Opinião

Sobrará lugar para jogar as cinzas do Paraná?

Paraná fez campanha pífia na Série B.

Na história do esporte, há um célebre obituário publicado pelo jornal inglês The Sporting Times, quando o poderoso e invencível time de críquete da Inglaterra foi derrotado pela Austrália, dando origem ao troféu denominado The Ashes (as cinzas): “Em memória afetuosa do críquete inglês, falecido no The Oval em 29 de 1882, profundamente lamentado por um amplo círculo de amigos e conhecidos. Descanse em praz. O corpo será cremado e as cinzas, levadas à Austrália”.

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Passados 139 anos, de dois em dois anos, Inglaterra e Austrália jogam uma partida amistosa, em que se disputa o troféu “The Ashes”, “As Cinzas”. O vencedor e os jogadores ganham uma réplica da urna mortuária, cuja original saiu apenas duas vezes de Londres. A pequena urna guarda cinzas de uma bola e de um taco. (Pesquisa, Folha de São Paulo, 11.3.2007, Caderno de Esportes).

No esporte em geral, mas, no futebol em especial, nenhum obituário tem data e lugar, porque nada é para a vida toda. Por ser sensível à paixão, o futebol se torna irresistível como valor. Pode até demorar um pouco, e pode não ser como era antes, mas, o “nosso time”, quase sempre recupera as suas cinzas.

O Paraná está rebaixado para a Terceira divisão, a Série C Nacional. Como seria o seu obituário? Resumido, seria assim:

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Da fusão de Colorado, Pinheiros, Britânia e Palestra, nasceu em 1989. Exibindo imóveis em todos os cantos, era anunciado por cartazes nas ruas de Curitiba como o “clube do ano 2000”. Seus fundadores vaidosos, apresentavam-se com “O Poder da Realização”. Exercendo esse poder no campo, foi ganhando títulos. No futebol paranaense, ganhou 1991, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997 e 2006. No futebol nacional, em três anos, alcançou o Brasileirão, ganhando o título da Segundona em 1992. 

Vivendo na ilusão dos títulos, foi sendo corrido pela sua própria gente. Dos imóveis que tinha, vendeu o Britânia por “trinta moedas”, perdeu o Palestra para INSS, perdeu o espaço das piscinas para os empregados, e agora, o que lhe resta é a posse sem domínio da Vila Olímpica, Vila Capanema e sede da Kennedy.

Entregando-se a dirigentes perdulários, e para isso, atropelando os paranistas de bem, está insolvente, não prestando a obrigação de pagar salários, provocando um drama social em várias famílias que um dia lá trabalharam, e hoje, ainda, trabalham.

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Já em estado de agonia, no dia 26 de janeiro de 2021, o Paraná foi a óbito por um tempo. Rebaixado para a Terceira divisão nacional, enterrado em dívidas e, entregue a bandos organizados de arquibancada, pode tornar a paixão do seu torcedor de bem vulnerável e ter escrita uma certidão de óbito com data e lugar da morte. Talvez, sem a Vila, sem a Olímpica e sem a Kennedy para jogar as suas cinzas”.

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