Carille e como o futebol faz tudo por dinheiro

Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Aquela bolinha alegremente chutada pelas crianças que se apaixonam pela brincadeira até a idade adulta perdeu a inocência. Não para as pessoas comuns, é claro. Apesar da drástica redução da prática por falta de espaços nas grandes cidades.

continua após a publicidade

Os terrenos vazios, ou baldios, proporcionavam os inúmeros campinhos da nossa infância. Da mesma forma que os mais velhos se dedicavam ardorosamente as chamadas “peladas” aos sábados à tarde ou aos domingos pela manhã.

Hoje em dia o futebol amador resume-se aos clubes sociais que ainda possuem campos disponíveis ou espaços privados em chácaras e condomínios.

Até o divertido futebol de rua acabou. Todas as vias, em todos os bairros, foram invadidas por automóveis e outros veículos.

continua após a publicidade

Proliferam as escolinhas patrocinadas por clubes profissionais na incessante tentativa de descobrir novos pelés, zicos, romários, ronaldinhos e outros ídolos inesquecíveis.

O futebol profissional também mudou. E, lamentavelmente, para pior.

Se no passado os dirigentes eram amadores que comandavam os times com o coração, não raras vezes tirando dinheiro do próprio bolso para completar o custeio, hoje em dia observa-se intensa movimentação de raposas felpudas em todos os escalões futebolísticos.

continua após a publicidade

Além das negociações milionárias de craques envolvendo somas extraordinárias para a economia de qualquer país, surgem jogadores que nem bem são revelados nos centros de treinamentos e vão para o exterior.

Ali proliferam empresários, intermediários, procuradores, laranjas de dirigentes e outros tipos que surgiram na “nouvelle vague” da bola.

E tem muito mais: o faturamento junto aos patrocinadores que dão nome as modernas arenas; anúncios nos uniformes ou ao redor do campo de jogo; arrecadação com associados; shows de toda sorte e a exploração comercial nas áreas de alimentação, lojas, etc.

Mas o filé mignon mesmo é a verba oferecida pela televisão. A magia do som com imagem virou o jogo para sempre. O futebol faz tudo por dinheiro.

Os membros das comissões-técnicas reclamam do excesso de partidas a cada ano, mas se submetem aos desígnios dos cartolas. Estes, preocupados apenas com o faturamento e não mais com a qualidade do espetáculo, engendram torneios paralelos que recheiam os calendários anuais. Por isso, cada clube tem de formar elencos com cerca de 40 jogadores, reduzindo, obviamente, o padrão técnico das equipes.

Os profissionais se esforçam para manter níveis razoáveis de competição. Poucos conseguem. Quando a chapa esquenta, o técnico pula fora e aceita propostas internacionais. China, Arábia Saudita, Golfo Persa e Japão representam o paraíso econômico para todos os treinadores brasileiros bem sucedidos.

Nem o atual campeão nacional, Fábio Carille, parece resistir ao canto da sereia. Admitiu trocar o Corinthians por um bom contrato na Arábia Saudita.

E ele não está errado. Mesmo vencendo tudo o que disputou nas últimas temporadas tem sido cobrado por alguns torcedores apaixonados que ainda não entenderam a nova engrenagem do negócio chamado futebol.

Tudo estoura no técnico quando na realidade foram os cartolas que provocaram as mudanças que determinaram a queda do padrão de jogo nos últimos anos.

Exit mobile version