Augusto Mafuz

O caso Lassana Diarra e as consequências para o futebol brasileiro

Por
Augusto Mafuz
14/10/2024 12:18 - Atualizado: 14/10/2024 12:18
Caso envolvendo o ex-jogador francês, Lassana Diarra, terá impactos no Brasil
Caso envolvendo o ex-jogador francês, Lassana Diarra, terá impactos no Brasil | Foto: IconSport

O caso: um belo dia, em Moscou, o jogador francês, Lassana Diarra, resolveu dar por rescindido o seu contrato com o Locomotiv, e foi embora. Condenado a pagar uma indenização de 10 milhões de euros aos russos, não pôde mais jogar. O clube que o contratasse seria solidário no pagamento da multa.

Então, Diarra ingressou com uma ação no Tribunal da União Europeia pedindo que fosse declarado ilegal o artigo 17 do Regulamento de Transferência da Fifa, que trata das consequências da rescisão de um contrato de trabalho.

Agora, dez anos depois, o Tribunal Europeu decidiu que a ordem jurídica da Fifa, ao estabelecer uma multa de rescisão acima do valor do contrato, e tornar solidário o clube que contratar o jogador, viola leis da União Europeia. 

+ Siga o UmDois no Threads e no BlueSky

A Fifa decidiu não recorrer. Concordou que o seu regulamento precisa ser “humanizado”,  tornando menos rigorosos os impedimentos para o atleta manifestar a sua vontade de escolha.

A grande questão é: qual será a consequência desse caso no Brasil? Já li a conclusão de algumas opiniões de que não haverá nenhuma consequência, porque o “Brasil tem leis próprias”. 

Não é tão simples assim como pensam os “juristas”. 

Em 15 de dezembro de 1995, o mesmo Tribunal de Justiça da União Europeia interviu ao julgar o “caso Jean-Marc Bosman". Em final de contrato com o Standard de Liège, foi impedido de transferir-se para o Dunkerque por causa de uma multa.

Com base nos artigos 48, 85 e 86 do Tratado de Roma, de 25 de março de 1957, o Tribunal Europeu, em Luxemburgo, declarou cláusula não escrita aquela cláusula que impede a livre circulação dos atletas e, em especial (é o que interessa para o caso), a que estabeleça critérios em prejuízo do atleta para rescindir um contrato e jogar por outra associação.

No Brasil, em 1995, as relações trabalhistas entre clube e jogador eram ordenadas pela Lei do Passe. Submetido a um regime de servidão, ainda que não renovasse o contrato, o jogador era dependente do clube para transferir-se.

O simbolismo desse regime foi Djalma Dias, pai de Djalminha, um dos maiores zagueiros da história. O Palmeiras, para castigá-lo por não renovar o contrato, praticamente encerrou a sua carreira.

+ Leia as colunas de Augusto Mafuz no UmDois

Os efeitos do caso Bosman, e que exigiram a FIFA alterar a sua legislação, chegaram ao Brasil, em 1998, com a Lei Pelé. Só que o legislador brasileiro, influenciado pela “Bancada da Bola”,   estabeleceu um critério que é mantido até hoje: o valor da multa para transferência para o exterior não tem limite. O valor é imposto pelo clube, sem ter nenhum critério de referência.

Agora que a Fifa aceitou a decisão do caso Diarra, a “humanização” das multas irá repercutir nas legislações de todos os países, inclusive no Brasil. E a única forma de “humanizar” é dar ao jogador mais direitos que o clube para negociar uma transferência.

Para o futebol da América do Sul, em especial do Brasil e da Argentina, que são os maiores provedores de jovens do futebol europeu, será um desastre. Para o jogador e o seu empresário, uma festa.

E isso vai coincidir com essa época de constituição de SAF – Sociedade Anônima de Futebol.  Considerando que o interesse básico dessas sociedades é revelar jogador para vender, a mudança de lei com a limitação de valores para transferência vai tornar o negócio menos atraente.

Siga o UmDois Esportes

Veja também:
Athletico tem retrospecto positivo na Arena Joinville; relembre os jogos
Athletico tem retrospecto positivo na Arena Joinville; relembre os jogos
Coritiba "empresta" Couto Pereira para adversário mandar jogo na Série B
Coritiba "empresta" Couto Pereira para adversário mandar jogo na Série B
Time de ex-Paraná Clube elimina Cristiano Ronaldo da Champions Asiática
Time de ex-Paraná Clube elimina Cristiano Ronaldo da Champions Asiática
Ex-promessa do Coritiba vive boa fase e encara Athletico pela Copa do Brasil
Ex-promessa do Coritiba vive boa fase e encara Athletico pela Copa do Brasil

Augusto Mafuz é um dos comentaristas esportivos mais tradicionais de Curitiba, conhecido por sua cobertura do Athletico e outros times da capital. Nascido em Guarapuava em 11 de maio de 1949, Mafuz tem sido uma figura central no j...

twitter
+ Notícias sobre Augusto Mafuz
No Athletico, quando Petraglia vai assumir as suas culpas?
Augusto Mafuz

No Athletico, quando Petraglia vai assumir as suas culpas?

Thiago Zraik, um "Pescador de Amigos". Andou, andou, andou, e foi embora
Augusto Mafuz

Thiago Zraik, um "Pescador de Amigos". Andou, andou, andou, e foi embora

No balanço do Athletico, Petraglia manipula números com fatos
opinião

No balanço do Athletico, Petraglia manipula números com fatos

O caso Lassana Diarra e as consequências para o f...