O futebol nosso de cada dia deve reverência à Gazeta do Povo

Folheando as suas páginas, os curitibanos tomavam conhecimento do que acontecia.

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Tudo estava lá impresso, do obituário ao caderno de anúncios classificados, passando pelas páginas de efemérides, poesias, colunas sociais, políticas, científicas, econômicas, turfísticas, esportivas, policiais e outras.

Quando o futebol começou por aqui, com campeonato organizado à partir de 1915, ninguém podia imaginar que algum dia se chamasse um jogador de inteligente. E muito menos um cronista esportivo de inteligente.

Aliás, o setor policial e o esportivo representavam, em todos os jornais dos primeiros tempos, a porta de entrada dos novos repórteres sem grandes virtudes culturais.

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No futebol, de burro chamou-se o jogador desde logo.

Bastava um torcedor reclamar da primeira pixotada do zagueiro – na época escrevia-se “back” -, do passe errado do meia – “half” – ou do atacante – “forward” – no campo – “field” – para que todos perdessem a paciência nos pequenos estádios.

O goleiro – “goalkeeper” -, então, era xingado na menor falha que cometesse.

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Como o futebol brasileiro ainda não tinha linguagem própria, coube aos cronistas esportivos esculpir uma nova imagem para os praticantes do rude esporte bretão.

Repórteres de jornal, e depois também os radialistas esportivos, modestamente, mas com criatividade, estabeleceram uma nova terminologia, aportuguesando os títulos das funções dos jogadores, mudando o enfoque do jogo e, sobretudo, criando um folclore moderno e enriquecedor nas arquibancadas.

Havia jogadores brilhantes, mas se considerava futebol uma coisa e inteligência outra.

Os cronistas incentivaram os jogadores, difundiram os jogos e os campeonatos, promoveram todos aqueles que atuaram ardentemente pelo crescimento do esporte.

A Gazeta do Povo sempre foi o principal canal de comunicação de Curitiba e do Paraná. Hoje é um dos maiores do Brasil.

Passaram pela sua redação os melhores e mais criativos jornalistas de todas as áreas.

A bola e o jornal caminham juntos há dez décadas.

O povo encantou-se com o futebol ao ponto de uma multidão se postar em frente da antiga sede da Gazeta do Povo, na rua XV de Novembro, para ouvir o relato dos telegramas que eram enviados do Rio de Janeiro no dia da final do Campeonato Brasileiro de Seleções, em 1928.

Pela janela, os redatores relatavam aos aficionados que tomavam conta da rua, o que se passava no duelo entre paranaenses e cariocas.

O Paraná havia goleado Santa Catarina, vencido o Rio Grande do Sul e o Pará chegando à final para decidir com o então Distrito Federal. Perdemos o título, mas a inesquecível campanha ficou eternamente documentada nas páginas do grande matutino paranaense.

Os jogadores se popularizaram, centenas se transformaram em ídolos imortais e os nossos times evoluíram ao ponto de conquistarem títulos nacionais – Coritiba e Athletico – e, agora, o primeiro título internacional com o triunfo do Furacão na Copa Sul-Americana.

Comemorando 35 anos de trabalho nesta Gazeta do Povo, lembro-me, com saudade, daquele dia em que recebi o convite do doutor Francisco Cunha Pereira Filho para integrar o quadro de colunistas do jornal. Acredito ter escrito cerca de 7 mil colunas até hoje.

Graças a essas colunas consegui firmar conceito como jornalista esportivo.

Os patinhos feios do policial e do esporte aprenderam e evoluíram.

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