Análise

Futebol brasileiro é um deserto de inteligência em organização

O primeiro profissional na categoria de supervisor em time de futebol foi Carlos Nascimento no Fluminense. Convocado pela então CBD (Confederação Brasileira de Desportos, posteriormente CBF) foi o coordenador geral da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1958. Foi a primeira conquista importante do nosso futebol e a dupla Carlos Nascimento e Vicente Feola voltou consagrada da Suécia.

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Dez anos depois, o mesmo Fluminense contratou o mais moderno
supervisor da época: Almir de Almeida.

Baiano, jogador de basquete contratado pelo Guarani, de Ponta Grossa na década de 1950, participou de duas Olimpíadas como atleta – Melbourne e Helsinque –, tornou-se técnico de futebol no mesmo Guarani.

Ao abandonar definitivamente as quadras, como treinador do Clube Curitibano durante dez anos, foi professor da Faculdade de Educação Física do Paraná – foi homenageado com o seu nome no Ginásio do Tarumã – e aceitou a função de supervisor do Fluminense, tendo Telê Santana, em começo de carreira, como técnico.

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Campeão carioca, resolveu voltar para Curitiba, onde a sua família residia, e assumiu o cargo no Coritiba. Foi tricampeão paranaense nos tempos em o Coxa contava com figuras lendárias como o preparador físico Antonio Loyola – hoje Desembargador –, o gerente Hélio Alves, o técnico Tim, o auxiliar Lanzoninho e o diretor de futebol Luis Afonso Camargo.

Por trás dessa ilustre comissão-técnica estava o presidente
Evangelino Neves, o campeoníssimo.

Foi Almir de Almeida quem definiu perfeitamente as funções
de um verdadeiro supervisor – e como nenhum outro conseguiu dar grandeza ao
cargo. Ele falou duro com todos: dirigentes, técnicos e jogadores. Também era
amigo de todos. Acima de tudo, foi profissional.

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Morreu prematuramente, vítima de leucemia, na supervisão da
seleção brasileira, depois de breves passagens por Vasco e Corinthians, tendo
Oswaldo Brandão como técnico nas Eliminatórias da Copa em 1976/77.

Recordo-me do Baiano diante da carência de profissionais
competentes para o mesmo cargo, hoje em dia, no empobrecido futebol brasileiro.

Parece um deserto de inteligência. Claro que não se trata de
um fenômeno que atinge apenas o futebol, mas do país inteiro diante da
indigência intelectual e ética da maioria dos políticos e governantes nos
últimos tempos.

Para chegar a conclusão tão óbvia, de nossa precariedade,
basta observar a organização e a competência dos grandes clubes europeus.

Começa que esses clubes são administrados por executivos
especializados e extremamente competentes, inclusive alguns ex-jogadores de
nível profissional e cultural notórios.

O futebol brasileiro ainda engatinha em organização, como uma empresa que poderia gerar milhões se fosse bem administrado.

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