A única época para ter ídolos e guardá-los como eternos é quando somos jovens. Inocentes, somos conquistados, assim, do nada.

Minha geração foi privilegiada. Ela viu nascer e adotou como ídolos Pelé e Garrincha (futebol), Maria Esther Bueno (tênis), Algodão, Amauri Passos e Vlamir Marques (basquete), Adhemar Ferreira da Silva (atletismo) e Éder Jofre (boxe). Só mesmo Airton Senna para romper a inocência da juventude e se tornar ídolo da minha geração.

Não é romantismo ou repente de saudade. É a verdade em estado puro: os ídolos do meu tempo foram tão verdadeiros como ídolos, que vivos ou não, já são eternos.

Como Éder Jofre, no boxe.

Peso galo ou peso pena ele derrubava sem ferir. De tão preciosa era a sua técnica, parecia usar luvas de pelica. Ele foi o maior do mundo no tempo em que o boxe era a sétima arte. Para encená-lo, era necessário ser um artista perfeito.

Minhas lembranças provocam uma volta a Guarapuava ouvindo a narração de Pedro Luiz e Mário Moraes, da Rádio Bandeirantes. Lembranças tão fortes, que me enganam, parecendo que foi ontem: o seu gancho e a direita em linha reta de Éder derrubando o mexicano Eloy Sanches.

A minha geração está na linha final.

Mas quem for embora tem um consolo: os ídolos eternos foram os nossos ídolos. Talvez essa juventude de hoje, com ídolos de barro, acabe adotando-os. Como nos versos extraordinários de Belchior cantados por Elis Regina, em “Como nossos pais”: “Nossos ídolos ainda são os mesmos. E as aparência não enganam, não. Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém…”.