Augusto Mafuz

Maradona curtiu como queria a vida. Agora encontrará paz na morte?

Os imortais também, morrem. Mas, há aqueles que começam a morrer um dia, bem cedo, e vão morrendo todos os dias, até chegar o dia final. Maradona teve sua morte ontem, mas, começou a morrer desde o dia que uma bola de futebol foi ter com a sua perna esquerda.

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A nobreza da narração de Jorge Valdano, um dos seus “apóstolos”, do segundo gol contra a Inglaterra, no Mundial do México, mostra que os argentinos lhe tratavam como um ser superior e o vestiam de deus.

A crônica de Valdano, no El Pais, começa assim: “Houve um dia no México em que um homem se tornou um deus de proporções humanas e eu estava lá. Como apóstolo”.

Desde que chutou a primeira bola, Maradona recebeu uma identidade de divino. Consagrado, imaginou que vestido de deus, poderia ter um mundo só seu, em que fosse possível conciliar a sua arte jogando futebol com os excessos que o tornaram dependente de drogas e álcool.

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E brincando de viver, como lembra o jornalista argentino Andres Burgo (El Pais), em 1997, quando conseguiu sobreviver a uma grave crise, querendo ser íntimo de Deus, ironizou a morte:

“É evidente que tenho uma linha direta com o Barba. Deixe-me viver minha vida, não quero ser exemplo. Eu também não encontraria paz na morte. Eles me usam na vida e vão encontrar uma maneira de fazer isso enquanto eu estiver morto”.

Quando deixou de jogar bola, os dias da linha do tempo passaram a ser mais curtos. Era o anúncio de que o último dia, que foi ontem, estava para chegar.

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Dentro da sua proposta de vida, Maradona teve uma morte feliz. Só não jogou mais do que Pelé, foi rei no seu tempo, praticou todos os excessos que o seu mundo de inconsciência permitia e continuou vestido, e, agora, será sepultado como um deus.

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