O jogo do poder no futebol

Rogério Caboclo, novo presidente da CBF a partir de 2019. Foto: Divulgação/CBF

90 milhões em ação !

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De repente é aquela corrente pra frente

Parece que todo o Brasil deu a mão

Todos ligados na mesma emoção

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Tudo é um só coração !

Essa é uma parte da musica que mexeu com a galera na Copa do Mundo, em 1970, no México.

A cada novo Mundial temos nos deparado com algumas questões relativas à seleção brasileira, ao comando da CBF e a própria realidade nacional.

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Não é diferente agora.

Só que de 90 milhões pulamos para 210 milhões em ação. Mas os dramas e os problemas são praticamente os mesmos: dúvidas, incertezas, maus políticos, má gestão pública, corrupção e ideologia medíocre para todos os gostos.

Só que, agora, agravada pela maior crise econômica de todos os tempos, pela maior crise ética e moral na vida política do país, violência urbana em níveis jamais vistos e perto de 13 milhões de trabalhadores desempregados.

Política e esporte sempre caminharam juntos.

O “phisique du role” não é necessário para o sucesso político, tanto que os generais se revezaram na Presidência da República durante o regime militar, a seleção emocionou o povo com a conquista do Tri e a história seguiu em frente.

Conta-se que o presidente Juscelino, aquele que construiu Brasília em vez de iniciar a imprescindível infra-estrutura do país, coisa que só os militares fizeram alguns anos mais tarde, conheceu o ditador Franco ao visitar a Espanha.

Juscelino estava no auge da popularidade e encarou o ditador espanhol que era baixinho, rechonchudo, com mãos pequenas e suadas e voz de falsete. Não parecia fadado a manter o poder por tanto tempo.

O generalíssimo contou ao mineiro Juscelino que dominava tudo porque era mais esperto que os demais.

Certa feita, ao entrar no salão dos despachos, surpreendeu dois ministros engalfinhados, quase aos tapas. “Por que se peleam ustedes ?”, perguntou. “Hablamos de política”, responderam trêmulos. “Hagan como yo, que no me meto em política”, triplicou Franco.

No futebol não existem ditadores, mas homens simplesmente hábeis, competentes e que conseguem se transformar nos donos da bola.

Não foi à toa que o brasileiro João Havelange foi eleito presidente da FIFA e manteve-se 25 anos no poder colocando como substituto o seu secretario Sepp Blatter.

Estranhos, muito estranhos são os caminhos que levam ao poder. Nos clubes são notórios os “donos”, aqueles cartolas que fazem e desfazem durante décadas até que um dia caem em desgraça.

Nas asas do tricampeonato mundial da seleção, Havelange tornou-se o maior dirigente de todos os tempos.

Psicólogo profundo, intuía mais depressa as fraquezas que as virtudes dos homens. Praticava com soberba maestria o princípio maquiavélico: não há amigos permanentes nem inimigos inconciliáveis. Engoliu o inglês Stanley Rous na eleição de 1974 e mudou o negócio chamado futebol para sempre.

Tinha tanto prestígio que, adiante, colocou o genro, Ricardo Teixeira, na presidência da CBF.

Mas nem a conquista de mais duas copas ajudaram a melhorar a imagem de Teixeira que, ao lado dos sucessores José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, encontra-se na berlinda.

Del Nero, com toda a habilidade que caracteriza os poderosos, elegeu um assessor antes de cair definitivamente.

Se a FIFA considera que Del Nero infringiu normas de ética e conduta enquanto ocupava cargos na CBF, se a Copa do Mundo de 2014 no Brasil é uma das investigações em curso nos Estados Unidos, o mínimo a se esperar do eleito Rogério Caboclo seria a contratação de uma auditoria externa, para que fosse dimensionado o estrago feito.

Blindada pelas federações e pela maioria absoluta dos clubes, a CBF finge que tudo o que aconteceu até agora não tem nada a ver com a nova direção.

E segue o baile: 210 milhões em ação, salve a seleção !

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