Opinião

Coritiba e Operário provaram que futebol tem teatro, mas não é teatro

Lance do polêmico gol do Coritiba

Há alguns anos o então técnico do São Paulo, Muricy Ramalho, disse que futebol é como teatro: precisa haver ensaio para que se faça boa apresentação. Na terça feira, em Joinville, o teatro do futebol ficou bem evidente.

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Primeiro, porque duas equipes paranaenses – Coritiba e Operário – foram obrigadas a deslocar-se para a vizinha cidade catarinense por causa das limitações impostas pela pandemia do coronavírus em Curitiba.

Segundo, porque os tradicionais adversários que já haviam se enfrentado três dias antes – pelo Campeonato Paranaense -, em Ponta Grossa, com vitória do Fantasma, acabaram realizando uma partida eletrizante pela Copa do Brasil. Há tempos não se via um duelo entre os nossos times com tanta intensidade, ritmo, gols, enfim uma partida que encheu os olhos dos telespectadores.

Terceiro, porque o bandeirinha que validou o gol, mesmo que a bola não tenha ultrapassado totalmente a linha da meta, tornou-se o personagem central do espetáculo. Mas com tudo isso e mais um pouco – belíssimos gols de ambos os lados – ficou provado que futebol não é teatro.

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Os dirigentes, os treinadores, os jogadores e muito menos os torcedores não sabem como será o final nem quem será o protagonista. A história não está escrita, mas sendo escrita à medida que acontece com o desenrolar do jogo.

Em uma peça teatral os espectadores escolhem os seus favoritos, se apaixonam pela mocinha, ou no caso das mulheres se apaixonam pelo mocinho, se contrariam com o vilão e torcem pelo herói até o final.

No futebol, ainda mais em um jogo tão movimentado como foi esse de Joinville, entre Coritiba e Operário, os espectadores acompanharam a velocidade dos jogadores, a alternância no placar, as jogadas, as manobras dos treinadores e esperaram por um desfecho justo.

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Alguns torcedores até reconhecem o esforço do time adversário, mas dificilmente aceitam admitir que o triunfo foi obtido com um gol irregular. Daí a calorosa discussão no curso da semana se a bola entrou ou não no segundo gol coxa-branca.

As autoridades da arbitragem, consultadas pelo canal de televisão que apresentava a partida e pelas emissoras de rádio que a transmitiam, foram unânimes: a bola não entrou e o auxiliar de linha equivocou-se.

Mas isso não tirou o brilho e o mérito de todos os participantes de um jogo que acabou entrando para a história. Futebol é, como disse o dramaturgo e cronista Nelson Rodrigues: “A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespereana”.

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