois do apito final de Paraná 0x2 Figueirense. Mesmo quem não gosta de futebol, nunca acompanhou nada, sabe quem é ele. A história é conhecida – num 5 de julho de 1982, no estádio de Sarriá, em Barcelona, a Itália venceu o Brasil por 3×2, eliminando a seleção de Telê, Zico, Sócrates, Júnior, Falcão, Cerezo, Leandro, Oscar, Éder… A maior tristeza da minha geração por causa de futebol.

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Falei esses tempos, quando perdemos Maradona, sobre a memória afetiva. A Copa do Mundo de 1982 faz parte dela pra mim e pra tantos outros brasileiros. Não era apenas o Mundial naquela ensolarada Espanha. Era a TV a cores mais popular, que fazia aquelas partidas parecerem mais épicas ainda. Era o sopro da democracia chegando com as eleições de governadores. Pareciam novos tempos.

Mas aquela segunda-feira de doer, como definiu Jorge Ben Jor, ceifou aquela alegria toda. “Vendo e chorando, e não acreditando”. Tínhamos certeza que passaríamos pela Itália de passagem. Mas aquele centroavante de camisa 20, que era chamado de Bambino D’Oro pela imprensa de lá, resolveu escrever seu nome na história do futebol mundial justo contra a gente.

Paolo Rossi, dor e reparação

Paolo Rossi era o “verdadeiro verdugo de nossas esperanças”, como definiu Juca Kfouri na edição de Placar seguinte à Tragédia de Sarriá. Aquela seleção, aqueles jogadores em seus times e com a camisa canarinho, aquele futebol estava lotando estádios, criando ídolos, unindo os torcedores. Era o que nós, crianças, queríamos ser. Mas a Itália ganhou, uma geração de craques foi tachada de ‘perdedora’ e Rossi virou o inimigo número 1 do Brasil.

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Daqueles que eram enxotados do táxi quando se percebia que era ele o passageiro – isso realmente aconteceu em São Paulo. Mas Paolo Rossi tantas vezes falou com brasileiros, nunca teve uma conduta de raiva pela raiva que tínhamos dele, foi nos fazendo perceber que apesar da dor era apenas mais um jogo. Que o consagrou, mas que não empana o que o Brasil e aqueles jogadores (e Telê) fizeram na carreira. E que valorizou aquela conquista italiana.

A imagem de Rossi comemorando o primeiro gol, de cabeça, depois do cruzamento perfeito de Cabrini, ainda me machuca. Ela atinge em cheio a criança que era absolutamente apaixonada por futebol, e que chorou tanto naquele 5 de julho. Mas é ela que explica bem o tufão que varreu o Brasil da Copa, e o tamanho da perda para o futebol mundial.

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