Marcelo Cirino não está no ataque do Athletico dos meus sonhos. Até quando meus sonhos forem sonhados, irão se revezar a lenda Jackson do Nascimento e os ídolos de vida: Buião, Sicupira e Nilson (1971-72), Capitão, Washington e Assis (82-83), Kleber Pereira e Alex Mineiro (2001), Marco Ruben e Pablo (2019) e, agora, Vitor Roque.

Só que os meus sonhos não têm a menor importância. O que importa, no caso, é que Marcelo Cirino entrou na história do Athletico real e dela nunca irá sair. Se rasgarem o livro, irá ficar no Athletico da memória. Criado, educado e formado no Caju, é atleticano da gema. Com o goleiro Santos, foi o símbolo do título da Copa do Brasil, em 2019, a maior conquista do Furacão depois do Brasileiro (2001).

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A memória se emociona ao recordar de fatos que ela já escolheu quando repousar. No Beira-Rio, o Athletico empatava com o Inter (1×1), mas os gaúchos precisavam ganhar. Então, já no final, uma bola foi para Cirino na esquerda. Bastava protegê-la para fazer o tempo correr, pois o empate era o bastante para o título. Mas, Cirino, carregando a benção divina dos predestinados, com um toque de calcanhar, jogou a bola entre as pernas de Edenílson. Daí, de frente, driblou mais um defensor, humilhando-o. Quebrando a defesa gaúcha, viu Rony e o lançou na área. Athletico 2×1, campeão da Copa do Brasil.

Um dia desses, por telefone, Marcelo Cirino foi mandado embora. O seu pecado foi ficar triste por ficar no banco contra o Flamengo. E por estar triste, não ir ao jantar depois da vitória.

Quer dizer: na interpretação do comando do futebol do Athletico, ficar triste por querer ajudar e não ter oportunidade, é pecado mortal. Esse é o resultado quando o comando é entregue para quem não tem respeito aos valores do Athletico, casos de Márcio Lara e Alexandre Mattos.

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Certa vez, em 1995, em viagem a Caruaru, quando fizemos as pazes que pareciam definitivas, Mario Celso Petraglia falou-me: “Mafuz, nós dois não cometemos pecado mortal”. Pela Bíblia, quis dizer que nós dois nunca perdemos o “estado de graça”.

Desconfiado, logo depois, encontrando um padre atleticano da novena do Bom Jesus, contei essa história. Ele me ensinou que o conceito de pecado mortal é ditado muito mais pela nossa consciência. Quando ela não pesa, o perdão é natural. De qualquer maneira, sempre que posso, confesso.

De 1995 até 2023, passaram-se 28 anos. Não sei se a consciência de Mario Celso continua formulando os mesmos conceitos do que é ou não um pecado mortal. Se for o mesmo daquele encontro vai absolver Cirino e salvar um simbolo do Furacão.

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