O futebol foi cruel com o Barcelona de Lamine Yamal

A tragédia do Sarriá, quando o Brasil de Zico, Sócrates e Falcão foi eliminado pela Itália na Copa do Mundo de 1982, provocou Johan Cruijff a escrever um lamento: “Mais do que o povo brasileiro, o povo do futebol perdeu e está triste”.
O desabafo do genial holandês tinha origem no sentimento ferido de quem, no campo, executou a revolução tática proposta pelo treinador Rinus Michels, da Holanda. A ferida foi provocada pela perda da Copa da Alemanha, para a Alemanha, em 1974.
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O conceito de jogo do Brasil de Zico tinha como referência o da Holanda de Cruijff: qualquer função, defender, marcar ou atacar, era uma linha só. Resumindo, o futebol nada mais era do que a ocupação de espaços, só que com craques.
Lembrei dessa manifestação de Cruijff vendo o Barcelona, de Lamine Yamal (17 anos), ser eliminado da Liga dos Campeões pela rústica e boleira Inter de Milão. A derrota catalã foi uma crueldade para o futebol. Ainda mais, por ser o resultado (4x3) influenciado pelo erro de arbitragem ao marcar o inexistente pênalti em Lautaro.
Nesses tempos em que há excesso de jogo físico e prevalência tática, a vitória do Barça devolveria a certeza de que o futebol depende ainda de craques.
Em 1974, quando ganhou da Holanda, a Alemanha não se afastou da ideia de se modernizar com a geração de Franz Beckembauer. Voltando a ganhar títulos, passando a privilegiar mais craques do que a disciplina tática, escreveu o roteiro para exibir em 8 de julho de 2014, no Mineirão: Alemanha 7x1 Brasil.

Ao contrário, não há na história uma contribuição que a Itália tenha dado ao futebol mundial. Em 1982, usou o casuísmo que atendia pelo nome de Paolo Rossi para eliminar o Brasil. Em 2006, usou o casuísmo dos pênaltis e o destempero de Zidane. Há dez anos, não joga uma Copa do Mundo.
A última Liga dos Campeões que ganhou foi em 2009/2010, quando o português José Mourinho instalou o seu famoso “ônibus” para eliminar o Barcelona de Guardiola.
Seus grandes jogadores foram os goleiros Buffon e Zoff, e os zagueiros Maldini, Cannavaro e Baresi. Os meias criativos e atacantes foram raros. Paolo Rossi, Baggio e Del Piero foram mais famosos do que craques. Como das outras vezes, a Itália, outra vez, nada vai somar ao futebol.